Por Gino Martins Borges Bastos
Época de festa tem de tudo. Ou, pelo menos, parece ter, talvez não mais que em outros tempos, mas, nessas ocasiões, as histórias ganham luz, porque a proximidade dos eventos aproxima também os relatos. E como seria uma crônica sem eles? Vamos a alguns.
Numa comemoração em uma casa, havia alegria no ar e bandejas sobre a mesa. Entre os convidados, um sujeito prevenido trouxe uma mochila e, dentro dela, uma sacola, que, discretamente, foi se enchendo de salgadinhos e fatias de bolo. Talvez fosse previdência; talvez, gula. Ou, quem sabe, um gesto solidário com a fome futura.
Noutra esquina da cidade, uma moradora se queixava: “Sempre que abro a janela, vejo um carro de funerária estacionado na minha porta”. E havia um peso na voz, como se aquele veículo trouxesse não apenas a lembrança da morte, mas a sensação de que ela estava fazendo plantão ali, à espreita.
Uma escritora, ao receber a notícia de que seria homenageada, sorriu. Mas o sorriso não durou muito: logo foi informada de que, para receber tal honra, teria que pagar pela mesa no dia da festa. Entre a glória e a fatura, a poesia se escondeu.
O candidato a vereador derrotado ainda ruminava a campanha perdida. Jurava que seus eleitores tinham vendido o voto por duzentos e trinta reais. Parecia inconformado não tanto com a derrota, mas com o valor.
Em uma aprazível cafeteria, presenciei o que talvez tenha sido o diálogo político mais conciso da temporada: um bolsonarista e um petista trocando apenas uma palavra por vez.
-Fascista!, disse o petista, educadamente.
- Comunista!, respondeu o bolsonarista, com igual cortesia.
Seguiu-se:
-Genocida!
-Marxista!
Depois as frases cresceram:
-Traidor da Pátria!
-Deus acima de tudo!
Não soube como terminou. O café esfriou, a conta chegou e eu tinha compromisso.
Festa é isso: um banquete de encontros. De alegria e de dor. De lembranças e homenagens. E, nesta festa, minha memória é puxada para um nome querido: Dr. Reginaldo Teixeira Chalhoub, amigo que me abriu as portas do mundo da crônica e que partiu no dia 12 de agosto. Deixo aqui estas mal traçadas linhas, expressão que batiza o seu grande livro de crônicas como quem acende uma vela na janela da palavra.
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