terça-feira, 2 de junho de 2015

CRÕNICA E POESIA SOBRE A DAMA DA NOITE




Numa das noites de final de verão em 1978, sentada na calçada da porta da sala da nossa casa, sobre a luz fosca de um poste da rua, eu lia Machado de Assis (Dom Casmurro), livro emprestado pela minha professora de Literatura, Reginalda Carreiro. De repente um perfume incrível tomou conta do ambiente, a concentração na leitura fez-me pensar que vinha das páginas do livro. Minha avó, que observava-me cheirando o livro, perguntou:  - Que cheiro tem o livro?  - Não sei explicar, sinto que é um perfume raro, e perguntei a ela se sentia o aroma. Minha avó sorriu e disse: - Não é o livro, o perfume vem lá de casa da Dama da Noite do meu jardim. Minha avó olhou-me com tristeza,  completou dizendo: - É uma flor linda com perfume intenso que só se abre durante a noite, exala seu aroma, enfeita a madrugada, mas morre ao amanhecer. Eu logo pensei, nem sempre é triste ter uma vida limitada, quando se deixa a sua marca, a sua essência e inspira a escrever poesia, um registro do belo que ficou. Foi assim que a Dama da Noite perfumou os meus versos, as duas primeiras estrofes. Hoje, depois de ler a matéria em O Norte Fluminense, deu-me vontade de acrescentar mais alguns versos. Obrigada por me fazer relembrar desse acontecimento.

DAMA DA NOITE
Show imperdível das noites de verão
A lua te cobre de vida
Teu perfume sopra ao vento, agradecida
Por uma noite de intenso viver
Dama da Noite formosa, cheirosa
Espetáculo divino, fonte de amor por natureza
O teu brilho ofusca o nosso olhar
Branca mimosa entrelaçando o breu da noite
Saudando a lua, pelo eterno momento de felicidade
Flor da lua, jasmim da noite, cacto orquídea.
Todas entram em cena no mesmo horário
No primeiro e único desabrochar
Em peças majestosas conduzidas pela natureza
Um único ato de intenso prazer
Lançam ao vento inexplicável aroma
Misteriosamente fecham para o mundo ao amanhecer
No momento que são abraçadas pela luz do sol
Deitadas aos pés do palco encerram o ciclo
Que será atuado em um novo tempo
Depois do fechar da cortina das tardes de verão,
Por outras figuras que necessitam florescer.
Assim, as Damas saem de cena, apesar da dor
Na noite seguinte o espetáculo tem de acontecer.
Maria Beatriz Silva

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