Pelo Prof. PhD. Marcio de Lima Pacheco
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
whatsapp: 11952831660
Na história do Brasil, sempre se destacaram grandes vultos que nos levam a refletir sobre a nossa existência e religiosidade. Um desses é o Padre Mello (1863, Açores – 1947, Brasil). Por ocasião do Dia de Finados, seguindo a Constituição Quod expensis, de 26 de agosto de 1748, do Papa Bento XIV, que permitia aos sacerdotes seculares a realização de três Missas pelos finados em Portugal e Espanha. Seguindo ainda, a Constituição Trans Oceanum, de 18 de abril de 1897, que estendia aquele privilégio a toda América Latina e a Constituição Incuentu, de 10 de agosto de 1915 de Bento XV que concedia a todos os sacerdotes do mundo o direito de poderem celebrar três missas, o Reverendíssimo padre em questão, escreveu, em uma carta ao Cônego Serpa de Florianópolis aos 05 de novembro de 1916 (carta n° 10): “A cada Sancta Missa que celebro percebo mais e mais que o Santo Sacrifício do altar é o céu já em terra, pois ali, adora-se o augustíssimo Sacramento” e completa: “no dia dois de novembro, como de costume rezei, diante do Santíssimo, a Matinas, Laudes, Prima e Tertia do Officium Defunctorum. Logo após, rezei as três Missas: A primeira, pelas intenções que guardo em meu coração. Sobretudo, por todos aqueles que auxiliei durante a vida em seu itinerário para a salvação. A segunda, por todos os fiéis defuntos e a terceira, segundo a intenção do Sumo Pontífice que nesse ano enfrenta grandes questões. Depois, desloquei-me ao cemitério para chorar com os que choram e consola-los, como nos ensina o Apóstolo. Por essas paragens, não a sossego, mesmo depois da morte. Vejo um grande desprezo do poder público e dos transeuntes diante do solo sagrado no qual repousam os restos mortaes dos que nos antecederam. Ao chegar aquele local, percebo a ironia e o descaso para com a paz da morte. Porém, como diz David: “Tudo será cinza fria”. Como de costume, nesse dia, desde o ano que aqui cheguei, segui às 3 horas da tarde para rezar junto ao túmulo do Reverendíssimo Padre João Mendes Ribeiro. Sinto-me indignado por tamanho menoscabo da população para com a figura daquele que tanto desgastou-se pela salvação das almas. Diante daquela sepultura, rezo por ele e por nós, para que quando chegue o nosso dia “Huic ergo parce, Deus: Pie Jesu Domine, dona eis réquiem. [...]Domine, miserere super isto pecatore”. (Tradução: Poupai-o Deus do Céu: Bom Senhor, Jesus Piedoso, Dai-lhes o eterno Repouso. Senhor, piedade sobre este pecador.).
O padre Mello fazia questão de seguir liturgicamente tudo que era referente aos Sacramentos, em particular, a assistência aos doentes e as exéquias, Acompanhava todos os sepultamentos da cidade e dizem que sua voz ecoava pelas ruas por onde passava o cortejo em uma prece que dava consolo aos corações dilacerados pela perda: In paradisum deducant te angeli, In tuo advento Suscipiant te martyres, Et perducant te In civitatem sanctam Jerusalem (Tradução: Que os anjos te conduzam ao paraíso; que os mártires te recebam em sua chegada e te conduzam à cidade santa de Jerusalém).
Para que todos se unissem em oração, para os que estavam perto de expirar e mortos, escreveu (Carta n° 03): “Já estão rotos os sobrepelizes e estolas que utilizo para acompanhar os funeraes [...] Fiz saber a todos a todos, que quando alguém estivesse preste a expirar e o padre fosse administrar os Sacramentos da Penitência, Comunhão e Extrema Unção, o sino da igreja deveria badalar sete lentas vezes, simbolizando as dores de Nossa Senhora e que todos deveriam pôr-se a rezar, por ele. Também recomendei que após o falecimento desse um sinal no sino, um para os menores de 07 a 14 anos. Para as mulheres dois sinais, breves e distintos; para os homens três; quatro para os clérigos não sacerdotes e cinco para os padres. Dever-se-ão dobrar os sinos a finados quando saírem das exéquias e do enterro”. Desta forma, vemos que esse dedicado Apóstolo Açoriano utilizava dos objetos para fazer que todos se unissem em oração, em especial, o sino paroquial. Portanto, todo aquele que ouvir os sinos de Bom Jesus de Itabapoana tem por dever escutar, refletir a história daquela terra, pois aqueles instrumentos tem por função: “ Convocar os vivos, congregar o clero, chorar os mortos, desfazer nuvens em chuva e destruir toda falsidade”.
Em dia de finados (1899)
Por António Francisco Mello
Ao lúgubre gemer do triste campanário
vi correr muita gente em grande romaria.
Morrera em cada olhar o raio de alegria
surgindo em cada fronte o aspecto funerário.
Segui a multidão e entrei no cemitério,
vi grupos em redor de túmulos silentes,
vi rosas desfolhar e lágrimas ardentes
quaes pérolas, cair por sobre o chão funéreo.
Além do sublime quadro! Um velho venerando
vai com vagar abrindo a envelhecida urna,
ajoelha e contempla a ossada taciturna
e, mistérios do amor!... Beija-a de vez em quando.
Depois ao céu erguendo os olhos com piedade
balbucia uma prece. Era a crença divina
que, vendo na ossada um palácio em ruína,
buscava o morador além na eternidade!
Nenhum comentário:
Postar um comentário