segunda-feira, 7 de julho de 2025

Sob o céu da Alva Pomba


Imagem de "Bom Jesus do Itabapoana - Sempre em meus pensamentos - Vida, Paz e Amor", de Rogério Loureiro Xavier


O rio era largo, mas naquela manhã de 1842, parecia não ter fim.

As águas do Itabapoana corriam lentas, carregando mais do que galhos e folhas — levavam as esperanças de três canoas que rasgavam a neblina do amanhecer. Eram homens vindos de Rio Novo, Minas, de região da Zona da Mata sem nome e das serras de sombra antiga. Antônio José da Silva Neném guiava a primeira, os olhos firmes no horizonte. Ao lado, o português Manoel Gomes Alves, e o silencioso Manoel da Silva Fernandes — o Monarca — mantinham o remo firme como quem finca uma estaca no destino.

Ao redor, só mata. Densa, quente, viva. Era um mundo sem igreja, sem rua, sem calendário. Um lugar que ainda não tinha nome, mas onde algo novo nasceria. Neném dizia, ao amarrar as redes:

— Aqui, a gente finca raiz.

Naquele ponto do rio, um tempo se abriu. Foi ali, sem saber, que eles lançaram a semente de um povoado — que um dia teria praça, música, festa e fé. Seria chamado de Bom Jesus do Itabapoana, mas naquele instante, era só um sopro de silêncio, interrompido pelo chocalho dos grilos e pelo barulho do machado abrindo espaço no mato alto.

Mais ao fundo, Antônio Teixeira de Siqueira, Manoel Pinto de Figueiredo e Antônio dos Santos Lisboa ainda não haviam chegado. Padre Antônio Antônio Francisco de Mello ainda não nascera. Francisca de Paula Figueiredo Soares nem sonhava em bordar bandeiras para a Festa do Divino. Mas tudo estava em germinação: a fé, a política, o conflito, o poder, e a poesia do povo simples.

E enquanto os homens fincavam seus nomes no chão, o céu, azul e aberto, já escrevia a história deles em silêncio, como quem sopra hinos sobre pombas invisíveis no alto da mata.














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