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| Adalto Boechat Júnior |
Montei um grupo na praça de Pirapetinga.
Assim, simples.
Um chamado manso para a gente se unir num Café da Manhã Natalino.
Confesso: achei que não ia dar em nada.
Deu.
E sobrou.
A mesa nasceu grande, comprida como abraço antigo, farta de bolos, frutas e outras delícias que não vinham só das mãos, mas do coração da comunidade.
Foi bonito de ver.
Foi bonito de viver.
Desejamos bom Natal, felicidade, saúde e muita paz.
Muita.
Porque paz é bem precioso, e desses que não se compra, se cultiva.
E faço questão de registrar, em letra maiúscula da alma:
até as 12 horas, fim do nosso café,
ZERO bebida alcoólica na praça.
Como na cantata.
Sem esse café, a essa mesma hora as mesas já estariam tomadas por beberrões, a praça suja, o chão ferido.
Quando acabou o café, não teve gari.
Não precisou.
Os próprios participantes limparam tudo.
Como quem cuida do que é seu.
Eu não faço isso por vaidade.
Faço porque vi meu irmão, lindo, jovem,
estirado, morto, em plena praça pública.
E vi outros dois corpos,
não na praça, mas nos portões de casa,
ou na beira da água.
Foram três mortes.
Por coisas bobas.
Mínimas.
Um tiro porque o som estava alto.
Outro, sete tiros, porque amou quem não devia aos olhos de quem estava drogado e bêbado.
Outro, uma facada por causa de um peixe.
Tudo jovem.
Tudo evitável.
Tudo sob efeito do álcool, e talvez de algo mais.
Uma vida tem muito valor.
E se eu puder fazer de tudo para que nenhum corpo a mais caia nem na praça nem nos portões de casa, eu vou pedir.
Vou montar grupo.
Vou pedir pra cada um levar um bolo, um pão, uma caixa de som, uma música.
Sou um grão de areia nesse universo.
Mas sou da descendência de Moisés.
E farei o que puder para conduzir meu povo a uma terra melhor, com a ajuda de Deus.
No Ano Novo, a gente pensa em voltar pra praça.
Montar uma ceia.
O padre Francisco entrou na nossa.
Vamos fazer um mesão de novo.
Arroz, strogonoff, refrigerante.
E comprar umas quatro caixas de fogos.
Será a primeira queima de fogos de Ano Novo em Pirapetinga.
Começaremos pequenos: quatro caixinhas.
Quem sabe, um dia, a gente não faz uma linda no Museu da Imagem.
Por ora, basta a praça limpa, a mesa cheia, e ninguém morto.

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