segunda-feira, 22 de agosto de 2016

ONZE SENADORES VISITARAM A USINA SANTA MARIA EM 1953





Dia de festa no interior da fábrica da Usina Santa Maria
 ("Quem quebrou a casa de meu pai?")



Conhecer nossa história e tomar consciência de nossas raízes culturais constitui fator importante para a afirmação da identidade de um povo.

Neste sentido, urge resgatar aqui a memória de dois irmãos, o Senador José Carlos Pereira Pinto e seu irmão Jorge Pereira Pinto, que trouxeram a Bom Jesus do Itabapoana um período de grande desenvolvimento econômico, com a participação de todos os trabalhadores das Usinas Santa Maria e Santa Isabel. 

Esse notável empreendimento teve repercussão em todo o país.

O texto que segue foi baseado em duas obras: uma, encontrada no acervo da biblioteca particular de Luciano Bastos, intitulada "De Campos aos Fluminenses", editada na década de 1940, cujo autor se identificou apenas com as iniciais "A.G.". A outra, trata-se da obra "Quem quebrou a casa de meu pai", de Antonio Carlos Pereira Pinto, 2004  



Jorge Pereira Pinto  ("Quem quebrou a casa de meu pai?")


                                                 

Nos dias 5 e 6 de dezembro de 1953, uma caravana de onze Senadores visitou a Usina Santa Maria, de propriedade dos irmãos Pereira Pinto.

 Participaram da comitiva os seguintes Senadores: Napoleão Alencastro Guimarães e Hamilton Nogueira (Distrito Federal), Aluísio de Carvalho (Bahia), Plínio Pompeu e sra. (Ceará), João Vils Boas e Mario Mota (Mato Grosso), Luiz Tinoco (Espírito Santo), Waldemar Pedrosa (Amazonas), Alfredo Simch (Rio Grande do Sul), Ezequias da Rocha (Alagoas) e Kerginaldo Cavalcanti (Rio Grande do Norte).

Na ocasião, ocorreu uma sessão solene e inédita no interior do estabelecimento.

Após o retorno ao Senado, o Senador Hamilton Nogueira comentou o que viu:

" Não vimos o paternalismo nem o dinheiro dado como se fosse uma condescendência, mas o reconhecimento de um grande industrial do direito dos trabalhadores permitindo-lhes as interferências na gestão da empresa, assegurando-lhes participação direta nos lucros, e inúmeras obras de assitência social. Vimos realizada a democracia de base humana econômica, em que existe a preocupação de valorizar o homem, de mostrar que o mais humilde operário pode ser, amanhã, o diretor da usina".


Quanto a isso, Antonio Carlos Pereira Pinto, em sua obra "Quem quebrou a casa de meu pai?" relembrou as palavras de seu pai Jorge Pereira Pinto:"Minhas Usinas, enquanto ganharem dinheiro, meus operários também vão ganhar" (p.24)

Antigo Cinema Santa Maria, na Usina Santa Maria
("De Campos aos Fluminenses")

Na sessão do Senado, o Senador Kerginaldo Cavalcanti assim se expressou, entusiasmado:

" os problemas sociais - verdadeiras dificuldades noutras regiões, se encontram naquele recanto, praticamente a obra fluidez e a significação sociológica-cristã do nosso honrado companheiro é notável."



Sebastião Vitorino de Sá era músico da Sociedade Musical de Santa Maria quando o Maestro José Primo a comandava. Na foto, com os músicos Mário Mothé, Luís Francisco (Moreno), Zequinha Abreu, Jairo Nogueira e Júlio Nogueira
(Foto: "De Campos aos Fluminenses")



Desfile da Banda pelas ruas da Usina Santa Maria ("Quem quebrou a casa de meu pai?")
 



Prosseguiu o Senador Kerginaldo Cavalcanti:

" Temos portanto estabelecida a relação equacional entre o capital e o trabalho, a chave da incógnita surgiu no espírito construtivo e cristão do nosso eminente colega, o Senador José Carlos Pereira Pinto.

Ali eu vi a satisfação e a alegria. A riqueza não é motivo de inveja ou despeito; todos são colaboradores e participam da mesma obra de engrandecimento, porque todos lhe usufruem os benefícios. Quando essa politica social penetrar mais profundamente no espírito nacional - estou certo - trará frutos ótimos e constituirá para a indústria e o comércio exemplos que se desenvolverá  acabando por tornar-se a região de toda a nossa movimentação política e social.

Tudo naquela casa, em que trabalham o Senador Pereira Pinto e seu irmão, o industrial Jorge Pereira Pinto, conspira para a felicidade da Pátria, tudo ali se organiza de modo tal que não há perturbação, greves, distúrbios, discussões. Há uma centralização espiritual e compreensiva tão grande que dela surge obra fecunda, suscetível de ser imitada pela iniciativa de outros brasileiros de bom coração.

Dia de festa na Usina Santa Maria. Foto da década de 1960
("Quem quebrou a casa de meu pai?")


Lá estavam, Sr. Presidente, operários felizes e crianças jubilosas a receberem instrução e educação católica, enfim, tudo que contribua para torná-los futuramente obreiros de uma sociedade de que o Brasil se poderá orgulhar.

Meu coração de nacionalista encheu-se de alegria, voltei convicto de que melhores dias nos estão reservados, pois tais exemplos, se imitados, como é de esperar, vingarão certamente, dadas as altas qualidades que a nossa gente é dotada e sobretudo pelo nobre discernimento do povo brasileiro.

