“Algo
muito grave vai acontecer...”
Por Luciano
Rezende*
Há
um conto do escritor colombiano Gabriel García Márquez que ilustra bem o atual momento
de pessimismo alardeado pelas vozes oposicionistas ao atual governo. A obra de
ficção se chama “Algo muy grave va a
suceder en este pueblo” (Algo muito grave vai acontecer nesse povoado).
A
narrativa começa com um pressentimento de uma velha senhora que, ao acordar
numa manhã qualquer, tem a súbita impressão de que algo muito grave vai ocorrer
em seu povoado. Seus filhos riem dela, chamam-na de louca, mas depois, meio
cabreiros, começam a levar a sério o prognóstico da mãe. Ao comentarem com
outras pessoas, mais gente vai acreditando no prenúncio da desgraça que
inevitavelmente se abaterá sobre aquela gente que, até o momento, vivia em
harmonia. No final, toda a vila é abandonada por temor dessa premonição vir a
se concretizar e os mais desesperados chegam a atear fogo em suas próprias
casas. Vendo a vila em chamas, a velha fala aos filhos: “Viram? Eu disse que
algo muito grave ia acontecer, e me chamaram de louca”.
Por
mais inverossímil que essa estória possa parecer, recentemente assistimos algo
similar, na vida real. A boataria de que o programa Bolsa Família iria terminar,
organizada por criminosos, fez milhares de brasileiros correrem aos bancos,
desesperados, para sacarem seus proventos. Pelas redes sociais – onde a
informação é disseminada em escala alucinante -, a onda de pessimismo vem
ganhando ainda mais evidência, com tempestades sendo noticiadas a todo o
momento, mesmo em céu de brigadeiro.
O
Brasil tem sua inflação controlada, mantém o índice de pleno emprego (ao
contrário das taxas altíssimas de desemprego dos países europeus que optaram
pela austeridade em suas contas) e ainda promove uma distribuição de renda
elogiada por todo o mundo. Mas contrário aos fatos, vivemos um clima de
incessante tensão e pessimismo propagandeado pela mídia monopolista.
Até
economistas do campo conservador se pronunciaram contra a histeria promovida
pelos apologistas do caos, dentre eles Delfim Netto e Francisco Lopes. Segundo
Lopes, em recente artigo publicado no Valor Econômico, “a única coisa que fica
clara é que a mídia especializada e a grande maioria dos analistas da economia
parecem sofrer atualmente de um pessimismo obsessivo”. E arremata: “De fato a
leitura que foi feita dos números do Banco Central configura um caso clássico
do que a psicologia cognitiva denomina de viés de confirmação (confirmation bias) que ocorre quando as
pessoas só são sensibilizadas por informações que pareçam confirmar suas
crenças ou hipóteses, ignorando qualquer evidência em sentido contrário”. Bem o
que aconteceu com os personagens de “Gabo” em seu conto resumido acima.
Mesmo
com todas as evidências em contrário, a pauta negativa é exibida nos
noticiários incessantemente. Incutem no imaginário das pessoas que algo de ruim
está prestes a nos acometer. Se o dólar está barato, todo mundo reclama que a
indústria vai mal e agora, quando começa a subir, continuam reclamando.
Mas
diferentemente do povoado citado por García Márquez, o Brasil é um grande país
(não é mais quintal dos EUA, como era até pouco tempo atrás quando esse país
espirrava, ficávamos gripados), tem a sexta maior economia do planeta e vem
adotando uma política desenvolvimentista para superar as duas décadas perdidas
(1980 e 1990) sob direção de governos liberais.
A
continuar esse caminho, intensificando as mudanças progressistas que clamam o
povo brasileiro, algo de muito positivo vai acontecer (ou continuar
acontecendo) em nosso país. Ao contrário da pregação dos cavaleiros do
apocalipse.
Referências:
MARQUEZ. G. G. Algo muy grave va a
suceder en este pueblo. In: http://www.ciudadseva.com/textos/cuentos/esp/ggm/algomuygravevaasuceder.htm.
LOPES,
F. F. O PIB cresce 4% ao ano. In: http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=2&id_noticia=218935
*Engenheiro Agrônomo, mestre em
Entomologia e doutor em Fitotecnia. Professor do Instituto Federal Fluminense
(IFF)
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