sexta-feira, 9 de novembro de 2012

 Da Série Entrevistas de O Norte Fluminense

O CANTOR DE DEUS

Anízio Gomes Pimentel
Anízio Gomes Pimentel nasceu em 15/12/1937 na Fazenda São Luís, zona rural de Rosal, distrito de Bom Jesus do Itabapoana.

Filho de Francisco Gomes Pimentel e de Hilda Araújo Leite Pimentel, teve como avós maternos Anízio de Araújo Leite e Maria José Alves Pimentel de Araújo Leite. Os avós paternos foram Francisco Gomes de Oliveira (Chico Gomes) e Ana Alves Pimentel de Oliveira.



CHICO GOMES E A 1a. BANDA DE BOM JESUS 


Chico Gomes fundou a 1a. Banda de Bom Jesus do Itabapoana, em sua residência, localizada na Fazenda Barra Funda, no dia 26 de julho de 1911. A banda existiu até o ano de 1946.

Uma fotografia dessa época é retratada abaixo. O maestro da banda era Ernestino, conhecido como Cafuxim, o primeiro sentado, à esquerda, na foto tirada em 1915. Ele havia sido maestro da Banda de Natividade (RJ) e fora trabalhar como carpinteiro na Fazenda de Chico Gomes, que costumava dizer que "um fio de cabelo do meu bigode vale mais que qualquer nota promissória assinada por mim". Chico Gomes teve uma filha com Maria Marques: Ana Cecília, que reside em Santa Fé.


Anízio se recorda dos seguintes parentes e vizinhos integrantes da banda (sempre com referência da esquerda para direita): Carlos Nunes, José Pimenta (terceiro, em pé), José Gomes (quarto, sentado), Sebastião Gomes de Oliveira e Júlio Gomes de Oliveira (sexto, sentado).



A 1a. Banda de Bom Jesus: Banda de Chico Gomes (direita), fundada em 1911


O LAMPIÃO DE ROSAL

Anízio se recorda de fatos marcantes da época de seu avô, Chico Gomes. 


Segundo ele, certa vez, fora morar em Rosal um homem conhecido como Tenente Silvino. 

"Diziam que ele era capanga de Lampião. Seria do Exército e teria desertado. Fora preso em Recife, mas quando um preso adoecera e fora acodido pelo carcereiro, ele e mais onze presos conseguiram fugir. Tenente Silvino, contudo, era considerado pior que Lampião. Ele chegava nas casas e se gostasse de alguma mulher, dava ordens e a possuia", conta Anízio.

Por conta disso, há comentários de que Tenente Silvino teria tido descendente na região.

Continua Anízio: "Se ele via, por exemplo, algum capado, determinava: 'mata aquele capadinho e coloca na lata para eu levar', fazendo o terror na região".

O homem dos 3 jotas

"Certa vez, à noite, o cidadão João José Jacomini estava andando de cavalo em Bom Jesus do Norte (ES), próximo ao cemitério. Neste momento, ouviu uma voz que gritou: "Quem vem aí?" João respondeu: 'Aqui vai o homem de três jotas'. A voz replicou: 'Pois aqui é o Tenente Silvino. Vamos, então, medir força!' Neste momento, tiros começaram a ser disparados em direção a João José, que caiu do cavalo, sem ser alvejado, e se embrenhou no mato. Depois de duas horas, após percorrer 4 quilômetros com todos os cuidados possíveis, conseguiu chegar até a sua casa", relata Anizio.

Rifas


"Tenente Silvino costumava realizar rifas em que os ganhadores eram sempre pessoas desconhecidas. Certa vez, ele ofereceu uma para Chico Gomes, que, contudo, recusou a compra.

Tenente Silvino resolveu, então, levar, à noite, cerca de seis capagans para matar Chico Gomes. Quando avistaram a residência de Chico Gomes, o Tenente Silvino gritou para Chico Gomes: 'Vamos cruzar o bigode!'

Ocorre que Tenente Silvino, ao observar atentamente a residência de Chico Gomes, constatou uma grande movimentação de pessoas. Ouviu uma falação alta e vultos se deslocando entre os esteios da casa. Supondo que lá estavam pessoas para defender Chico Gomes, resolveu se retirar do local.


Foi Zezé André quem informou este fato ao próprio Chico Gomes. Tenente Silvino disse a Zezé André que na casa de Chico Gomes havia 30 homens armados, muito falatório e atiradores de elite atrás dos esteios da casa. 


Chico Gomes, entretanto, esclareceu, depois, que estava acontecendo uma reunião festiva em sua casa, onde havia muita gente falando e as crianças brincavam se escondendo entre os esteios da casa. Como tudo era iluminado por lampião, deu-se a impressão que pessoas se movimentavam escondendo atrás dos esteios da casa. 

Tenente Silvino morreu em uma troca de tiros com cerca de 30 policiais comandados por um major que veio de Niterói. Quando morreu, Tenente Silvino estava acompanhado apenas de um capanga, uma vez que os demais resolveram fugir", registrou Anízio.


