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Dr José Vieira Seródio |
No dia 05 de novembro de 1906, nasceu o médico humanista Dr. José Vieira Seródio, no distrito de Pirapetinga de Bom Jesus.
A seguir, transcrevemos matéria realizada com Dona Maria Aparecida Dutra, filha do historiador Antônio Dutra e neta de Pedro Gonçalves da Silva, conhecido como Cel. Pedroca, o primeiro prefeito de Bom Jesus por ocasião de nossa primeira emancipação, ocorrida em 25/12/1890.
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Maria Apparecida Dutra, filha do historiador Antônio Dutra |
Entre os médicos que frequentavam a famosa Farmácia Normal, estabelecida por seu avô, local de encontro dos intelectuais bonjesuenses, dona Maria Apparecida se recorda em especial de José Vieira Seródio: "era um sacerdote da medicina, possuía vocação e atendia as pessoas indistintamente, com competência e dedicação".
Padre Mello escreveu, em 1940, um poemeto intitulado "O Charlatão", dedicado aos médicos, e é possível que ele tenha se inspirado no referido esculápio para idealizar a personagem João. Disse o autor, em sua apresentação: "O protagonista do poema é o Doutor João que apresento como exemplar já no desempenho de sua missão de médico, já em suas relações sociais" (in Obras Selecionadas de Padre Mello, Editora O Norte Fluminense).
A seguir, transcrevemos, também, precioso artigo de Antônio Dutra, sobre a História da Medicina em Bom Jesus do Itabapoana.
A MEDICINA BONJESUENSE
Antônio Dutra
Talvez por gozar sua população de muita saúde, Bom Jesus, que hoje ostenta magnífica plêiade de esculápios, nos fins do século passado e princípios do atual esteve muitos anos sem nenhum médico residente, enquanto todos os lugares vizinhos como Calçado, Itaperuna, São Pedro, Mimoso e outros, contavam sempre com um e às vezes mais. Por pequenez ou pobreza da população não seria, pois nossos vizinhos deviam sofrer do mesmo mal e Bom Jesus em 1878 tinha uma população de 4 mil almas, com cento e muitos fazendeiros, 64 casas, 6 sobrados e várias casas comerciais e exportava grande quantidade de produtos para o porto de Limeira.
Quando iniciei meu aprendizado de farmácia em 1911, a clínica era aqui exercida pelos farmacêuticos Pedro Gonçalves da Silva, formado pela Faculdade Imperial de Medicina, e Joaquim Lopes Moreira, prático licenciado. Só raríssimas vezes chamava-se médico dos lugares vizinhos para ver algum doente, mesmo assim isto não passava de um ou dois por ano. Os que e lembro ter vindo aqui algumas vezes foram o Dr. Veloso, de São Pedro, Dr. Coelho dos Santos, de Mimoso, Dr. José Dias Moreira, de Calçado, Dr. Senra, de Itaperuna e Dr. Sobral, de Campos. O primeiro médico de que tenho noticia ter residido em Bom Jesus foi o Dr. Antônio Terra Pereira, que vem mencionado o tal e como um dos 9 eleitores com que contava a freguesia do Senhor Bom Jesus do itabapoana, município de Campos, no "Almanaque Laemert", de 1878.
O segundo cuja lembrança ainda era bem viva, foi o Dr. Leônidas Peixoto de Abreu Lima, que provavelmente veio para cá em 1880, quando convidou ao Coronel Pedroca, seu amigo, então recém-formado, para aqui se estabelecer com farmácia. Viu bom médico e grande político, foi eleito deputado em 1892 e deve ter se transferido para Niterói onde faleceu em 1903, Conservo dele uma receita datada de Bom Jesus, 7 de outubro de 1888, que reproduzo aqui por ser curiosa:
"Sra. Maria Justina do Amor Sagrado, para sua filha Ismênia.
Infusão de tília - 150 gramas..."
Em 1906 instalou consultório neste arraial o Dr. Jovial Rezende, um dos colaboradores do jornal "Itabapoana", de Sylvio Fontoura e em 1907 transferiu-se para o Estado de Minas, eu o conheci bem mais tarde no Rio como sócio de uma drogaria. Em 1914, veio o Dr. Francisco Portela Santos que foi, se não falha a memória, o primeiro presidente do "Ordem e Progresso F.C." e que também não permaneceu por muito tempo.
Somente a partir de 1915, tivemos sempre médicos residentes. Nesse ano instalou aqui seu consultório o Dr. Jeronymo Tavares, ótimo médico, culto, inteligente e também político militante, foi deputado estadual no Governo Sodré e chefiou a política do município de Itaperuna até sua morte em de 1924, prestando assinalados serviços.
