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| Antônio Risério |
Antônio Risério é daqueles intelectuais que não cabem em prateleiras fáceis. Poeta, antropólogo, ensaísta e pensador público, construiu uma obra marcada pela recusa das simplificações, ideológicas, identitárias ou acadêmicas. Seu pensamento exige fôlego, leitura atenta e, sobretudo, disposição para o dissenso.
Vindo da poesia concreta e profundamente influenciado pela cultura afro-baiana, Risério nunca separou estética de pensamento. Para ele, o Brasil não é um problema a ser resolvido por fórmulas importadas, mas um processo histórico complexo, mestiço, contraditório e criativo. Sua atenção às matrizes africanas da cultura brasileira não se traduz em folclore nem em essencialismo: trata-se de compreender como essas matrizes dialogam com outras tradições na construção de uma civilização singular nos trópicos.
Como antropólogo, Risério enfrenta temas sensíveis, raça, etnia, identidade, violência, política cultural, com uma postura crítica que frequentemente incomoda. Ele rejeita tanto o negacionismo histórico quanto o moralismo simplificador. Em seus textos, a denúncia do racismo convive com a crítica às leituras racializadas que aprisionam o indivíduo em categorias rígidas, como se a experiência humana pudesse ser reduzida a marcadores únicos.
Risério pensa o Brasil como um campo de forças simbólicas, onde linguagem, música, religião e poder se entrelaçam. Por isso, seus ensaios atravessam o candomblé, a literatura, a história urbana, a arquitetura, a política e a cultura pop, sempre com rigor intelectual e independência de pensamento. Não escreve para agradar tribos, mas para provocar reflexão.
Em tempos de polarização ruidosa, Antônio Risério ocupa um lugar raro: o do intelectual que não abdica da complexidade. Sua obra lembra que pensar é, antes de tudo, resistir à tentação do pensamento fácil. E que compreender o Brasil exige mais escuta do que slogans, mais história do que certezas, mais cultura do que dogma.
Ler Risério é aceitar o desconforto como método. É entender que o Brasil não se explica em linhas retas, mas em encruzilhadas.

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