domingo, 17 de fevereiro de 2013


ÁRVORE CENTENÁRIA É DERRUBADA EM CALHEIROS


De nada adiantou a irresignação do escritor e poeta José Luiz Carreiro, do distrito de Calheiros, e sua luta pela preservação da centenária árvore conhecida como Árvore Criminosa. Alegando impossibilidade de recuperação da árvore, que estaria comprometida, com risco de queda, a prefeitura derrubou-a. Veja como era a Árvore Criminosa na matéria de O Norte Fluminense publicada em http://onortefluminense.blogspot.com.br/2012/03/arvore-criminosa.html














LAMENTO DE UMA ÁRVORE

José Luiz Carreiro, Calheiros, 15/06/2012 



Há um século e meio ou mais
Nasci às margens do Rio Preto
Rio Itabapoana nos tempos atuais

Vi morrerem muitas amigas minhas
Pela ganância, orgulho e egoísmo humanos
Que na ignorância de buscarem o progresso
Cometeram retrocesso e um grande engano

Mas parece que o desenvolvimento
Não desenvolve a mente do homem
Vê-se a era das grandes tecnologias
A televisão gritando a cada dia
Sobre a preservação da natureza
Mas a ignorância de nossas
Cabeças não somem

Eu vi seu bisavô crescer, o seu avô nascer
E suspirar pela vinda de seus pais
Vi e ouvi o suspiro de amor de um casal
Presenciei a felicidade de um casamento
O que é normal, vi você nascer

Com muita singeleza e carinho
Veio ficar perto de mim
Produzo o seu oxigênio
A sombra nos dias de sol causticante
Mostro a beleza dos horizontes
E você está querendo o meu fim

Me trocam por construção
Que um pedreiro pode fazer em um ano ou seis meses
Mas não sabe em quantas vezes
Um homem leva para me construir
Não sei mais do meu futuro
É um passo que estou dando no escuro
Mas imploro a vocês
Pensem mil e mais mil outras vezes
Antes de me destruirem

Você que veio todo feliz
Morar perto de mim
Mas, enfim, tem medo
Isso é notável, mas queria
Meu amigo ou minha amiga
Lembrar-lhe que não sou um produto descartável

Quem me construiu é o maior engenheiro do mundo
Levou séculos para me modelar
Faço parte desta linda natureza
Que o homem polido, mas com certa rudeza,
Quer destruir em um segundo
Posso até estar lhe perturbando
Seus interesses atrapalhando
Mas não faz como vocês dizem
Que sou velha ranzinza e desnecessária
Lembre-se que sou muito antiga
Nunca você vai ver o que já vi
Sentir o que senti
Pois sou uma centenária

Sou inspiração para namorados
Que ficam na minha sombra a sonhar
Casa para passarinhos
Que aqui fazem seus ninhos
Nas manhãzinhas gostam de gorjear
Continuo sendo inspiração para fantasias
Canto e poesia
No verso e na prosa
Sou sua amiga querida
Quem ajuda na luta pela sua vida
Para seus antepassados e até hoje
Sou a sua árvore, conhecida como Árvore Criminosa
Deixem-me viver!

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