ESTUDOS, ESPORTE E FÉ

Anízio entrou para a escola aos 8 anos de idade, na Escola Estadual Monte Azul, onde estudou por 2 anos.  "Depois, vim estudar na Escola Luiz Tito de Almeida, em Rosal, onde terminei o primário".

"Mudei-me para a Fazenda Santa Rosa de Lima, em Bom Jesus do Itabapoana, no dia 3 de agosto de 1952. No dia 13 de agosto do mesmo ano entrei para a Associação Religiosa Congregação Mariana, na Igreja Matriz e, depois, na Igreja do Abrigo dos Velhos". No dia 15 de agosto deste ano, fez 60 anos de Congregado, onde foi homenageado com uma placa comemorativa.



Relata Anizio que "no dia 1o. de março de 1954, entrei para o Colégio Rio Branco, onde fiz a 1a. e a 2a. séries do ginasial. Parei os estudos em 1956 para fazer o Tiro de Guerra. No dia 13 de agosto do mesmo ano, fui campeão de corrida de fundos de 5.000 m na festa de agosto. Em 1957, fui estudar no Colégio Coronel Antônio Honório, em Bom Jesus do Norte, onde concluí o curso ginasial em 8 de dezembro de 1958".


Nesta época, integrou o Coral da Igreja Matriz, juntamente com Ruimar Viestel, Renato Reis, Carlos Heinrique Furtado, Edmundo Goulart, Jarbas Ferreira Dias e Geraldo Cyrillo.


Anízio e o Coral da Igreja Matriz em São Fidélis, em 23/04/1958

                                                  
Em 15 de novembro de 1958, atuou como atleta e, depois, como técnico do time de basquetebol do Colégio Antônio Honório. Nesta condição, disputou uma competição com todos os colégios do Estado do Espírito Santo e acabou sagrando-se campeão. "A final foi emocionante, e impomos derrota ao time do Colégio de Guarapari, pelo placar de 32 a 28. A equipe foi integrada por José Chaves, Surley Poubel, José Coury, Fábio Ronaldo, Sebastião de Almeida, Batista e Ademir Nunes ", esclareceu Anízio.


     Time campeão de basquete, em 1958, utilizando o uniforme do Aero Clube


"Em 1959, voltei para o Colégio Rio Branco para fazer o Curso Técnico em Contabilidade, terminando o mesmo em 8 de dezembro de 1961. No dia 1o. de março de 1960, resolvi também ingressar no Curso de Formação de Professores, sendo o único do sexo masculino a fazer este curso. Tive, contudo, de abandoná-lo por motivo de trabalho, mas o concluí em 1969."






Terço dos homens, na madrugada, organizado por Padre Francisco, em 1962

"Em 1o. de janeiro fui trabalhar no Ministério da Agricultura até o dia 30/06/1960, quando fui trabalhar na Gráfica Gutenberg, de Ésio e Luciano Augusto Bastos, onde permanecei até o dia 31/07/1962. 


No dia 07 de agosto de 1962, fui trabalhar na Distribuidora de Veículos União, que era representante de Willys Overland do Brasil. Depois, fui trabalhar na Ford, onde trabalhei até o dia 13 de agosto de 2003, quando se encerraram as atividades em Bom Jesus. Na época, eu já estava aposentado
.




"
                        Anízio, a esposa Luzmar e o neto Mateus, em foto de 2002


"Fui eleito funcionário padrão na Ford, em 16 de outubro de 1995. No mesmo ano, fui técnico da equipe de futebol de campo da Ford, e sagrei-me campeão em torneio realizado em comemoração ao Dia do Trabalho, que era promovido pelo comércio local.

 
Anízio casou-se com Luzmar Aguiar Pimentel, que era professora, no dia 06 de fevereiro de 1966. Ela aposentou-se no Colégio Anacleto José Borges Neto em 1995. Desse casamento, tiveram 3 filhos: Francisco Alvim, Anízia Maria e Luiz Gonzaga Aguiar Pimentel. Posssuem 6 netos: Tiago Luiz, Douglas, Alvian, Mateus, Maria Clara, Miguel Arcanjo e Maria Micaela.

"Hoje, estamos aposentados e gostamos de tomar conta dos netos e ajudamos nossa filha Anízia Maria Aguiar Pimentel dos Santos, que é diretora da Escola de Música JEMAJ (Jesus, Maria e José) Musical", finaliza Anízio.


JEMAJ E A TRADIÇÃO FAMILIAR 

Fundada em 17 de fevereiro de 1997, e localizada na rua 21 de Abril, no. 115, com telefone 22-38311704, a Escola de Música JEMAJ dá prosseguimento a uma tradição familiar de fé e de amor à música, que teve início com Chico Gomes em 1911.



Anízia Maria, em foto de 2000

Escola de Música JEMAJ: luta pela preservação da tradição








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