sexta-feira, 9 de março de 2012

A FRANÇA BONJESUENSE

Catharina Carrereth Alves nasceu no dia 21/11/1932, no Sítio da Fortaleza, antigamente conhecido como "Fortaleza dos Franceses". É neta dos franceses Jean Pierre Carrereth e Catherine Carrereth, que chegaram em Bom Jesus do Itabapoana (RJ) e ali se estabeleceram por volta do ano de 1907.

Haroldinho e Catharina, à frente da Casa Santa Catarina

Catharina é filha de José Antonio Carrereth e da espanhola Rosa Rodrigues Carrereth. Seu pai, como todos os seus tios, nasceram no " Sítio da Fortaleza". Casou-se com Haroldo de Lima Alves, o Haroldo Sapateiro, nascido no dia 17/08/1925, em Iuru, atual Ponte José Carlos, distrito de Apiacá (ES). Segundo ela, quem realizou o casamento civil "foi o Dr. Octacílio de Aquino,que possuía um Cartório nos fundos da Igreja e era muito amigo de meu pai".

São 60 anos de casamento, com 9 filhos e 15 netos.

Haroldo chegou a trabalhar na roça, em Iuru. Depois, passou a trabalhar com arreios, no estabelecimento de José Urbano, que fabricava selas e possuía um empreendimento onde hoje está localizada a Casa Itaperuna. Foi ali que Haroldo se tornou aprendiz de selaria. Posteriormente, passou a ser artesão e, finalmente, sapateiro. Haroldo costumava comprar material para seu ofício em Campos dos Goytacazes (RJ). Resolveu, então, estabalecer a "Sapataria do Haroldo" no antigo bairro Volta d'Areia. Como os filhos estudavam no Colégio Rio Branco, Catharina e Haroldo desejavam que os filhos morassem próximo do educandário. Por este motivo, nos idos de 1933 trocaram a propriedade por uma localizada no atual endereço, na Avenida Abreu Lima, n. 213, demolindo uma casa velha e edificando a que hoje ali se encontra, assim como a "Casa de Couros Santa Catharina".

Haroldo, Catharina, Cecília e Regina, na residência da família


Haroldo foi liguista e até hoje integra o Coral Santa Rita de Cássia da Igreja Católica, mesmo estando com o "mal de Alzheimer". Quando perguntamos a Haroldo sobre os fatos relevantes do passado, ele se detém, se emociona e exclama: "Muita coisa boa! Tempo bom que não volta mais!", momento em que algumas lágrimas passam a correr pelo rosto.

Rosália Maria Alves de Melo, filha do casal, se lembra da época em que mudaram de endereço:" Toda a tarde passava boiada pela rua e os bois acabavam derrubando a cerca, entrando na casa e até no quarto. Eu morria de medo, mas papai nem ligava e dizia: 'Deixa o boi passar!' ". Outro fato recordado por Rosália, refere-se ao tempo em que tinha 17 anos de idade. Surgira a possibilidade de participar do Projeto Rondon e ir para a Amazônia. "Fui pedir à mamãe, que respondeu: 'Vá pedir a seu pai', apostando que papai não permitiria a viagem. Mas papai acabou respondendo: 'Vá, minha filha, porque você não terá outra oportunidade de aprender!'. Foram 30 dias no Amazonas, em Tefé e em Maroã, na divisa com a Bolívia. Foi a melhor coisa que fiz na vida. Cresci muito e essa experiência fez com que, depois, eu estimulasse meu filho Pedro Henrique a ir para a Dinamarca".

Rosália com seus filhos Rodrigo(E), administrador de empresas, e Pedro Henrique, cirurgião dentista, e seu marido João Batista, cirurgião dentista, atualmente residentes em Juiz de Fora (MG)



Catharina, por sua vez, se recorda que o comércio que estabeleceram fora o primeiro naquela rua. Nas décadas de 70 e 80 passou a ocorrer, contudo, "concorrência desleal e ficou difícil a qualidade e competitividade", desabafa Haroldo Carrereth Alves, o Haroldinho, que comanda a loja, sob a liderança eficaz de sua mãe.

"Tradição e fidelidade é o que tem mantido a loja durante todos estes anos. Nosso freguês é fiel. Na década de 70, papai queria ir para Belo Horizonte. Ele queria vender 'curtume' por lá, porque viu um colega prosperar nesta área. Mamãe não queria ir, porque a família já estava estabelecida em Bom Jesus. Acabou prevalecendo a vontade de mamãe", complementa Rosália.

"Tio Zé (José Carrereth), irmão de mamãe, era uma pessoa extraordinária e foi quem ajudou a criar os filhos. Outros irmãos estiveram na 2a. Guerra Mundial e teriam sido presos pelos alemães, segundo relatava tio Zé". Por este motivo, "ele se deslocou para a França, para ajudar a cuidar de crianças da família que ficaram meio desamparadas", conta Rosália.

Segundo ainda Rosália, seu avô, José Antonio Carrereth, foi afilhado de Padre Mello. Posteriormente, Padre Francisco ajudou a criar a família. "Todos fomos criados dentro da Igreja do Pe. Francisco. Obediência e fé era o lema. Isso tudo foi muito positivo para a criação de nossa familia".


O papa Pio XII concedeu a Bênção Apostólica a Haroldo e sua família


Rosália assinalou, outrossim, que o vínculo com os franceses permanece até hoje: " Já recebemos visitas de parentes da família Carrereth que moram na França, e mantemos contatos frequentes com eles, através da internet. Alguns dos parentes franceses moram em Gourrette, no sul da França, e em Oloron- Santa Marie. Nâo temos, contudo, contato com parentes da Espanha, embora seja um desejo nosso resgatar isso".

