Gino Martins Borges Bastos
Falar sobre Dona Nina, para mim, é falar sobre uma bênção que Deus colocou em minha vida.
Meu primeiro contato com ela ocorreu em minha adolescência, quando ela formou um coral. Até hoje me recordo das frases que ela me ensinou a cantar: "BENDIREI AO SENHOR, BENDIREI AO SENHOR, SEU LOUVOR, PARA SEMPRE EM MEUS LÁBIOS!".
Em outro momento, que demonstra a sua personalidade combativa, me recordo de que, por ocasião de uma Festa de Agosto, uma gestão da administração pública municipal resolveu homenageá-la em uma solenidade. Dada a palavra à homenageada, Dona Nina, após agradecer a honraria, passou a criticar veementemente a própria administração pública, que havia rompido a cooperação técnica com a escola de música Levy de Aquino Xavier que dirigia, e retirado as bolsas de estudo de jovens pobres que estudavam na mesma. Suas palavras fortes ficaram ecoando no recinto, sem qualquer contestação.
Tempos depois, quando tive de assumir a direção do jornal "O Norte Fluminense", em 2011, após o falecimento de meu pai, Luciano Augusto Bastos, para manter a tradição familiar, Dona Nina foi a primeira personalidade que resolvi entrevistar. Minha identificação com ela, a partir de então, foi total, pois ambos éramos apaixonados por história, cultura e piano.
Passei, então, a frequentar, naturalmente, a casa de Dona Nina, e realizar outras entrevistas memoráveis.
Sempre foi para mim uma grata satisfação ir visitá-la, ouvir suas histórias e, ao final, ser brindado com suas músicas tocadas ao piano.
Em uma dessas entrevistas, tive o privilégio de poder filmá-la tocando as músicas que compôs. Elas estão disponíveis no YouTube, bastando teclar em "Dona Nina, a Pianista de Bom Jesus do Itabapoana" (https://youtu.be/an-gjwwK6-U?si=5tK7lc1iKw_Fm0Ga).
Dona Nina, certa vez, escreveu um texto, a meu pedido, sobre Padre Mello, que conheceu quando era adolescente. Segundo ela, quando tinha cerca de 15 anos, passou a tocar no órgão da Igreja. Padre Mello era músico e organista. Em uma ocasião, ela tocou um acorde errado, e Padre Mello, que estava de costas, virou para ela e apontou imediatamente o seu equívoco.
Segundo, ainda, Dona Nina, Padre Mello dizia que "a música religiosa é divina e tinha que ser ouvida com o coração". Padre Mello costumava afirmar, também, que considerava que eram parentes, já que tinham o mesmo sobrenome. Certa vez, o pároco açoriano disse a ela: "Acho que somos parentes. Vou estudar sobre isso".
Dona Nina pertenceu à 4ª. geração de pianistas. Sua bisavó materna, Georgina Medina Diniz, foi "a 1ª organista de Bom Jesus do Itabapoana". Carolina Diniz Freitas, a "Tia Salica", de quem teve lições de música, integrou a 2ª. geração. Conceição Diniz Mello, a "Tia Conceição", constituiu a 3ª. geração, enquanto a 4ª. geração foi composta pela própria Dona Nina e por sua irmã Yole Mello Teixeira. A 5ª. geração está representada por suas diletas sobrinhas Maria Bernadete Teixeira da Silva e Maria Aparecida Teixeira da Silva.
Ao final da minha primeira entrevista, intitulada "A Canção de Dona Nina", publicada na edição de 15 de julho de 2011 do jornal "O Norte Fluminense", ela se emocionou e deixou uma mensagem para as novas gerações: "Estudem sempre, sempre, sempre, e coloquem no seu íntimo a música, pois ela é divina".
Em seguida, levou-me à sala de piano onde interpretou algumas de suas lindas canções.
Em outra entrevista, ao final da mesma, ela levou-me para a área da casa reservada ao café, ligou a vitrola e colocou um disco de vinil autografado por Miguel Proença, um dos maiores pianistas do Brasil. Ele esteve em Bom Jesus, se apresentou no Colégio Zélia Gisner, e fez a seguinte dedicatória: "Para Nina, com o melhor abraço e o carinho de Miguel Proença. 31-7-1990".
Por ter tido a graça de ter Dona Nina em minha vida, sempre me observo cantando: "BENDIREI AO SENHOR, BENDIREI AO SENHOR, SEU LOUVOR, PARA SEMPRE EM MEUS LÁBIOS!"
❤
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