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| Carolina Boechat |
O mundo cristão está tomado pelo espírito natalino. Por aqui, a prefeitura esmerou-se. Fora a já esperada decoração do Campo de São Bento, outras partes da cidade estão brilhando com as luzes do Natal. Olho tudo meio de lado e converso comigo mesma. Comentários depreciativos? Não, apenas não me conformo que Papai Noel ainda não tenha cidadania brasileira.
Uma vez que seu ofício o obriga a percorrer boa parte do mundo, exercício penoso para quem sai da Lapônia e circula por aí a bordo de um antiquado trenó guiado por renas, nós o acolheríamos de braços abertos e, como medida de urgência, trocaríamos o seu modelito sufocante por bermuda e camiseta, vestes mais adequadas para o verão brasileiro.
E uma boa repaginada na decoração seria preciso. Imagino as tonalidades de branco que representam a neve que não temos por aqui, substituídas pelas cores do nosso país tropical. Ficaria lindo!
Na verdade, sou uma dessas pessoas esquisitas que não se entusiasmam com as festas de fim de ano; sempre duvido se sobreviverei à alegria esfuziante que se instala nas pessoas de modo quase automático. No entanto, como tenho sobrevivido até aqui, repetidas vezes me surpreendo construindo expectativas.
Eu gostaria que algumas coisas, ainda inconfessáveis, saíssem da fragilidade da abstração e se tornassem visíveis; eu gostaria que muitos comportamentos deixassem de ser quimeras flutuantes no espaço e fossem normalizados. A ética, a paz, a justiça social, o respeito a todas as formas de amor e a todas as criaturas vivas deveriam ser habituais.
Neste espaço, não quero calar minha voz e preciso pontuar sobre os feminicídios que crescem em desproporção assustadora e das formas mais cruéis, por isso, espero que todas as mulheres voltem ilesas para casa e, estando em suas casas, sejam acolhidas e protegidas. Que os homens respeitem nossas escolhas, nossas roupas, nossas gargalhadas e nossas vidas.
Esta é a minha maior expectativa para 2026.

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