terça-feira, 18 de outubro de 2022

"Flores para Amália", pelo Dr Reginaldo Teixeira Chalhoub

 

Dr Reginaldo Teixeira Chalhoub, ao lado do marco da praça Amália Teixeira Chalhoub - sua mãe - e, ao fundo, o sobrado onde funcionou a Escola Bom Jesus, por ela dirigida


"O tempo passa depressa, rápido demais! O poeta disse que a vida é "um sopro de Deus para vir e um sopro do tempo para ir"; e o humorista arremata dizendo que "o tempo passa, o tempo voa, vamos todos viver numa boa".

Lá se vão perto de oito anos que o jornal "O Norte Fluminense " e o bravo doutor Gino Bastos entregavam solenemente à nossa população, restaurada e bonita, a nova fachada do centenário prédio construído por meu avô, o Capitão Teixeira. E festejava conosco!

A comemoração tinha também a intenção de lembrar que naquele sobrado residia com a família o seu construtor, o bondoso boticário, o homem caridoso que, naquela época, atendia, com dedicação e carinho, os enfermos pobres da cidade e dos arredores, sendo por isso muito respeitado e estimado pela gente do lugar. Era o Capitão Teixeira, pai de Napoleão e de Amália Teixeira.

Napoleão formou-se e ganhou o mundo com seu talento e inteligência. Mas tinha criado raízes aqui. Por isso, mesmo de longe, jamais se desligou de Bom Jesus, que sempre amou, divulgou e enalteceu.

Foi homem de imensa cultura: médico psiquiatra, catedrático em duas faculdades da Universidade Federal do Paraná, jornalista, escritor, autor de inúmeros livros. Conferencista disputado, falava e escrevia em 11 idiomas e era internacionalmente conhecido. É nome de rua em Bom Jesus do Itabapoana, que assim o homenageou.

Amália, a filha do Capitão e irmã do Napoleão, foi minha mãe. No dia da apresentação da renovada fachada, seu nome também foi lembrado e exaltado; e flores foram trazidas e depositadas neste marco, nesta praça. Ela teria gostado, porque também era rosa. Amália Rosa, nome primeiro que lhe deu seu pai.

Os mais velhos gostam de falar de coisas passadas. E eu não sou exceção. - Relembro com saudade o dia 14 de agosto de 1953. Era Festa de Agosto e eu um garoto de 16 anos. - Autoridades e outras pessoas ilustres da comunidade aqui se reuniram para a reinauguração deste logradouro - chamado praça da Liberdade - que passaria a ser denominada Praça Profa. Amália Teixeira Chalhoub. Toda a cidade havia sido convidada para a solenidade: panfletos impressos na tipografia do senhor José Tarouquela tinham sido fartamente distribuídos.

Os filhos estavam ali para agradecer. Eu e minha querida e saudosa irmã Aparecida, ela então com 13 anos; ambos encarapitados num pequeno palanque armado naquela calçada. Menino ainda, metido num terno, eu tremia assustado pelo discurso que teria de fazer, para agradecer a homenagem de Bom Jesus à nossa falecida mãe. Embora nervoso, consegui dar o recado.

Hoje, espremendo a memória, consigo rever importantes presenças aqui na pracinha. Gente ilustre da ocasião, como o Prefeito Gauthier Figueiredo; o Secretário do Interior e Justiça do Estado, Roberto Teixeira Silveira; o vereador Francisco Figueiredo, autor do projeto que deu nome à praça; o jornalista Ésio Martins Bastos; o então deputado estadual Dr. José Vieira Seródio; o advogado e professor Dr. Deusdedith Tinoco de Rezende; o poeta e jornalista Athos Fernandes e o Dr. José Maron, advogado, ex-aluno da homenageada e orador oficial da solenidade.

Também outras pessoas de relevo que, todavia, o tempo se encarregou de escondê-las de minha memória. Não dá para esquecer é dos meus tios, meus primos, alguns amigos e de gente do povo que passava. Era 14 de agosto, festa na cidade. -  Para nós, familiares, tudo foi muito importante, bonito e comovente. Jamais me esquecerei das lágrimas que rolaram pelo rosto do meu querido pai Elias Chalhoub, apaixonado esposo da Amália.

Pois bem. Eu não conheci a minha mãe. Quando ela se foi eu era uma criança de três anos. Hoje, olhando cá de cima, do alto dos meus quase oitenta e seis anos de idade, constato que Amália, ao morrer, também era uma criança, uma menina.

E agora eu preciso, eu devo falar alguma coisa sobre ela mas falar o quê? Sobre Amália Teixeira todos já falaram antes. E disseram tudo. - "Espírito fino, brilhante, vibrante; apaixonado pelo belo. Sempre a estudar, a ler. Lia o bom, porque o mau livro é planta daninha, que envenena o espírito, polui a alma, intoxica a mente e arruína a vida".

Ah, sim, Amália cultivava a música, "no piano sublimava-se muitas vezes. Não foi uma "virtuose", nem queria ser; mas fazia do piano um amigo e confidente ". - São palavras do Napoleão, que não me envergonho de repetir, porque me enchem de orgulho.

Queria ser professora. E o foi. Para tanto, empenhou-se a fundo, estudou com afinco, enfrentou severas bancas examinadoras em Belo Horizonte e no Pedro II, do Rio de Janeiro, sempre aprovada com distinção. - Depois veio a sua escola, neste sobrado aqui do lado, para realizar seu sonho de ensinar e de educar os pequeninos.