Em 1917 veio o Dr. Carlos de Abreu Lima, pernambucano, bom médico, bom cirurgião, fez boa clinica, foi médico assistente de Chico Teixeira e quando este faleceu, transferiu-se para o Rio de Janeiro. O ano de 1918 marcou também a vinda do Dr. Columbino Teixeira, que podemos assim dizer, popularizou o médico entre nós. Antes de ele chegar, a figura desse profissional era uma espécie de tabu, do qual o nosso roceiro tinha medo.
Com sua simplicidade e seu espírito folgazão, conquistou grande clientela e aqui permaneceu até sua morte, prestando importantes serviços à nossa população em todos os setores em que militou. Em 1924, chegaram os Dr. Agenor de Barros e Francisco Tosta Melo, ambos muito populares e humanitários, que aqui permaneceram bastante tempo. Em 1925, veio o Dr. Abelardo Vasconcelos, ainda muito moço, mas bom médico e portador de considerável cultura, estudioso, prosador fluente, bom conhecedor da língua portuguesa, mas cuidadoso em demasia no seu uso, o que tornava sua prosa quase impecável. Foi também Inspetor Federal do Colégio Rio Branco, a que prestou relevantes serviços, tendo sido mais tarde transferido para Campos, onde passou a residir e clinicar. Foi, no ano seguinte, eleito membro efetivo da Academia Campista de Letras, com o voto de Sylvio Fontoura, que muito o admirava, Em 1925, vieram também o Dr. José de Oliveira Cunha que aqui ficou até 1928, militando também no jornalismo ao lado do Padre Mello, como redator do jornal "O Norte"; o Mário Vilhena, da Fundação Rokfeller e Dr. Arthur José de Bastos que pouco permaneceu entre nós. Em 1926, estiveram aqui, com pouca permanência, os Drs. Gastão Pereira da Silva, notável escritor da atualidade e Aloísio Pinto da Luz, transferido logo depois para Calçado.
Este Dr. Aloísio era filho do então Ministro da Marinha, mas miolo tempo até os filhos de ministros que se formavam médicos eram obrigados a vir para o interior cavar a vida.
Foi ainda em 1926, que concluiu seu curso de medicina e instalou seu consultório em Bom Jesus o Dr. César Ferolla. Este pregou bons serviços à nossa população como médico, muito popular e caridoso, e também como político. Foi deputado estadual à Assembléia Constituinte de 1934 e muito se bateu em prol da restauração de nosso município. Como médico, o Dr. César Ferolla dava preferência especial ao tratamento de crianças e embora não se dedicasse exclusivamente à pediatria, publicou um livro com o título de "Pela felicidade dos filhos".
Em 1928, tivemos aqui o Dr. Domingos Azevedo, profissional já idoso, que ficou pouco tempo em Bom Jesus e, em 1932, aqui chegou um médico ainda moço que se tornou muito popular, pois além de bom clínico, era grande amigo dos agricultores.
Até adquiriu uma propriedade agrícola que visitava com frequência. Estou me referindo ao Dr. Dirceu Cabral Henriques que permaneceu entre nós por mais de 5 lustros, prestando ótimos serviços, sobretudo na direção de nosso Hospital e do Centro Pró-Melhoramentos de Bom Jesus.
O ano de 1933 marcou um dos mais auspicioso acontecimento na crônica médica de Bom Jesus: instalou aqui o seu consultório o Dr. José Vieira Seródio, médico humanitaríssimo, fazendeiro, Subprefeito, vereador, deputado estadual, chefe do nosso Posto de Saúde e do Hospital São Vicente de Paulo. E qualquer setor que tenha militado, dispenso-me de descreve seus méritos, tão evidentes e conhecidos são eles e transcendo o período que me propus a tratar.
Nos últimos anos de nosso arraial ainda vieram nos tratar seu concurso os Drs. Ademar Hooper Pinto, Evandro Pintos Domingues, Onofre Pereira de Mendonça, Dirceu Bauer, todos com pouca permanência, e Dr. Sebastião Diniz Freitas, este ilustre e humanitário clínico que por felicidade aqui permaneceu prestando à nossa população inestimáveis serviços. Fica aqui um resumo da medicina em Bom Jesus até a restauração do Município. A partir de então nosso corpo médico vem crescendo sempre, em quantidade e qualidade, até chegarmos a esta magnífica equipe composta dos ilustres Drs. José Vieira Seródio, Sebastião Diniz Freitas, Waldir Nunes da Silva, Edu Baptista, César da Costa Abelha, Ruy Pimentel Marques, Ayrton Borges Seródio, Ary Lima de Moraes, Lourival Costa, José Áreas e Francisco Oliveira, digna e invejada mesmo pelos centros maiores. A partir da restauração do Município de Bom Jesus, quem quiser conhecer a sua história tem à disposição as coleções dos jornais "A Voz do Povo" e o "Norte Fluminense", enquanto o período anterior, como já tive a oportunidade de dizer, precisa merecer mais atenção de nossa parte, pois do contrário, dentro de pouco tempo ninguém mais existirá que possa ter conhecimento.
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