O artesão que via arte onde outros viam ruínas: o legado de João Vermelho e o sonho de restaurar o antigo Palacete do Malvino Rangel em Bom Jesus do Itabapoana
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| Croqui, elaborado gentilmente por João del Fiume para o jornal O Norte Fluminense, previu a recuperação da fachada do Palacete do Malvino Rangel em Bom Jesus do Itabapoana |
Em 2017, ao ser procurado pelo O Norte Fluminense, o especialista em obras de arte e no tradicional “círculo ordem romana”, João del Fiume, o conhecido João Vermelho, de Guaçuí (ES), deixou registrada uma convicção que ainda ecoa como um chamado: “é possível restaurar a fachada do prédio do Palacete do Malvino Rangel, onde funcionou o antigo Fórum de Bom Jesus do Itabapoana”. Palavras firmes, ditas como quem toca uma herança com as mãos e com a memória.
João nasceu em 18 de novembro de 1928, na localidade de Santiago, zona rural de Guaçuí. Filho do italiano Américo del Fiume e de Diolinda del Fiume, nascida em Porciúncula (RJ), cresceu em meio a uma família numerosa: Altália, Tereza, Francisco, Maria da Penha, Bárbara, Maria Aparecida, América, Ativila, José Atílio e Maria José compunham o coral afetivo de onze irmãos que moldaram sua infância.
Aprendeu com o pai o ofício de pedreiro, mas foi no trabalho com a madeira que seu talento encontrou fluidez. João transformava matéria bruta em gesto artístico, como se cada peça guardasse um silêncio que só ele sabia despertar.
Explicava, com simplicidade, que o “círculo ordem romana” era “um artefato de obra de arte, como estátuas de leão e peixe, normalmente utilizados em peças de arquitetura”. E ao falar, revelava que ali havia mais que técnica: havia história, cultura, simbolismo.
Licenciado pelo CREA durante 35 anos, em um tempo em que a arquitetura ainda não estruturava presença institucional em muitas regiões, João dizia com naturalidade que sempre fora chamado para obras em Igrejas, espaços onde fé e estética se encontram. Seu currículo incluía inclusive trabalhos para a Caixa Econômica Federal, reafirmando a confiança que conquistara ao longo de décadas.
Ao jornal O Norte Fluminense, naquele mesmo ano, João Vermelho ofereceu mais que uma opinião técnica: ofereceu um gesto de pertencimento.
“Coloco-me à disposição dos bonjesuenses para apoiar na restauração”, afirmou, com a serenidade de quem enxerga na preservação arquitetônica um dever de memória.
O sonho permanece vivo. Espera-se que a EMOP-RJ, Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro, possa, algum dia, restabelecer a fachada do histórico Palacete do Malvino Rangel. A proposta inclui a criação de um Centro de Memórias em uma das salas, um espaço que conte a trajetória do prédio e os fatos marcantes que ali ocorreram, como a visita de Getúlio Vargas Filho a Bom Jesus do Itabapoana.
Fato digno de ser perpetuado foi a realização do primeiro júri em nosso município, que ocorreu naquele espaço, e teve como advogado Boanerges Borges da Silveira, pai dos ex-governadores Roberto e Badger Silveira.
Também se deseja que ali sejam lembradas as personalidades presentes na despedida do antigo fórum, entre outros: José Borges Filho, Dr. Elcy de Souza, Ronaldo Almeida, Yolle Mello Teixeira, Hélvio Almeida, Ronei Almeida, Elói, Filhinho Barreto Loretti, Dr. Sebastião Freire Rodrigues, Dr. Geraldo Batista, Carlos Quintino, Dr. Francisco Batista de Oliveira, Braz Cyrillo, que trabalhou na construção do novo prédio, Leonides Catharina, Dr. Guth Gallo, Dr. Nivaldo Valinho, João Batista Vieira (Bulaia), Dr. Luiz Alberto e Paulinho Lupinha.
Cada nome desses é uma página viva. Cada tijolo do antigo prédio, um capítulo ainda palpitando. E cada palavra de João Vermelho, uma promessa de que, mesmo quando o tempo castiga, a memória sabe resistir.
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| Permanece a esperança de que a fachada do antigo Palacete do Malvino Rangel seja restabelecida, como projeto de resgate da história e fixação de um Centro de Memórias |
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| João Vermelho: vida de idealismo em Guaçuí |
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| João del'Fiume, conhecido como João Vermelho, considerou possível a restauração da fachada do Palacete do Malvino Rangel |





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