terça-feira, 30 de dezembro de 2025

20 de dezembro de 2003: o grande dia do xadrez em Bom Jesus do Norte

 O Papel do Clube de Xadrez na Formação Cultural de Bom Jesus do Norte

José Ronaldo Mascarenhas, Gino Martins Borges Bastos, Reynaldo Vera, Grande Mestre Internacional de Xadrez cubano, Major Enio Nascimento dos Reis e Thiago Teixeira, no antigo Colégio Estadual Horácio Plínio

 O Xadrez como Patrimônio Cultural de Bom Jesus do Norte

Foi em 20 de dezembro de 2003, há 22 anos, que a pequena Bom Jesus do Norte viveu um daqueles instantes raros em que o tempo parece parar para fazer história. Naquele dia, os enxadristas bonjesuenses José Ronaldo Mascarenhas, Gino Martins Borges Bastos, Major Ênio Nascimento dos Reis e Thiago Teixeira reuniram-se no antigo Colégio Estadual Horácio Plínio para receber um visitante ilustre: o Grande Mestre Internacional de Xadrez cubano Reynaldo Vera.

Era a primeira vez que a região recebia um Grande Mestre Internacional. Vera ministrou uma conferência e protagonizou uma simultânea, enfrentando 20 enxadristas ao mesmo tempo, num espetáculo silencioso em que cada movimento carregava séculos de tradição.

A fotografia daquele encontro, recentemente resgatada, lança nova luz sobre a história enxadrística da região e revela mais do que rostos: revela um tempo, uma vocação e um sonho coletivo.

José Ronaldo Mascarenhas trazia no currículo o feito de campeão olímpico de xadrez na década de 1970. No Brasil daquela época, despontava um gênio que encantava multidões: Henrique Mecking, o Mequinho, que chegou a ser o terceiro melhor enxadrista do mundo. Seu nome foi ovacionado no Maracanã, algo impensável hoje, antes de uma partida de xadrez. Foi nesse ambiente de fascínio que Gino iniciou sua trajetória, ao ganhar de Natal o então célebre “Jogo do Mequinho”.

Thiago Teixeira, formado no tabuleiro por José Ronaldo, tornou-se um dos mais fortes enxadristas da região. Já o Major Ênio transformou sua residência em Bom Jesus do Norte em um verdadeiro clube informal de xadrez, onde ideias, partidas e amizades se cruzavam.

No cenário mundial, o xadrez havia sido marcado pela façanha de Robert Fischer, que quebrou a hegemonia soviética ao conquistar o título mundial. Ao mesmo tempo, a escola cubana consolidava-se como uma das mais respeitadas do planeta, tendo em José Raúl Capablanca o único campeão mundial oriundo da América Latina.

O ano de 2003 também assistia ao surgimento de uma nova era. Um garoto norueguês de 12 para 13 anos, chamado Magnus Carlsen, começava a chamar a atenção do mundo ao conquistar o título de Mestre Internacional (MI). Décadas depois, tornar-se-ia múltiplo campeão mundial e um dos maiores nomes da história do xadrez.

Outro documento histórico, igualmente recuperado, registra a fundação do Clube de Xadrez de Bom Jesus do Norte, em 30 de abril de 1996, que se aproxima de seus 30 anos. Gino Martins Borges Bastos foi o primeiro presidente. A diretoria reunia nomes como José Ronaldo Mascarenhas, Major Ênio Nascimento dos Reis, seu filho Coronel Ênio Chaves dos Reis e Jorge Wilson da Rocha, várias vezes campeão estadual capixaba.

O xadrez em Bom Jesus do Norte, portanto, não é episódio: é trajetória.

O evento de 20 de dezembro de 2003 possui um simbolismo profundo. Naquele dia, a pequena cidade do sul do Espírito Santo concentrou, em um único espaço, não apenas a história do xadrez, mas um facho da própria história do mundo, que segue em movimento até hoje.

Atualmente, o xadrez integra a matriz curricular do município. O já glorioso Clube de Xadrez de Bom Jesus do Norte funciona na Biblioteca Romeu Couto e na Casa de Cultura, sendo administrado com competência pelo professor Fábio Sousa Vargas, que já pode celebrar o surgimento de uma nova geração de enxadristas na região.

Já se disse que não existem caminhos prontos: o caminho se faz caminhando.

O Clube de Xadrez de Bom Jesus do Norte, que conta entre seus ilustres frequentadores e apoiadores com Tino Marcos, o maior jornalista esportivo brasileiro de todos os tempos, pode hoje olhar para trás com orgulho e mirar o futuro, 2026, com esperança firme.

Em 1905, o Padre Antônio Francisco de Mello, o Padre Mello, escreveu com lucidez:

“Avivar a memória dos fatos que abrilhantam a história de um povo é estimular as gerações presentes à conquista das glórias futuras.”

As glórias futuras, ao que tudo indica, já começaram a chegar.

Clube de Xadrez de Bom Jesus do Norte foi fundado em 30 de abril de 1996


Tino Marcos, o maior jornalista esportivo brasileiro de todos os tempos, é frequentador e apoiador do Clube de Xadrez de Bom Jesus do Norte, CXBN








 


 


 



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