Por Hideraldo Montenegro
Como o uso exagerado das redes sociais, mais especificamente o
Facebook, tem interferido nas relações entre as pessoas e como estas
relações tem causado alterações e quais seus efeitos na sociedade? Em
que, basicamente, se apoia o Facebook para atrair e manter as pessoas
dependentes do seu uso?
Não é difícil traçar um perfil da maioria dos usuários do Facebook.
As razões aparentes podem ser diversas para o seu acesso contínuo. Desde
a simples diversão, como para comunicar-se, divulgar ideias, na
divulgação de criação de projetos literários, na exposição de ideais
políticos e religiosos e, até mesmo, encontros com objetivos sexuais.
Contudo, mesmo que uma parte dos usuários seja atraída para essa rede
com esses objetivos, a maioria o faz impulsionada pela autoafirmação.
Diremos que a principal motivação de acesso ao Facebook é a
autoafirmação. É aquilo que estar por trás da força de atração da
própria rede e a dependência que cria nas pessoas. Ou seja, o seu grande
poder para criar um vínculo constante em seus usuários.
Por que podemos concluir e afirmar que a principal motivação do uso
de redes sociais, como o Facebook, ocorre em virtude da autoafirmação?
Não é difícil constatar, através das postagens da maioria absoluta dos
usuários, a confirmação desse fato. Óbvio que essa motivação tem um
conteúdo psicológico e, portanto, merece uma delicada e profunda
avaliação. Mas, não é difícil entender o impulso que faz as pessoas
postarem fotos exageradamente (de todo tipo e de vários momentos). O que
deseja uma pessoa provocar nas outras, quando posta uma foto,
principalmente em situações muito particulares, como estar numa praia
bebendo, almoçando num restaurante, posando de biquíni ou sunga e, até
mesmo, a foto da própria comida?
O que vemos no Facebook é uma caricatura, com objetivos evidentes de
distorcer a própria realidade em que vive a maioria das pessoas que o
usam. Nessa rede, todos são bonitos(as), bem-sucedidos(as), sábios,
inteligentes, bem informados(as), etc. Nela, deparamo-nos com outra
realidade; uma realidade mascarada, onde não há pobreza, restrições
intelectuais, etc. É um mundo mágico, onde todos podem converter-se ou
converter sua realidade num sonho idealizado. Fundamentalmente, no
Facebook, a maioria tenta vender uma imagem de poderoso(a), esperto(a),
atraente, “descolado(a)”. Não é à toa, que nessa rede, ideias alienantes
encontrem tanta repercussão e adesão. O meio é propício e fértil para
isso. Afinal, é um universo mágico, em que a realidade é alterada, sem,
no entanto, alterar a realidade. Há uma “criação” de uma realidade, mas
não a alteração da realidade, porque nessa rede tudo se transforma numa
realidade virtual e, podemos deduzir, isso já supre as deficiências
sociais que os usuários encontram em seu universo real. O fato é que o
mergulho nessa realidade virtual tem gerado uma falta de interação mais
constante entre as pessoas. Não é difícil assistirmos usuários alheios
ao mundo à sua volta porque estão acessando essa rede e vivendo-a como
se nada mais existisse. Diversas reportagens já foram realizadas,
flagrando pessoas acessando a rede na hora de um confraterno encontro
para almoço, num ponto de ônibus, etc, confirmando a alienação em que a
maioria dos usuários dessa rede vive.
Conseguimos compreender porque a maioria do povo brasileiro se tornou
usuário e dependente dessa rede, pois, afinal, a qualidade de vida que
esse povo leva é “compensada” por uma “vida virtual” que o envolve numa
magia criadora e transformadora que não encontra em seu mundo real. Ali,
ele tem, supostamente, a liberdade de levantar a voz; de construir suas
teorias políticas e espirituais; de bradar seu inconformismo com
ferocidade; de ser bravo e respeitado, sem saber, no entanto, que essa
pseudodemocracia desse meio eletrônico é uma farsa, montada para criar
nele a ilusão de que realmente é uma pessoa que tem algum valor civil,
já que sua cidadania quase sempre é desconsiderada e, sente-se
impotente, incapaz, desprezado e humilhado pela estrutura social em que
ver-se inserido. No Facebook, as pessoas são “adicionadas”; fazem parte
de uma grande malha de inter-relacionamentos; sentem-se existentes. E,
nada mais gratificante ou mais cativante do que sentir-se valorizado. É
justamente esse “valor” que a maioria das pessoas não encontra em sua
convivência social mais direta.
Quando uma pessoa está acessando o Facebook, por exemplo, tem a falsa
sensação de que foi “adicionada” socialmente, que encontrou sua
identidade social. Sente-se, afinal, que pertence a um grupo e que tem
algum valor nele. Sua voz é ouvida e, na maioria das vezes, respeitada.
E, o que supostamente mensura a sua voz são as “curtidas”. Cada
“curtida” tem uma repercussão, naquele que fez alguma postagem,
resgatando a sua autoestima através do sentimento de uma valorização
social, que poucas vezes encontra em seu próprio meio de convívio
direto.
Mas, até aonde isso tem interferido e contribuído para modificar a
nossa sociedade? Mais recentemente assistimos mobilizações populares
serem provocadas e realizadas a partir dessa rede social. O poder que,
através dela, se tem para divulgar e provocar reações nas pessoas é
considerável e merece, realmente, atenção. Porém, até o momento só
verificamos reações mais conservadoras e, até mais reacionárias. Isso é
significativo e um indicativo que o poder de manipular tem encontrado um
eco preocupante nessa rede social. Evidentemente, que isso aponta para a
essência daquilo que está sendo manipulado, o ego dos usuários. É muito
mais fácil estimular pessoas que estão vivendo um processo de
alienação, pois, a realidade, naquele meio, também é manipulada. A
alienação só fortalece a desinformação e vice-versa. E, a desinformação
profunda a respeito da dinâmica e motivação de nossas estruturas
políticas por parte da maioria dos usuários, tem servido de campo para
criar adesão nos mais desavisados. Imaginam que estão oferecendo-lhes
opções e oportunidades melhores, quando estão apenas sendo usados.
Podemos constatar isso quando lemos uma informação intencionalmente
distorcida e que, no entanto, encontra rápida cooptação nos usuários.
O estudo e a pesquisa que se pode realizar nesse meio é fácil de ser
efetuado, pois, ele oferece um painel muito claro para chegarmos a uma
conclusão bem fundamentada a respeito das motivações e efeitos nos seus
usuários e a influência tem nas atitudes individuais e coletivas.