quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Memorial dos irmãos Roberto e Badger Silveira


                                                Vânia Leite Fróes


Comemorar, no seu sentido etimológico quer dizer co-memorar, isto é lembrar juntos. E é juntos que recordamos com orgulho e uma boa dose de saudade dos irmãos Roberto e Badger Silveira.
Nascidos nesta cidade de Bom Jesus, numa das fronteiras-norte da Velha Província Fluminense, evocam os nomes destes governadores, caras recordações até hoje presentes em nossa terra. Muitas décadas se passaram, mas as obras e exemplos, como diziam os artistas renascentistas, são para sempre.
Uma primeira lembrança a evocar é o modelo de político orgulhoso de suas origens, com fortes vínculos com a terra que representavam, cujos ideais prendiam-se ao bem-comum mais que aos propósitos individuais, reforçando identidades citadinas e regionais.
Foram assim os nossos homenageados. Quase singelos em sua identidade norte-fluminense, políticos vinculados às causas sociais que o velho PTB endossava, tiveram um e outro o seu destino cortado muito cedo.
Roberto  conquistou-me ainda criança por sua simpatia. Visitava por vezes minha casa, por mera amizade, sem qualquer interesse político, onde meu pai, advogado e amigo da família Silveira, o recebia em longas e intermináveis conversas. Era grande a sua simpatia, tanto que me levou a fingir que votava. Ainda estava longe de ser eleitora, mas queria ter o gosto de colocar a cédula com seu nome na urna mágica que dava a vitória aos políticos.
A roda do destino girou do lado errado, levando com ele muitas esperanças, mas deixando entre nós a lembrança de sua jovialidade, de seu desejo de mudar o mundo do velho coronelismo. Foi embora como um governador muito querido em terras fluminenses.
Lembro-me de Badger quando nos recebeu no Palácio do Ingá. Éramos normalistas recém-formadas, premiadas no antigo Instituto de Educação de Niterói, tímidas diante do governador. Foi carinhoso, quase paternal, convocando a todas nós a exercermos nossa profissão com seriedade. Dito pelo governador, assumia um peso de grande importância. Apontava caminhos e louvava o ofício para o qual nos preparávamos.
Bons tempos em que governadores valorizavam o professor e sua carreira. Bons tempos em que políticos serviam de modelo para jovens iniciando sua profissão.
Difícil dizer o mesmo hoje. Parece fora de moda construir memórias e exemplos nesta contemporaneidade tão imediatista, cujo presente é a única referência possível.
Dura decepção quando as portas do Palácio se fecharam para os jovens, para o povo e para as utopias. Nosso governador eleito foi destituído. Os sonhos haviam acabado. Os anos de chumbo chegavam, impondo o medo e o autoritarismo, sufocando artistas e intelectuais, impondo a censura e os governadores biônicos.
Hoje resgatamos nossas lembranças nas justas medidas em que devem estar. Materializadas em pedra e argila este memorial é um lugar de memória, que presentifica merecidamente atos e feitos de nossos conterrâneos os irmãos Roberto e Badger Silveira.


Vânia Leite Fróes é Doutora em História e Professora Titular do Programa de Pós-Graduação em História na Universidade Federal Fluminense


Quadro do acervo do Memorial Governadores Roberto e Badger Silveira

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