... Sobrecarregado de muitas obrigações, esse nobre benfeitor dedica todavia carinho excepcional por tudo o que condiz com a saúde do seu povo, certo de que não poderá ser trabalhador feliz aquele que não dispõe de vida digna."

Hosptial Santa Maria
("De Campos aos Fluminenses")

O Senador Aluisio de Carvalho foi outro entusiasta com o que viu:

" É realmente obra de patriotismo e espírito público", assinalou.


Enfermaria do Hospital Santa Maria
("De Campos aos Fluminenses")


Time do Santa Maria Futebol Clube, tricampeão em 1959, 1960 e 1961, onde atuou Eduardo Rosa, o Guardião do Conchita. Ao centro, Jorge Pereira Pinto (acervo de Eduardo Rosa)


"Operário meu não passa fome e nem anda de chinelo", costumava dizer Jorge Pereira Pinto ( "Quem quebrou a casa de meu pai?", p.20).


Santa Maria F.C.,campeão municipal em 1953, recebeu homenagens e prêmios do Senador José Carlos Pereira Pinto
("De Campos aos Fluminenses")


O dinamismo de Jorge Pereira Pinto foi ressaltado em "Quem quebrou a casa de meu pai?): "Quando comprou Santa Isabel, a fazenda era pequena, com muita pouca produção. Para fabricar 15 mil sacos levava um ano. Agora fabrica 120 mil em seis meses" (p.32).


Mil e quinhentos trabalhadores, das Usinas de Santa Maria e de Santa Isabel se confraternizam, no Dia dos Trabalhadores, com a presença de uma embaixada do Lóide Brasileiro
("De Campos aos Fluminenses")



A respeito de Jorge Pereira Pinto, Domar Campos, economista do Banco Central, professor de Economia Política do Instituto Superior de Estudos Brasileiros - ISEB; jornalista (redator do Jornal do Brasil, do Última Hora e de O Globo), assinalou, no livro "Quem quebrou a casa de meu pai?":

"Bom Jesus do Itabapoana foi uma região rica do estado do Rio de Janeiro, particularmente por ter sido centro de economia açucareira e, também, por estar situada na fronteira com o Estado do Espírito Santo.

A estrutura, ao mesmo tempo familiar e de importância econômica, teria que vir a ser caracterizada pela permanência do estilo patriarcal tradicional da família brasileira. Os patriarcas foram surgindo até nossos dias. Tive a aventura de vir a conhecer e estabelecer amizade com um desses patriarcas: Jorge Pereira Pinto. Uma personalidade que conciliava o patriarcalismo com a modernidade, com  muito equilíbrio.  

O patriarca Pereira Pinto unia tradição e modernidade com perfeito equilíbrio, um dos pontos altos da evolução política e social que consolidaram a estrutura atual da política sócio-econômica do Brasil.

Fizemos uma boa camaradagem desde os primeiros momentos e chegamos a alguma intimidade. Tive a oportunidade de apreciar a graça analística do Senhor Jorge.

Nessas ocasiões, ele lembrava um conto de Machado de Assis, em que a personagem por ele criado, lendo o diário do seu tio Joaquim, referia-se sem reservas aos defeitos e às virtudes dos seus parentes mais próximos: " Ora, o tio Joaquim!" Eu ficava também surpreendido "Ora, o velho Jorge!" Que espírito crítico, sem mágoa, nada conservador, discreto e delicadamente malicioso...
É sempre o que vem a mente quando converso com parentes ou amigos da família Pereira Pinto, como o Antonio Carlos, meu amigo de longa data. esqueço os episódios, os altos e baixos da economia açucareira, não obstante reconhecendo a sua importância para o estado do Rio e para o Brasil. Lembro sempre a história do tio Joaquim e concluo: "Ora, o velho Jorge!"  


Getúlio Vargas, por sua vez, se referiu a José Carlos Pereira Pinto, nos seguintes termos:

"O usineiro que constrói uma obra como esta valoriza a sua terra e se faz credor da sua admiração eternamente"


Sylvio Fontoura, o criador do 1º. jornal de Bom Jesus do Itabapoana, em 1906, intitulado "O Itabapoana", escreveu a respeito de José Carlos Pereira Pinto, em 8 de novembro de 1918, no jornal campista A NOTÍCIA:

"Não podemos deixar de levar hoje os nossos aplausos aos organizadores das Cozinha Popular, dentre eles destacando-se o sr. José Carlos Pereira Pinto, que não só na cozinha, mas em todos os misteres da Cruz Branca vai prestando os mais relevantes serviços. Sempre na vanguarda de todos os empreendimentos, este cavalheiro não tem poupado esforços  trabalhando até alta noite, a todos atendendo com a maior solicitude, merecendo sem nenhuma dúvida os nossos mais francos aplausos e a bênção da pobreza. Deixando os afazeres, tudo abandonando, trata hoje exclusivamente dos interesses da Cruz Branca, ou seja dito - dos interesses da pobreza. Nos tempos que correm, dificilmente encontramos cavalheiro desta têmpera que, sem nenhum interesse oculto, se põe intensamente ao serviço de uma população, sem nenhuma recompensa, apenas com o fito de fazer o bem à pobreza. A este cidadão, pois, os nossos mais francos aplausos".  


Por fim, a obra " De Campos aos Fluminenses" menciona, entre outras menções ao Senador, a seguinte, proferida em 11 de março de 1944, no Serviço de Difusão da A.I.C: "O nome de José Carlos Pereira Pinto transpôs os umbrais da posteridade".

Nenhum comentário:

Postar um comentário