sexta-feira, 18 de março de 2016

Uma escola de fascismo



Luciano Rezende




            Um colega professor, em tom de desabafo, me alertou que enquanto a missão de formação for exclusiva da escola e ficar sobre os ombros dos professores, seguiremos nesta inglória luta de Davi versus Golias. Em outras palavras, enquanto a escola consegue “educar” uma pessoa, a Globo e suas congêneres “deseducam” dez.

         Claro que essa conversa foi totalmente informal e sem os requintes epistemológicos que os termos merecem. A formação, no caso, é aquela no sentido amplo, capaz de desenvolver cidadãos plenos para além de suas habilidades técnicas; e o ato educativo como sendo uma obra libertária, crítica e transformadora do cidadão.

            É nesse sentido que, sobretudo a TV brasileira poderia dar uma enorme contribuição. Documentários temáticos, séries educativas, debates com pesquisadores, entrevistas e outros tantos instrumentos poderosos na elevação do nível cultural e intelectual do povo são cada vez mais raros. Em seus lugares, toma espaço uma programação, como dizia Paulo Freire, “alicerçada nos princípios de dominação, de domesticação e alienação”.

               Como incentivar uma cultura de paz se os canais disputam entre si quem exibe mais sangue? Como promover um ambiente democrático se a mídia só projeta uma visão dos fatos? Como patrocinar a igualdade se a programação é quase toda voltada para um público invariavelmente jovem, masculino, branco e morador da região sudeste do país?

            Essa é a nossa escola de fascismo. É essa escola cuja colação de grau de seus alunos está ocorrendo quase todos os dias nas ruas do Brasil em que o paraninfo é Sérgio Moro, o homenageado é o Bolsonaro e a aula da saudade ministrada por práticas de selvageria por setores da Polícia. Os oradores são muitos, mas com o mesmo conteúdo: o ódio de classe.

        Portanto, não se assustem com “cidadãos” armados de porretes literalmente caçando petistas.

    Lembra quando o Jornal Nacional há exatos dez anos execrava da vida pública uma deputada petista pelo simples fato de a mesma ter comemorado uma votação e ficar batizada como a “dança da pizza”, enquanto o deputado Osmar Serraglio era louvado pela condução da CPMI e amparado por sua comemoração em que era carregado nos braços da direita em pleno plenário?

      Lembra quando a mídia fez a cobertura em tempo real das prisões de José Genoíno e José Dirceu, dando destaque nas páginas policiais e julgando ela própria dois “aloprados” e “chefes de quadrilha” do PT, enquanto mantiveram Pimenta da Veiga e Eduardo Azeredo como dois desconhecidos da população brasileira?

   Lembra quando os grandes meios de comunicação vitimizaram um pobre de um caseiro que teve seu sigilo bancário quebrado e exposto um depósito de 50 mil reais que caíra em sua conta alguns dias antes de o mesmo ter divulgado ter visto o ex-ministro Palocci freqüentando uma mansão que seria usada por lobistas, enquanto agora louva o grampo ilegal do juiz Sérgio Moro contra ninguém menos que a Presidenta da Nação?

      Pois bem, a fatura está vindo agora e quem paga esse preço é a frágil democracia brasileira. O festival de horrores que estamos vendo nas manifestações que tomam as ruas de diversas cidades brasileiras pedindo a volta dos militares, espancando quem veste vermelho e atentando contra as sedes dos partidos de esquerda e sindicatos, são apenas alguns exemplos de como funciona essa máquina de formar fascistas em nosso país.


Luciano Rezende é professor do IFF (Instituto Federal Fluminense), Campus de Bom Jesus do Itabapoana (RJ)

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