terça-feira, 24 de outubro de 2023

Discurso proferido pelo acadêmico Nivaldo Xavier Valinho, em nome dos ex-alunos, nas comemorações do 75° aniversário de fundação do Colégio Rio Branco – Bom Jesus do Itabapoana – 17/11/95



Nivaldo Xavier Valinho

 


 Senhoras e Senhores:

 “... HONRA E GLÓRIA...”


 Não foi sem motivos que a visão transcendental do Pe. Mello, destacou no Hino do Colégio Rio Branco a mensagem imperecível destes vocábulos: Honra e Glória.

  A força deste brado, tantas e tantas vezes entoado por nós, ultrapassou o tempo e nos acompanha vida afora.

 Honra, segundo Aurélio Buarque, é a homenagem à virtude, ao talento, à coragem, às boas ações; Glória, é a fama por ações extraordinárias, grandes serviços às letras, às artes, à cultura, etc.

 “HONRA E GLÓRIA”, pois, àqueles que ousaram, que tiveram talento e coragem, aqui fundando uma Escola dedicada à cultura, às letras, à educação. Uma escola que varou décadas e formou gerações de bonjesuenses, que sem ela, jamais poderiam ter tido as oportunidades que lhes foram concedidas.

 Nesta noite, meus amigos, é preciso que voltemos no tempo 75 anos atrás; imaginemos uma Bom Jesus daquela época: um punhado de casas; um pequeno grupo populacional; uma pequena comunidade sequiosa de independência, de maioridade e, convenhamos, só o talento e a coragem de uns poucos visionários, poderiam ensejar à nossa terra tão grande incentivo à cultura, às letras e à educação: a fundação de uma Escola que viria marcar indelevelmente as gerações futuras de Bom Jesus.

 O PROF. JOSÉ DA COSTA JÚNIOR, fundador do Colégio Rio Branco, acreditou no talento dos nossos jovens e na força comunitária de nossa gente e lançou a semente fecunda que o consagrou na História bonjesuense como benfeitor da cultura e da educação.

 Há alguns anos atrás, no cinquentenário do Rio Branco, o PROF. MÁRIO BITTENCOURT, seu segundo proprietário, destacava o pioneirismo do Colégio, que além de um ensino esmerado e invejável, desenvolveu atividades então inexistentes na maioria dos municípios fluminenses: a instalação de uma escola de datilografia e a criação de um Tiro de Guerra e mais, confiando na capacidade de seus mestres e no talento dos alunos, fez com que o Rio Branco se tornasse o primeiro colégio da região a receber uma Banca Examinadora do Departamento Nacional do Ensino, para avaliar os alunos com vistas ao seu ingresso no Colégio Pedro II.

 Despontaram nessa época, JOSÉ VIEIRA SERÓDIO, NAPOLEÃO TEIXEIRA, WALTER FIGUEIREDO, e vários outros, que brilharam nas escolas e Faculdades do Rio de Janeiro.

 Apesar de todos esses avanços, entretanto, a falta do reconhecimento oficial se tornava obstáculo respeitável ao progresso da Escola, mas não o bastante para esmorecer o ânimo de uma figura notável de Bom Jesus, o PROF. CARLOS MARQUES BRAMBILA.

 De secretário, após o professor JOSÉ CÔRTES COUTINHO passara a proprietário do Colégio, transformando-o em Ginásio oficializado, (uma proeza na época – 1936), mantendo regimes de internato e externato, ampliando a fama do educandário, fazendo-o abrigar alunos de vários Estados, atraídos pela excelência do ensino, que se constituía em valioso passaporte para os difíceis exames seletivos do Pedro II.

 Mas, a História do Colégio Rio Branco não se dissocia da História de Bom Jesus: os mesmos momentos de ousadia; iguais tormentos de crises, mas sem esmorecimentos porque amparados um e outro no que esta terra possui de mais singular, ante os demais rincões brasileiros: a força de sua comunidade.

 Bom Jesus possui esta virtude ímpar, que atravessa os tempos; seu povo sempre soube quando unir-se sob uma mesma bandeira, quando mais alto se descortina o interesse de todos.

 Deparando instransponíveis exigências do MEC nas altas taxas para os educandários reconhecidos o Rio Branco soçobrava, perdendo sua oficialização, mas logo encontrou amparo na sobrevida quando uma JUNTA INTERVENTORA, constituída pelos valorosos homens da comunidade, OLÍVIO BASTOS, JOSÉ DE OLIVEIRA BORGES (então Prefeito) e JOSÉ MANSUR, passou a administrá-lo, restabelecendo sua oficialização e garantindo sua continuidade, sempre mantida a qualidade de seu ensino.

 Iniciou-se aí uma administração duradoura, comandada por OLÍVIO BASTOS, e a era de uma Diretora que marcou a vida estudantil de gerações de bonjesuenses: MARIA DO CARMO BAPTISTA DE OLIVEIRA – a D. CARMITA.

