Gino Martins Borges Bastos |
Quando o genial açoriano Padre Antônio Francisco de Mello chegou a Bom Jesus do Itabapoana, no dia 18 de junho de 1899, trouxe consigo um modo de ser: pensar e agir grande.
Uma evidência disso se dá através da construção da majestosa fachada neoclássica da Igreja Matriz Senhor Bom Jesus, concluída em 1931.
Ela constitui um marco histórico de nosso município, que confere identidade cultural ao nosso povo, gerando uma vivência de pertencimento e de sentido de vida.
É pertinente ponderar sobre críticas que tenha recebido na época, que sucumbiram espontaneamente diante do imperativo categórico que movia seu idealismo e da motivação que fazia impregnar os corações de toda a comunidade.
Ainda que haja pessoas que desconhecem que o imponente monumento religioso seja uma obra açoriana, mais especificamente de Padre Mello, a realidade açoriana brilha onde quer que esteja!
Mas não é apenas na obra arquitetônica que o açoriano revela a sua grandeza. A edificação humana, a principal, possui também contornos inquestionáveis.
Um exemplo desse traço se refere às gerações formadas pelo ideal açoriano. O maior pupilo bonjesuense, Octacilio de Aquino, um dos grandes intelectuais do Brasil, registrou, certa vez, que uma criança, indagada sobre o que pretendia ser quando adulta, disparou: "quero estudar para Padre Mello".
No dia do falecimento do Mestre, ele salientou: "são as promessas risonhas destes berços (com as crianças que batizou) e são as vozes imensas daqueles túmulos (dos que ajudou a sepultar), as esperanças do presente e as sombras do passado".
O tamanho do mundo do açoriano é o tamanho do seu pensar e dos seus sonhos. Os versos de Padre Mello são eloquentes a respeito dessa característica açoriana: "Morrer sonhando é despertar na glória/ eis a vitória, morrerei assim!".
O Dr. José Andrade, Diretor Regional das Comunidades do Governo dos Açores, encaminhou, no dia 13 de agosto de 2024, um memorável texto alusivo à data de falecimento de Padre Mello, ocorrida no mesmo dia do ano de 1947. No documento, intitulado "EM LOUVOR DE PADRE MELLO", a autoridade açoriana assinalou que a Insígnia Açoriana, anteriormente entregue ao dr Nino Moreira Seródio, presidente da CAES, restaria devidamente fixada junto ao túmulo do ilustre pároco:
"Ficará esta insígnia açoriana junto ao túmulo do nosso comum sacerdote e à Coroa do Espírito Santo simbolizando e significando uma relação de cumplicidade entre o Arquipélago dos Açores, o Vale de Itabapoana, o Padre Mello e a Festa do Divino.
Como se assim ficássemos todos juntos para sempre.
Bem- haja, Padre Mello.
Descanse em paz."
O Gênio Açoriano venceu!
Existe uma Açorianidade Bonjesuense!
A mediocridade imposta pela indústria cultural encontra natural resistência na Pátria Açoriana do Noroeste Fluminense. Não pensar grande e não sonhar grande significa abrir as portas para os caminhos da marginalização. Para o campo da batalha das ideias, seguimos máximas açorianas e lusitanas:
"Deus quer, o homem sonha, a obra nasce...Tenho em mim todos os sonhos do mundo", assinalava Fernando Pessoa.
"É preciso passar sobre ruínas, como quem vai pisando um chão de flores!", ensinava Antero de Quental.
"Cesse tudo o que a Musa antiga canta, que outro valor mais alto se alevanta", proclamava Luís de Camões.
"Sobre a nudez forte da verdade - o manto diáfano da fantasia", diagnosticou Eça de Queiroz.
"É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós", ensinava José Saramago.
"É na memória que outra vida hiberna", poetizou Vitorino Nemésio.
A CAES (Casa dos Açores do Espírito Santo) fundada há dois anos em Apiacá, contou com a influência do sangue açoriano do Vale do Itabapoana, assim como o pouco conhecido, mas sublime, Museu da Imagem, instalado há 30 anos por açordescendentes no distrito de Pirapetinga de Bom Jesus.
A açoriana Dona Cândida construiu, na década de 1930, o formoso "Castelinho", onde Padre Mello residiu por um período, enquanto a capela do Cristo Rei, localizada no Monte Calvário, foi idealizada pelo ilustre pároco lusitano.
O ECLB (Espaço Cultural Luciano Bastos), que ocupa a área física onde funcionou o antigo Colégio Rio Branco, e teve Padre Mello como professor, é dirigido por açordescendentes, há 13 anos.
O Memorial Governadores Roberto e Badger Silveira, estabelecido na região Serrana Bonjesuense, há 6 anos, é também um tributo aos Açores.
Recentemente, se estabeleceu o Sítio Açoriano em nosso município.
Pensar grande, essa característica tipicamente açoriana, leva consigo um ardor na motivação e na determinação para a realização dos sonhos. Pensar grande e agir grande é abraçar a vida em sua plenitude.
Diante de um mar de mediocridades, o açoriano se lança altivo, por vezes solitariamente, à construção de um Mundo Novo, de acordo com sua humanidade e a sua cultura. Leva consigo, por onde for, o pensar grande, o sentir grande, o sonhar grande e o fazer grande.
O Açoriano é o sujeito de sua Grande História!
Igreja Matriz Senhor Bom Jesus |
Igreja Matriz Senhor Bom Jesus |
Igreja Matriz Senhor Bom Jesus |
Casa dos Açores do Espírito Santo |
Museu da Imagem em Pirapetinga de Bom Jesus |
Espaço Cultural Luciano Bastos |
Memorial Governadores Roberto e Badger Silveira |
Castelinho construído na década de 1930 pela açoriana Dona Cândida, onde Padre Mello manteve residência |
Capela do Cristo Rei, no Monte Calvário, construção iniciada por Padre Mello |
A Insígnia Açoriana, ofertada pelo Dr Nino Moreira Seródio, está fixada ao lado do túmulo de Padre Mello, na Igreja Matriz Senhor Bom Jesus |
Dr José Andrade, Diretor Regional das Comunidades do Governo dos Açores, à frente do busto de Padre Mello, em Bom Jesus do Itabapoana, no dia 25 de julho de 2022 |
Capela do Divino Espírito Santo na Igreja Matriz Senhor Bom Jesus, onde estão os restos mortais de Padre Mello |
Tela a óleo pintada pela artista plástica mineira Fânia Ramos, integra o acervo do Espaço Cultural Luciano Bastos (ECLB) |
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Padre Mello: um gênio da civilização e da cultura |
Colégio Estadual Padre Mello homenagem ao ilustre açoriano Sítio Açoriano em Bom Jesus do Itabapoana |
Gino Martins Borges Bastos é bonjesuense, descendente de Francisco Lourenço Borges, nascido na ilha Terceira, Arquipélago dos Açores, em 21 de janeiro de 1774
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