quinta-feira, 14 de agosto de 2025

O retorno da poesia à praça

                                        Por Gino Martins Borges Bastos 

Pelo que me recordo, a primeira poesia que pousou na Praça Governador Portela tinha a autoria delicada de Vera Maria Viana Borges. Chamava-se Pau-Ferro, e ficava ali, impressa num pedestal de metal, próximo à árvore centenária plantada pelo açoriano Padre Antônio Francisco de Mello, em 1922, para marcar o centenário da Independência do Brasil.

Eu me lembro quando li aqueles versos pela primeira vez, e me parecia natural que a praça tivesse poesia, como se ela fosse parte do seu próprio mobiliário, tanto quanto os bancos de cimento.

Mas veio uma reforma, dessas que alteram mais que a paisagem, e o pedestal sumiu. Ninguém soube dizer para onde. Talvez, pensei, estivesse guardado em alguma repartição pública ou tenha ido parar num ferro-velho, junto a peças sem nome. Simbolicamente, foi mais que uma perda física: era a negação de um gesto, a mutilação silenciosa de nossa história poética.

Em 2011, ao visitar Vera para realizar uma entrevista, perguntei pelo destino do monumento. Ela não sabia. Vi em seus olhos um véu de tristeza, e, com suavidade, pediu-me que não tocasse mais no assunto. Obedeci.

Foram muitos anos sem versos na praça. Mas no 13 de agosto de 2025, eles voltaram, e retornaram em dose dupla.

O retorno veio gravado no Monumento ao Imigrante Açoriano do Vale do Itabapoana, inaugurado durante as comemorações do Dia Municipal do Imigrante Açoriano. A praça, órfã de poesia por tanto tempo, voltou a abrigar palavras que respiram sentimentos, emoções, e convidam à reflexão sobre a vida e o mundo.

São versos de dois açorianos ilustres: Padre Mello e Manuel Ferreira Duarte, escolha sugerida pelo talento generoso de Dr. Nino Moreira Seródio, açordescendente e presidente da CAES, Casa dos Açores do Espírito Santo, entidade que doou a obra à municipalidade. Sua sugestão foi aceita.

E assim, a Praça Governador Portela reafirma seu papel histórico e cultural, como marco da identidade da cidade. O próprio nome remete ao governador Francisco Portela, responsável por nossa primeira emancipação, consumada em 25 de dezembro de 1890.

Hoje, poesia, história e fé se entrelaçam ali, em reverência aos antepassados e com esperança no futuro.

Nossa praça voltou a ter versos. E quem passa por ela talvez nem saiba que não estão ali apenas para enfeitar, estão para lembrar que palavras, quando gravadas na pedra, gravam também a alma de uma cidade.
















Nenhum comentário:

Postar um comentário