A vinda de Getúlio Vargas Filho a Bom Jesus do Itabapoana

                     Por Gino Martins Borges Bastos 

Jornal do Povo da década de 1940 noticiou a vinda de Getúlio Vargas Filho a Bom Jesus do Itabapoana 

O rico acervo do Espaço Cultural Luciano Bastos (ECLB) conta com exemplares dos jornais de Bom Jesus do Itabapoana que circularam em nosso município desde 1º de agosto de 1906, quando surgiu "Itabapoana", editado por Sylvio Fontoura, tendo Pedro Gonçalves da Silva Junior como secretário.

Exemplares do jornal A Voz do Povo, fundado por Osório Carneiro, em 1930, também integram o acervo do ECLB. A publicação desta matéria retrata um período importante de nosso município, que chegou a receber a visita de Getúlio Vargas Filho, sendo recepcionado no palacete de Malvino de Souza Rangel, já incorporado ao patrimônio público estadual, e transformado em fórum. O jornal O Norte Fluminense publica, a seguir, excerto da referida matéria de A Voz do Povo.

O PRIMEIRO BAILE 

Às 22 horas os salões do edifício Rangel, onde teria logar a festa joanina em homenagem ao Dr. Getúlio Vargas Filho, já regorgitavam do que de mais representativo há em nossos círculos de elegância. Tocava um esplêndido conjunto, integrado por exímios musicistas de Campos e Bom Jesus. Ali chegavam, minutos após, os visitantes. Em ligeiras palavras, como de praxe, o Dr. Octacílio de Aquino, secretário da prefeitura, apresentou à sociedade bonjesuense o Dr. Getúlio Vargas Filho que foi carinhosamente saudado por uma forte salva de palmas. E as danças tiveram início, formando o primeiro par o Dr. Getúlio Vargas Filho e a graciosa senhorita Letícia Freitas, levada pelo braço do prefeito Sr. José de Oliveira Borges.

Ornamentado de folhagens o salão principal do edifício, que é onde se instalam os serviços locaes do foro, offereciam aspecto sertanejo. A isso vinha juntar-se a indumentária feminina, toda em chita e de colecção modesta. Trajos de passeio, para os moços, à frente do palacete estalejava a fogueira característica das noites de São João.

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Na década de 1930, A Voz do Povo se referia ao palacete, como a seguir retratamos.

Edição de A Voz do Povo da década de 1930

"O presente clichê mostra o bello palacete de propriedade do sr. Malvino de Souza Rangel, onde o mesmo reside, com sua família. Está situado á praça Governador Portella, annexo a esta redação, e é um dos melhores prédios de Bom Jesus, construído que foi dentro dos moldes da architetura moderna”.

Publicação de "O Boletim", de outubro de 1939, com os nomes dos jurados sorteados (acervo do ECLB)

Em outubro de 1939, ano em que alcançamos nossa segunda emancipação, restou publicado no tablóide O BOLETIM, edição oficial do município, edital preparado pelo escrivão Alípio Garcia de Campos, informando os vinte e um nomes dos sorteados para atuarem nas Sessões do Tribunal de Júri. 

Entre os mesmos, constam nomes consagrados de nossa história, como o de Gauthier Figueiredo, que seria prefeito em duas ocasiões, Menim Nacif, Columbino H. Teixeira de Siqueira, Raul de Rezende Megre e José Borges de Lima.

O palacete de Malvino, antes de ser demolido, presenciou outro momento histórico: o 1º júri da comarca, em que a defesa coube a Boanerges Borges da Silveira, pai dos governadores Roberto e Badger Silveira.

Boanerges Borges da Silveira, sentado, ao lado da esposa Maria do Carmo Teixeira da Silveira, a Biluca, com os filhos Dinah, Roberto, Badger, Zequinha e Maria da Penha, foi o 1º advogado a atuar em júris em Bom Jesus (acervo do ECLB, foto doada por Ana Maria Silveira)

O fato é que, na década de 1970, o palacete foi demolido para a construção de um "moderno" prédio do fórum. Ou seja, trocaram um palacete por um "caixote".

Tempos depois, com a transferência do Fórum para a Avenida Olímpica, o prédio "moderno" da rua Expedicionário Paulo Moreira passou a ocupar repartições públicas, incluindo a biblioteca municipal que, diga-se de passagem, há anos, não possui espaço físico para receber novos livros.

Diante dessa constatação histórica relevante, a respeito do palacete de Malvino, surgiu, há cerca de 10 anos, um movimento que luta pelo restabelecimento da fachada do palacete de Malvino, e a transformação da biblioteca municipal em um Museu - não necessariamente de modo imediato - que fixe os momentos históricos ali vivenciados, assim como ressalte a importante história dos magistrados e servidores do judiciário bonjesuenses e bonjesuistas.

Para que isso seja viabilizado, será necessária uma articulação política entre os poderes públicos municipal e o estadual. 

Segundo profissionais consultados pelo jornal O Norte Fluminense, a reconstituição da fachada do palacete é possível de ser realizada, e poderia ser feita em parceria com investimentos privados.  

João Del'Fiume, especialista em arquitetura de Guaçuí (ES), foi um dos consultados e se manifestou sobre o assunto, em 2017. Ele afirmou ao nosso jornal: "é possível restaurar a fachada do prédio onde está situado o antigo fórum de Bom Jesus do Itabapoana. Coloco-me à disposição dos bonjesuenses para apoiar na restauração'.

A articulação política entre o os poderes públicos municipal e estadual, que culmine com o restabelecimento da fachada e o estabelecimento de um Museu municipal - não necessariamente de modo imediato - é não apenas possível, mas necessária, para resgatar nossa rica história!

João Del'Fiume, especialista em arquitetura, de Guaçuí (ES), afirmou ao O Norte Fluminense 
que "é possível restaurar a antiga fachada do prédio"

Descrição de itens do croqui elaborado por João Del'Fiume, especialmente para o jornal O Norte Fluminense 

O palacete de Malvino de Souza Rangel foi incorporado ao patrimônio do estado, se tornou sede do fórum e, depois, foi demolido para a edificação da sede "moderna" do fórum. Hoje, o "caixote" é ocupado por repartições públicas.

A despedida do nosso palacete

A foto que segue marcou a despedida do palacete construído por Malvino Leite na década de 1930, que foi demolido, em seguida, para a construção do novo prédio do fórum.

Juiz de Direito, Promotor de Justiça, funcionários do 1º Ofício, 2º Ofício, do Registro Civil e demais serventuários estão na foto.

Foto cedidas ao Espaço Cultural Luciano Bastos (ECLB) pelo magistrado Dr Luiz Alberto Nunes da Silva

Os presentes na despedida do palacete de Malvino: José Borges Filho, Dr. Elcy de Souza, Ronaldo Almeida, Yolle Mello Teixeira, Helvio Almeida, Ronei Almeida, Elói, Filhinho Barreto Loretti, Dr. Sebastião Freire Rodrigues, Dr. Geraldo Batista, Carlos Quintino, Dr. Francisco Batista de Oliveira, Braz Cyrillo (trabalhou na empresa que construiu o novo prédio), Leonides Catharina, Dr Guth Gallo, Dr. Nivaldo Valinho, João Batista Vieira (Bulaia), Dr. Luiz Alberto e Paulinho Lupinha.