sábado, 27 de dezembro de 2025

Chiragazunga: Memórias da casa do Major Ênio

 

Gino Martins Borges Bastos

Em minha juventude, frequentei muito a casa do casal Major Ênio e dona Nilda, em Bom Jesus do Norte. Juntamente com seus filhos,  Eninho, Lea, Brígida e Anatólia, formavam uma segunda família, sentimento que permanece até hoje.

Major Ênio era uma figura única, repleta de sabedoria, acompanhada de fino humor, expresso por gestos e palavras de intensa humanidade. Seus feitos não cabem numa crônica. Mas vamos por partes.

Certa vez, ouvi-o exclamar uma palavra diferente:

- Chiragazunga!

Em outras ocasiões, a exclamação vinha reforçada pela repetição do sufixo:

- Chiragazunga, zunga, zunga!

O que significava?

Tratava-se de uma interjeição usada para expressar uma emoção de alegria, assim como a palavra “caramba”, também empregada para manifestar emoções intensas.

Quando me tornei professor de Física, passei a usar a palavra “Chiragazunga” em sala de aula como introdução ao desenvolvimento da capacidade crítica dos alunos. Eu os convidava a imaginar uma sociedade em que todos afirmavam, categoricamente, que “Chiragazunga” era muito bom, uma verdadeira maravilha.

Até que alguém resolvia perguntar:

- O que é Chiragazunga?

Essa pergunta causava um desconforto geral, pois ninguém sabia o significado da palavra. Todos repetiam uma suposta verdade sem consciência crítica. Repetiam porque sempre se afirmara assim.

Acompanhando essa introdução teórica, eu realizava experimentos relativamente simples que demonstravam como o senso comum costuma ser construído de forma irregular e acrítica.

A casa do Major Ênio foi um verdadeiro Centro Educacional, Cultural e Humano, que certamente caberá na descrição de outras crônicas.






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