Do Atlântico soprou um canto antigo,
das encostas da Terceira, em Ribeirinha,
onde nasceu Francisco, em luz e abrigo,
filho do mar, da fé e da família.
Treze irmãos, pão repartido,
voz de mãe, labor de pai,
e o Bom Jesus, sempre sentido,
como farol que nunca cai.
Veio o tempo da travessia,
janeiro abriu-se em despedida:
Portugal ficou em poesia,
o Brasil tornou-se nova vida.
No Rio plantou seus passos,
na lavoura fez raiz,
e em Casemiro de Abreu, em laços,
fez do trabalho um dom feliz.
Mas nunca calou o canto açoriano:
na Casa dos Açores, irmão e guia,
na Tertúlia, fez-se humano
o som da memória e da alegria.
Quando cantou sua oração,
feito hino ao Bom Jesus amado,
foi o céu em comunhão
tocando um povo abençoado.
Poeta, cantor, memorialista,
voz que reza e coração que escreve,
herdeiro do Padre Melo, artista
que à cultura dá alma e neve.
No Natal, sua estrela é clara:
Espírito Santo em procissão,
Açores, Brasil, Bom Jesus,
três nomes num só coração.
Que o Menino Deus lhe seja abrigo,
como foi o mar em seu partir;
e que a fé, canto antigo,
continue a nos reunir.

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