domingo, 13 de maio de 2012

FAZENDA DAS AREIAS: A DRAMÁTICA SITUAÇÃO DE UM PRÉDIO HISTÓRICO





Fazenda das Areias: patrimônio histórico em ruínas

A Fazenda das Areias está localizada a cerca de 3 km do distrito de Pirapetinga de Bom Jesus e teria sido construída por escravos nos idos de 1870.

Época de grande prosperidade, a mão de obra escrava se dedicava especialmente ao cultivo do café. Conta o médico e escritor Norberto Boechat que "a Fazenda pertencia, na época, a Henrique Boechat. Com o fim da escravatura em 1888, e sem ter mão de obra escrava, Henrique Boechat acabou falindo". 

Entrada da Fazenda das Areias, construída por escravos

Continua Norberto relatando que "a Fazenda das Areias acabou sendo adqurida, posteriormente, por Modesto Moraes Ribeiro, que a comprou para seu filho Francisco Ribeiro de Aquino, o Chichico das Areias.  A Fazenda  tornou-se então um primor de modernidade, uma vez que Chichico das Areias estabeleceu um sistema de partilha através de meeiros. Com isso,  fixou-se a mão de obra na Fazenda". Norberto  considera, contudo, que "o erro de Chichico foi o de considerar que, estabelecendo em seu inventário a doação dos bens a seus netos, supunha que a Fazenda das Areias seria preservada. Na prática, acabou ocorrendo discórdia entre os vários herdeiros, o que levou a Fazenda ao abandono. Hoje, a situação da Fazenda das Areias ficou dramática; por causa do desabamento de parte do prédio, pode-se ver, da estrada, o outrora quarto de intimidade de Chichico das Areias e sua esposa Doninha".



Norberto salienta ainda que "o avô de Chichico das Areias foi o Barão de Aquino, de Sumidouro (RJ). D. Pedro II chegou a lavrar um documento endereçado ao Barão. A esposa de Chichico das Areias, por sua vez, era filha de João Catarina, um homem progressista, que se tornou um dos primeiros presidentes da 1a. Câmara de Vereadores Republicana do Brasil, em Itaperuna", finaliza Norberto.



Diamantino da Silva Soares, o "Tininho", nascido em 05/08/1926, na Fazenda Vista Alegre - de propriedade de seu avós paternos Francisco Soares e Amélia Soares - se recorda de Chichico das Areias e de sua esposa Francisca Moraes Ribeiro. Segundo Tininho, a Fazenda possuía um engenho de cana, moinho de farinha e de fubá, chegando a ter "13 mil arrobas de café. E se alguém pisasse em um grão de café, Chichico das Areias chamava a atenção da seguinte maneira: 'pisar em um grão de café é como pisar em Deus' ". 

De uma das construções que desabou, só resta a base

Elza de Souza Lacerda, nascida em 19/07/1926, por sua vez, explica que vários descendentes de escravos tornaram-se empregados da Fazenda. Ela se recorda das tropas de burros, os carros de boi e do carretão (carro de boi utilizado para puxar madeiras).



  


Esio Oliveira Campos: a Fazenda das Areias não deveria ter sido abandonada

Já Esio Oliveira Campos, morador de Arraial Novo, região próxima de Pirapetinga, assinalou que "na Fazenda das Areias havia um gerador de luz própria, uma serraria, um moinho para pilar café e cerca de 60 colonos. O primeiro telefone de dar corda, da região, foi instalado na Fazenda Areias por Chichico das Areias, no início do século XX. A Fazenda das Areias não deveria ter sido abandonada", lamenta Esio.


CASA DA ÉPOCA IMPERIAL

Outro prédio histórico da região é a residência de Tininho e de sua esposa Arézia, localizado a cerca de 7 km de Pirapetinga. Segundo Arézia, a casa, que  foi construída na base do barro, foi edificada  também na  época da construção da Fazenda das Areias. "Trata-se de casa de sopapo. Um empurra o barro de um lado e o outro empurra o barro pelo outro lado. Daí o nome sopapo", explica ela. Arézia Ribeiro Soares nasceu em Itaperuna, no dia 04/03/1931. Sua mãe se chamava Maria Louzan e seu pai Valdemiro Ribeiro Dias, ambos nascidos em Campos dos Goytacazes (RJ).
 Tininho e Arézia na casa da época imperial, em Pirapetinga

Os avós maternos de Tininho, por sua vez, se chamavam Diamantino Martins da Silva e Felicidade Conceição da Silva, enquanto seus pais se chamavam João Lopes Soares, nascido em Sumidouro de Cantagalo (RJ) e Maria Belém Martins, portuguesa da região de Vizeu.

Tininho e Arézia casaram-se no dia 24/11/51. Tininho procura não perder a oportunidade de encaixar uma piada: "Parece que são 100 anos de casamento". Diz ele  que  costumava ir de mula para Itaperuna, para namorar Arézia. "Minha mula era muito valorizada. Cheguei a rejeitar 1 conto e 500 réis nela. Certo dia, deixei minha mula por conta de um cocheiro que acabou colocando-a em um beco. O trem passou no beco e matou minha mula. Passei então a ir a pé para Itaperuna, quando eu não conseguia alugar um cavalo, até que consegui comprar um cavalo de nome "Telegrama". Pouco tempo depois, casei e quem realizou o casamento foi o Padre Humberto Lindelan. Só essa mulher pra me tolerar", exclama ele. O casal 7 filhos: Ronaldo, Maria Alice, Vera Lúcia, Silvia,  Márcia, Lúcia Helena e Sueli Soares.
 Ronaldo, Vera, Sílvia e os pais Arézia e Tininho: família unida e exemplo de trabalho

Tininho diz que " já operei intestino, operei estômago, fiz desentupimento de veia, operei as duas vistas, estando quase cego de um olho, já dei e levei dois tiros. Mas, aos 86 anos de idade, continuo trabalhando de 6 horas da manhã às 18 h". Diz ainda que "há 18 anos tenho um túmulo pronto em Vargem Alegre (Pirapetinga) com duas gavetas, uma para mim e outra para minha mulher. Estou achando que as gavetas estão vazias, necessitando de serem preenchidas".