"Se eu não fosse Imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências juvenis e preparar os homens de amanhã" - palavras de Dom Pedro II. O que Amália fez, e fez bem. Muitos são os que, realizados em diversos setores da vida, podem atestá-lo. Sementes que ela plantou, germinaram, cresceram, floresceram, frutificaram. Eis-me, de novo, a repetir palavras alheias.

Pelas suas mãos, pelo seu amor e pela sua paciência passaram inúmeros bonjesuenses. - Enumerá-los não devo e, claro, não posso. - Para ela todos foram muito importantes. Para mim, todos o são. - Como é bom encontrar ainda, vivos e saudáveis, pessoas admiráveis como Apparecida Dutra Viestel, Michel Salim Saad e Jean Namen Chalhoub, todos ex-alunos da Escola Bom Jesus.

Embora nascida em São José do Calçado, Amália era uma bonjesuense de coração; amava esta terra, tinha carinho imenso por Bom Jesus, cidade que considerava como sua, como se fora o lugar em que nasceu.

Amália Teixeira, depois Amália Teixeira Chalhoub, não se limitava ao magistério. De espírito destemido, vibrante e combativo, escreveu crônicas e artigos vigorosos em favor da educação e das melhores condições de vida para a população menos afortunada. Preocupou-se com os destinos do Brasil e lutou por isso. Foi uma patriota. - E tudo que escreveu ela o fez sempre sob o pseudônimo de Rosen, a rosa que trazia no nome.

Quando ainda bem moça, Amália ganhou de presente de seu irmão, um álbum, no qual imaginou colecionar lembranças e autógrafos de intelectuais, de pessoas famosas e de pessoas estimadas de sua época. - Nesse pequeno álbum, que eu guardo com o maior carinho, estão vários sonetos, autógrafos e mensagens de amigos e de admiradores, palavras que atestam e comprovam o quanto ela era admirada e querida, como se destacava na sociedade de então.

Para abrir o álbum, Amália pensou em convidar alguém que, desde o início, pudesse valorizar o seu "livro de ouro", alguém que lhe desse peso e substância; e que também estimulasse outros a nele deixarem marcada a sua presença. Foi então que se lembrou do seu amigo Padre Mello, convidando-o a fazê-lo. Seria ele o primeiro a colocar ali o seu nome, com um autógrafo ou uma mensagem. E o padre saiu-se com essa:

" Querias, então, Amália,/ que neste lindo canteiro,/a primeira flor plantasse/ quem nunca foi jardineiro?/ - Não eu, mas outros, Amália,/ outros teus admiradores;/ que quem de flores cogita,/ bem há de entender de flores,/ - Eu cá por mim me limito/ a dar-te um conselho amigo:/ Cuidado com certas flores/ que trazem vermes consigo!"

Meus amigos, agradar a Amália Teixeira - que sinto estar presente neste momento - e enaltecer-lhe a figura, basta lembrar que ela foi Professora. E que hoje é dia 15 de outubro, Dia Nacional do Professor.

Dia de dar parabéns aos mestres, felicitá-los pela valiosa e inestimável tarefa que exercem; um trabalho executado com amor, dedicação, abnegação e desprendimento. E também para desejar a esses debitados operários da árdua lida de ensinar que o fruto desse incomensurável esforço seja reconhecido, exaltado e condizentemente remunerado.

Porque o professor é personagem vital em nossa vida. Todos nós tivemos professores. Desde aqueles que apenas sabem ler e escrever até os doutores notáveis e os luminares, ganhadores de um Prêmio Nobel, todos tivemos professores. Todos.

Ensinar é arte, é vocação e é divino. Jesus nos ensinou. Ensinar também é aprender duas vezes, diz a sabedoria antiga. E Cora Coralina, a admirável poetisa goiana, nos diz que "feliz é aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina".

Amália foi feliz sendo professora! E eu sou feliz por ser seu filho e também por ser professor. - E que felicidade ter mãe, tio, irmãs, primos e primas todos professores, todos exercendo o mister de ser uma "ponte para o conhecimento" e "uma letra pequenina para escrever a história do futuro".

Vou me servir deste momento, perdoem, para destacar, dentre todos os excelentes mestres que tive no transcurso da minha longa vida estudantil, desde o antigo Grupo Escolar Pereira Passos até a universidade, um bonjesuense, um ex-aluno de Amália Teixeira, um insigne professor que me deu a mão, guiou-me e me orientou nos mais difíceis tempos de minha mocidade e que, confiante e corajosamente, certo dia me colocou, ainda um universitário, diante da primeira turma de alunos, na minha primeira sala de aulas.

Esse cidadão é o advogado, o mestre latinista, o Professor, Doutor Michel Salim Saad, meu querido primo que, pela vez primeira e em público, tenho a chance de agradecer e, com todo o meu respeito, render-lhe a minha homenagem, no Dia do Professor.

Tenho certeza absoluta de que sua tia, a professora Amália Teixeira, aprovaria "in totum" esse meu atrevimento.

Obrigado a todos".


Professora Amália Teixeira Chalhoub e alunas

Professora Amália Teixeira Chalhoub e alunos 




Dr Reginaldo Teixeira Chalhoub e sua esposa Vera  Lucia Soldati Chalhoub 


Homenagem à professora Amália Teixeira Chalhoub, no dia 15 de outubro de 2022








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