 Tinham tudo para fracassar numa convivência profissional: ele, quase um lord, um inglês por formação, dada sua convivência com os construtores da estrada de ferro: discreto, paciente mas indomável; D. CARMITA, toda ímpeto, dedicação integral e diuturna ao Colégio: disciplinadora inflexível.

 Essa convivência, entretanto, varou décadas. “Seu Olívio” passou à história como o proprietário compreensivo e de grande visão administrativa. D. Carmita, soube adequar sua missão às diretrizes de Olivio Bastos, sem abdicar de sua forte personalidade e do temperamento dominador, que entretanto, visavam o progresso do Rio Branco e o futuro de seus alunos.

 Certo, porém, quanto a ela, que nenhum de nós, ex-alunos da geração D. Carmita, não consegue permanecer silente em qualquer sala daquela Casa sem perceber seus passos firmes ao longo dos corredores; ainda hoje, esta sensação ocorreu-me, na sentimental visita feita à antiga Escola.

 Reverenciamos a figura de D. CARMITA pelo tanto dedicou ao Colégio Rio Branco e ao nosso aprimoramento educacional.

 Sem a visão de futuro que ela inegavelmente possuía, quantas e quantas vezes me rebelei a cada “indicação voluntária” que me era feita para declamações, teatros, grupos de canto, monólogos, etc. etc. nas festivas reuniões do “Grêmio Humberto de Campos”, atividades que mais tarde me valeriam – e muito – na vida profissional a que a vocação me conduziu.

 Assim comigo, igual a tantos e tantos outros colegas.

 Possuía D. CARMITA o dom de descobrir em cada qual uma virtude às vezes oculta, que, trabalhada, se transformava numa qualidade desconhecida do próprio aluno.

 De seu turno, Sr. OLÍVIO BASTOS, consolidou o Colégio Rio Branco, deu-lhe pujança, renome, transformando-o num dos maiores colégios do Estado do Rio de Janeiro.

 Tamanho patrimônio e tantas tradições não poderiam ser entregues a mãos inábeis e nem transferidos senão a quem o igualasse no idealismo, no trabalho e no esforço de preservar, não um patrimônio familiar, mas um verdadeiro patrimônio bonjesuense.

 Por isso, há quase 40 anos o DR. LUCIANO AUGUSTO BASTOS vem conduzindo e mantendo o Colégio Rio Branco e só Deus, e seus familiares, e ele, sabem com que sacrifícios o faz.

 As transformações sócio-culturais que atingiram nossa juventude ao longo desse período, tornou a mais árdua de todas, a tarefa de que foi incumbido LUCIANO BASTOS.

 Qualquer outro não teria resistido ao cerco imobiliário, às tentações de mercado, não fosse um vocacionado, um idealista, um guardião fiel das quase centenárias tradições do RIO BRANCO.

 O êxodo para os grandes centros dos jovens bem aquinhoados; e o desesperado apelo dos menos favorecidos por uma matrícula menos onerosa, por certo têm sido o grande dilema deste Continuador.

 Inevitável o choque entre o empresário e o idealista; entre o homem-executivo e o homem-comunidade; entre o administrador e o mestre.

 Poucos teriam a fibra de LUCIANO BASTOS para manter viva a chama que aqueceu os ideais de COSTA JÚNIOR, de MÁRIO BITTENCOURT, de COSTA SOBRINHO, de CÔRTES COUTINHO, de MARQUES BRAMBILA e de OLIVIO BASTOS.

 No feliz dizer do Profª. Nisia Campos, LUCIANO pode ser visto “como um milenar cedro libanês que embora as intempéries, não tomba; sente as tempestades à sua volta, mas não se abala”.

 Dificilmente, sem ele, digo eu, poderíamos agora olhar daqui e encontrar aquele mesmo Rio Branco de nossa juventude, de nosso início, de nossa saudosa época estudantil.

 Justo, assim que felicitemos o Instituto de Letras e Artes "Dr José Ronaldo do Canto Cyrillo", os Poderes Legislativo e Executivo por esta iniciativa, de promover esta solenidade.

 Agradeço a fraternal imposição que me trouxe a falar em nome dos ex-alunos. Lembrou-me a escolha, às “indicações voluntárias” de D. CARMITA nos tempos-menino das reuniões do Grêmio. Confortou-me, porém, a honraria: daqueles bancos escolares saíram centenas e centenas de bonjesuenses hoje ilustres figuras no cenário nacional, que melhor poderiam ter vindo aqui dizer da nossa Escola.

 Não me move, portanto, falsa modéstia; sinto-me orgulhoso de ter sido o escolhido, porque palpita o coração de um ex-aluno e ex-professor que tanto deve ao Colégio, e que por falar de coração, sente-se à vontade para saudá-lo em nome de todos, de todas as gerações nesta comemoração que não é só do RIO BRANCO, mas de todo o Vale do Itabapoana.



Nota do jornal O Norte Fluminense: Nivaldo Xavier Valinho, Desembargador pelo Estado do Espírito Santo, ocupou a Cadeira nº 16, patronímica de Francisco Ribeiro (Pastor)

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