segunda-feira, 7 de março de 2016

A lição de Dona Maura



"Fé e Vida" é uma das obras importantes que compõem a Biblioteca Comunitária do Centro Cultural Maria Beatriz (CCMB)




Maura Garcia de Freitas Goulart é nascida em 14 de Junho de 1930, em  Laje do Muriaé - RJ ( Distrito de Itaperuna na época), filha de Mariano de Araújo Freitas e Margarida Garcia Freitas.

Cursou até a 5ª série em Miracema (RJ) no Colégio  Ferreira da Luz.

Aos 17 anos, já sentia a grande necessidade de ensinar por conta própria. Assim, mesmo sem nomeação, iniciou o seu trabalho de ensinar  na Lajinha, zona rural de Laje do Muriaé, então distrito de Itaperuna.  Concluiu o Ginásio (6ª a 8ª série) no período de 11 meses pelo Projeto Minerva. Segundo dona Maura, não era difícil ensinar porque "passava para os alunos o que  aprendia com os livros".

Em 1949, aos 19 anos, submeteu-se a um concurso público pela Prefeitura de Itaperuna, recebendo nomeação e passando a trabalhar como professora leiga,  ainda na Lajinha,  alfabetizando  em turma mista até a 3ª série. Posteriormente, foi transferida para o Barro Branco, zona rural de Laje do Muriaé. Impossibilitada de assumir a atividade na escola devido à dificuldade de transporte, teve que tirar licença especial, ficando afastada da sala de aula por 2 anos.

Com a emancipação do município de Laje do Muriaé, em 1962,  houve um movimento que pretendia acabar com a escola municipal. Dona Maura lutou, contudo, para que isso não ocorresse, visto que muitas crianças e jovens do município necessitavam ser alfabetizados. A luta de Maura Garcia foi vitoriosa e, assim, continuou trabalhando na escola municipal. Ocorre que, ao retornar para a escola, constatou que não havia local onde pudesse ensinar. Assim,  disponibilizou um cômodo de sua casa para continuar a alfabetização.

Em 1964, a prefeitura se prontificou em construir uma escola municipal na cidade, embora não houvesse um local para isso. Dona Maura doou o terreno ao lado de sua residência, onde foi construida a Escola Municipal Santos Dumont.

Após a construção da mesma, o educandário enfrentou dificuldades porque nessa escola não havia água  e nem local para fazer a merenda das crianças. Sem medir esforços, ela carregava água de sua casa para as necessidades da escola e fazia também em sua casa a merenda escolar.

Em 1975, para continuar a ensinar, passou a ser obrigatório que o professor tivesse o curso normal.  Mais um desafio que essa mulher guerreira. Pelo amor ao ensino, contudo, venceu mais uma vez. Concluiu o normal em 1977 no Colégio Municipal Maestro Masini em Laje do Muriaé. Entre os seus professores constavam sua filha e seu  genro. Tão logo se formou, fez o concurso pelo Estado, sendo aprovada, e iniciando imediatamente suas atividades. Foram 53 anos de ensino. Aposentou-se com 31 anos de trabalho pela Prefeitura Municipal, dedicando-se, a partir daí, a escrever poemas.   

Em comemoração aos seus 70 anos e o fim de sua jornada de trabalho, suas filhas Marilena, Tânia e Silvana, surpreenderam-na com o lançamento do livro com seus poemas,  intitulado "Fé e Vida" que foi por elas prefaciado, nos seguintes termos:


Apresentação

        Reunimos neste livro os escritos de nossa mãe que, vislumbrando o fim de uma longa jornada de trabalho dedicada ao ensino – nada menos que 53 anos, sentiu o impulso de escrever poemas e, como ela mesmo diz no seu verso, “agora não vai mais parar...”
          Seus versos, ricos de ensinamentos e simples como ela mesma, revelam sua sensibilidade diante de fatos corriqueiros do dia-a-dia e, ainda, o seu desejo de ver compartilhada sua emoção, comiseração, amor, surpresas e amarguras da vida. São pequenas quadras de esperança e desolação, sempre marcadas pelo seu forte espírito religioso que faz dela uma pessoa forte e serena, severa e bondosa, confiante e feliz!
          Em sua vida marcada por lutas e sacrifícios, nunca perdeu a fé e a esperança – sentimentos que marcam seus versos.
       Deus que te enriqueceu com tantos dons, continue te abençoando.

            Obrigada, mãe, por esse belo presente!
                          
                          Marilena, Tânia e Silvana.
          
          Laje do Muriaé (RJ), 14 de Junho de 2000.

Segue um poema da mestra, extraído do livro "Fé e Vida".



TEMPO QUE SE VAI

De repente
o tempo passou
e não percebi.
Hoje vejo
que a vida foi dura.
Não tive tempo
para leitura.

Que engraçado! Vejo agora!
Lendo mais  sobre uma autora
senti vontade de imitá-la
a ser também uma escritora.

Vejo-me envolvida com poemas
de nossos poetas locais.
Comececei  escrever versos
e agora não paro mais...


 

3 comentários:

  1. Parabéns dona Maura pelo seu esforço em alfabetizar os alunos, uma lição para os estudantes de todas as idades.

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  2. Que dona Maura, realmente, não pare mais de poetar...
    Exemplo de mulher dedicada, ativa e guerreira.
    ensina, mas muitos aprenderão não a alfabetização, mas liçoes de vida.
    Parabéns.... E muita saúde...
    Beijos.

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  3. Uma das coisas belas no universo é a gente poder escrever, poetar, levar para o papel nossos pensamentos mais belos! Parabéns.

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