Luciano Rezende |
Um colega professor, em tom de desabafo, me alertou que
enquanto a missão de formação for exclusiva da escola e ficar sobre os ombros
dos professores, seguiremos nesta inglória luta de Davi versus Golias. Em
outras palavras, enquanto a escola consegue “educar” uma pessoa, a Globo e suas
congêneres “deseducam” dez.
Claro que essa conversa foi totalmente informal e sem os
requintes epistemológicos que os termos merecem. A formação, no caso, é aquela
no sentido amplo, capaz de desenvolver cidadãos plenos para além de suas
habilidades técnicas; e o ato educativo como sendo uma obra libertária, crítica
e transformadora do cidadão.
É nesse sentido que, sobretudo a TV brasileira poderia
dar uma enorme contribuição. Documentários temáticos, séries educativas,
debates com pesquisadores, entrevistas e outros tantos instrumentos poderosos
na elevação do nível cultural e intelectual do povo são cada vez mais raros. Em
seus lugares, toma espaço uma programação, como dizia Paulo Freire, “alicerçada
nos princípios de dominação, de domesticação e alienação”.
Como incentivar uma cultura de paz se os canais disputam
entre si quem exibe mais sangue? Como promover um ambiente democrático se a
mídia só projeta uma visão dos fatos? Como patrocinar a igualdade se a
programação é quase toda voltada para um público invariavelmente jovem,
masculino, branco e morador da região sudeste do país?
Essa é a nossa escola de fascismo. É essa escola cuja
colação de grau de seus alunos está ocorrendo quase todos os dias nas ruas do
Brasil em que o paraninfo é Sérgio Moro, o homenageado é o Bolsonaro e a aula
da saudade ministrada por práticas de selvageria por setores da Polícia. Os
oradores são muitos, mas com o mesmo conteúdo: o ódio de classe.
Portanto, não se assustem com “cidadãos” armados de
porretes literalmente caçando petistas.
Lembra
quando o Jornal Nacional há exatos dez anos execrava da vida pública uma
deputada petista pelo simples fato de a mesma ter comemorado uma votação e
ficar batizada como a “dança da pizza”, enquanto o deputado Osmar Serraglio era
louvado pela condução da CPMI e amparado por sua comemoração em que era carregado
nos braços da direita em pleno plenário?
Lembra
quando a mídia fez a cobertura em tempo real das prisões de José Genoíno e José
Dirceu, dando destaque nas páginas policiais e julgando ela própria dois
“aloprados” e “chefes de quadrilha” do PT, enquanto mantiveram Pimenta da Veiga
e Eduardo Azeredo como dois desconhecidos da população brasileira?
Lembra
quando os grandes meios de comunicação vitimizaram um pobre de um caseiro que
teve seu sigilo bancário quebrado e exposto um depósito de 50 mil reais que
caíra em sua conta alguns dias antes de o mesmo ter divulgado ter visto o
ex-ministro Palocci freqüentando uma mansão que seria usada por lobistas,
enquanto agora louva o grampo ilegal do juiz Sérgio Moro contra ninguém menos
que a Presidenta da Nação?
Pois
bem, a fatura está vindo agora e quem paga esse preço é a frágil democracia
brasileira. O festival de horrores que estamos vendo nas manifestações que
tomam as ruas de diversas cidades brasileiras pedindo a volta dos militares,
espancando quem veste vermelho e atentando contra as sedes dos partidos de
esquerda e sindicatos, são apenas alguns exemplos de como funciona essa máquina
de formar fascistas em nosso país.
Luciano Rezende é professor do IFF (Instituto Federal Fluminense), Campus de Bom Jesus do Itabapoana (RJ)
Luciano Rezende é professor do IFF (Instituto Federal Fluminense), Campus de Bom Jesus do Itabapoana (RJ)
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