Arézia diz que recebeu um conselho para não derrubar sua casa, pois ela é histórica. A propriedade, contudo, está sendo repartida, em vida, com os filhos, que decidirão sobre o seu futuro.


SEM ATENDIMENTO MÉDICO E COM ESTRADAS MAL CONSERVADAS
David e Ronaldo: reclamação geral contra o estado das estradas

David Machado de Oliveira, 53 anos, nasceu na região, e possui três irmãs: Maria Lúcia, Leila e Marise, já falecida. Seu pai, José Augusto de Oliveira, nasceu em Vista Alegre, enquanto sua mãe, Zilda Dias de Oliveira, nasceu em Barreiras, ambas localidades da região.

Segundo David, "antigamente havia em Pirapetinga um farmacêutico de nome José Lopes, que era negro. Ele era como se fosse o dr. Renan de Itaperuna. Certa vez, minha irmã passou mal e o Chichico Areias socorreu-a levando até José Lopes, que a curou. Hoje, contudo, não há farmacêutico em Pirapetinga. Se precisarmos de atendimento médico necessitamos ir a Bom Jesus ou Itaperuna. Era necessário que houvesse um médico de plantão em Pirapetinga", pontua David.

As estradas da região são outro alvo de sua reclamação: "precisamos de escoar nossa produção, mas as estradas estão muito ruins, cheia de buracos e com o mato entrando na estrada. Precisamos de máquinas para patrolar e roças as estradas".

UM EXEMPLO DE PROPRIEDADE

Ronaldo, Vanderléa e filha: exemplo de produtividade com o apoio do SEBRAE e da EMATER


Ronaldo Ribeiro Soares, 53, anos, também nasceu na região. É  filho de Arézia e Tininho e faz questão de mostrar ao O NORTE FLUMINENSE o sítio Córrego Dantas, de sua propriedade. Com orgulho ,mostra o resultado do apoio do SEBRAE e EMATER e a adesão de sua propriedade ao Projeto PAIS, que incentiva as Hortas com um método especial.

O sítio desenvolve, há cerca de um ano, cerca de  20 criadouros de peixe. Os peixes são vendidos na região.  O café de sua lavoura é vendido para empresas de Varre-Sai (RJ) e Bom Jesus do Itabapoana. As verduras são vendidas para colégios de Bom Jesus e nas feiras de Pirapetinga, que ocorrem aos sábados. Frutas como laranja e coco também são comercializadas na região e na feira de Pirapetinga.

Graças ao SEBRAE, ganhou bomba d'água, caixa d'água e um galinheiro, além da assistência técnica. O grande problema, contudo, é a falta de conservação  das estradas.

(Publicada na edição de 12 de maio de 2012)

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4 comentários:

  1. Senhores Diretores, Boa Tarde!

    Meu pai FRANCISCO DE AQUINO PINHEIRO SOBRINHO, nasceu em Bom Jesus em 1926,mudou-se para Curitiba-PR em 1950, e foi assinante desse Jornal por muito tempo.
    Saudoso da "terrinha" lembrou-se do "O Norte Fluminense", acessei a internet e tive a surpresa da reportagem sobre a Fazenda das Areias que foi de sua famíla "Aquino Pinheiro".
    Solicito-lhes a gentileza de verificar a possibilidade da remessa desse exemplar (13 de maio 2012) e também valores e modo de pagamento para assinatura.
    Certa da atenção, sou muito grata,
    Lucia Helena de Aquino Pinheiro

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  2. Gostaria de saber se é possível adquirir um exemplar do vosso jornal,da edição de 13 de Maio de 2012.

    Há um artigo que me interessa particularmente, denominado FAZENDA DAS AREIAS: A DRAMÁTICA SITUAÇÃO DE UM PRÉDIO HISTÓRICO, pois trata de pessoas ligadas à minha família.

    ...a minha relação familiar é através do Barão de Aquino, avô daquele Chichico das Areias, mas por outro ramo da família.

    Mas, estudando as famílias Ribeiro e Pinheiro do Norte Fluminense, de que descendem o Chichico das Areias, o Barão de Aquino e eu próprio, tenho muito interesse nessa publicação e em outras que venham a ser publicadas no vosso jornal com o mesmo tema.

    Resido em Portugal e espero que isso não seja obstáculo ao envio do referido exemplar!

    A minha morada é a seguinte:

    Jorge de Brito
    Rua José da Costa Guerreiro, edifício Viaparque, bloco A, 7º direito
    8100-596 Loulé
    Portugal

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    1. Olá, Sou Roogério josé Ribeiro, Estou fazendo uma busca sobre cronolôgica da família Ribeiro, se puder mande seu contato o meu é rogeriorjr@gmail.com e o whats 55-21-983760841.
      Um abraço.

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  3. Um desastre a divisão entre todos os herdeiros. Deviam ter deixado para quem quisesse realmente cultivar a terra e manter de pé o predio de fazenda tão bonita , num lugar lindo! Uma pena a ganância dos homens é inexplicável!

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