ESPANHA

Catharina se recorda dos avós espanhóis, que vieram para Bom Jesus nos idos de 1914: " Vieram vovô Jesus, vovó Ramona e os tios Maria, Rosa e Ramona. Genaro veio por último. Tio Genaro estabeleceu uma olaria em uma região do Bairro Pimentel Marques e passou a fabricar tijolos. Tia Rosa acabou casando com tio José Antonio, enquanto a tia Maria, irmã de tia Rosa, casou com tio João, irmão do tio José Antonio. Duas irmãs espanholas casaram-se em Bom Jesus do Itabapona, portanto, com dois irmãos descendentes de franceses".

A olaria mencionada por Catharina funcionou onde atualmente está localizado o galpão da Secretaria Municipal de Obras, não havendo mais vestigio da mesma.

Onde hoje está instalado o galpão da Secretaria Municipal de Obras, funcionou uma olaria dirigida pelo espanhol Genaro


Dos nove filhos, dois são falecidos: Haroldinho, Regina (filhos: Márcio e Marcos), Reginaldo (filhos: Caline e Gabriel), Rosa (falecida, filhos: Clarissa e Cecília), Rosália ( filhos: Pedro e Rodrigo), Rodolfo (filhos: Juliano e Anderson), Romero (filhos: Oneida, Haroldo e Mirela), Ramona e Rônei (falecido, filhos: Daiane e João Vítor).

Haroldo, Catharina, Rosa, Regina, Reginaldo, Rosália, Rodolfo, Romero,Ramona, Haroldo e Rônei, em foto de 1994.


Catharina se emociona quando se recorda dos filhos Rosa e Rônei. Busca uma receita escrita por Rosa, assim como um quadro pintado por ela. Lê, ainda, uma mensagem deixada por Rônei, quando o mesmo se tratava contra câncer: "Mãe, é na paz com o nosso pai que encontramos o combustível para sustentar nossa alma, para a glória eterna que tanto desejamos (26/11/1995)".

Rônei faleceu no dia 16/05/1998, com 30 anos e se estivesse vivo, estaria orgulhoso com a notícia de que Daiane, sua filha, com 19 anos de idade, foi aprovada para o curso de Jornalismo, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, e para o curso de Direito, na Universidade Federal de Juiz de Fora. Por outro lado, o outro filho, João Vítor, "está feliz estudando no Colégio das Irmãs", diz Catharina.

Ao final da entrevista, Haroldo deixa uma mensagem para as novas gerações: "sinceridade", enquanto Catharina exclama: "honestidade, temor a Deus."


MARIA CARRERETH ARAÚJO


Maria Carrrereth Araújo, dona Mariinha, por sua vez, é "prima-irmã de Catharina" e também nasceu no Sítio da Fortaleza, no dia 03 de junho de 1930. "Todos os Carrereth nasceram lá", diz Mariinha. A reportagem de O NORTE FLUMINENSE levou-a até a região onde nasceu, e onde está instalado atualmente o "FERJACK", uma área de lazer, com Pousada, Restaurante, Espaço para Shows e Pesque e Pague, pertencente a Sérgio Carrereth, que deu o nome ao empreendimento em homenagem a suas filhas Fernanda e Jackeline.

Área do Sítio da Fortaleza, onde havia uma residência, na qual nasceram Mariinha e suas irmãs

O Ferjack está estabelecido na França Bonjesuense

Lá, ela se recordou da casa, próxima ao rio, onde nasceu. A residência não existe mais. "Nesta casa, além de mim, nasceram minhas irmãs Hilda, Odete e Nair. Na outra casa, nasceram Wilson, Catharina, Maria José, Tonico e João Pedro. Recordo-me dos dias felizes que passei em minha infância até os 16 anos de idade, quando eu me casei. Adorava os animais. Eu montava cavalo. Lembro, até hoje, quando eu montei certa vez um cavalo, levando o Wilson, que por sua vez se agarrava na Catharina, na montaria".

Mariinha, com a funcioária Ariana (E) e Geane, casada com Sérgio Carrereth, com sua filha Maria Valentina, de 2 anos e 8 meses de idade.


Mariinha casou-se com Cleveland Castro Araújo, o "seu Crivinho". "Foi o Padre Mello quem fez meu casamento no sítio", diz ela. Dona Mariinha possui 3 filhos. Viúva, mora em Bom Jesus do Norte (ES), com uma neta, ajudando a tomar conta de duas bisnetas. Ela vendeu a parte que lhe cabia na herança da área dos "Franceses", onde hoje está localizado o "Acqua Park", e investiu na atual casa que foi dividida em duas, alugando uma delas para ajudar no sustento da casa.

Repentinamente, uma frase escapa de seus lábios: "não tive nada na vida", não conseguindo evitar as lágrimas.

Se Villegagnon foi o francês que procurou estabelecer a França Antártica no Rio de Janeiro, em 1555, foram Jean Pierre Carrereth e Catherine Carrereth os franceses que estabeleceram em Bom Jesus do Itabapoana, em 1907, a França Bonjesuense.

Um comentário:

  1. Muito orgulho dessa minha família querida! A Vó Catharina e todos os Carrereth merecem essa homenagem... Vô Haroldo, um exemplo a seguir na vida! Amo vc Família! Mesmo longe e sem tempo por causa do trabalho levo vocês sempre no meu coração.

    Anderson.
    Vila Velha - ES

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