segunda-feira, 7 de julho de 2025

Um mistério sobre Padre Antônio Francisco de Mello

                                        por Gino Martins Borges Bastos 


Padre Antônio Francisco de Mello 

Naquele 13 de agosto de 1947, o dia amanheceu em Bom Jesus do Itabapoana com um céu pesado, chuvoso, como se a própria natureza pressentisse o fim de um ciclo. 

O açoriano Padre Antônio Francisco de Mello, filho de lavradores, nascido na ilha de São Miguel, que aqui chegou no dia 18 de junho de 1899, sentiu a fraqueza tomar conta, mas seu olhar não perdia o brilho. Pouco depois, contudo, em sua pequena casa, rodeado pelos poucos amigos e fiéis, — ele fechou os olhos para sempre.

Mas o que aconteceu com seus bens pessoais, sua batina e sua biblioteca, permanece um mistério até hoje. A aldeia nunca soube para onde foram seus cadernos e seus livros.

Muitos anos depois, em um velho alfarrábio escondido entre as ruelas tortuosas de Lisboa, em Portugal, Dr. Márcio Pacheco folheava livros antigos, quando seus olhos pousaram sobre um caderno desgastado pelo tempo, com fragmentos manuscritos.

As páginas amareladas guardavam uma caligrafia firme e bela — manuscritos que narravam a fé, a coragem e o sonho de um homem distante, que, somente posteriormente, ao folhear com cuidado em sua casa, observou que se tratava de obra do padre açoriano Antônio Francisco de Mello.

O mistério dos seus escritos, que nunca foram publicados em vida, começava ali a ganhar voz.

Dr. Pacheco sentiu o peso da descoberta: aquelas palavras eram mais do que simples registros — eram pontes entre gerações, entre ilhas e continentes, entre o silêncio e a palavra.

E naquele instante, o legado invisível do padre se tornou visível, iluminando os caminhos da memória e da esperança.

Porque, às vezes, o que parece perdido está apenas aguardando o tempo certo para ser reencontrado.

Os manuscritos constituem provas vivas de que a obra de Antônio ultrapassou os mares e o tempo, resistindo à perseguição e ao esquecimento.

O legado invisível de Padre Antônio Francisco de Mello segue silencioso, mas vivo — uma chama que nunca se apagou.




MORRER SONHANDO 

Padre Antônio Francisco de Mello 


Cedo, bem cedo, perderei a vida,

planta ferida no mimoso pé.

Teu desengano perecer me ordena,

na idade plena de esperança e fé.


Porém a morte me é suave e doce

como se fosse uma ilusão de amor;

embora eu sinta que uma luz se apaga

outra me afaga de eternal fulgor.


Morrer sonhando! Como é doce a morte!

Que vale a sorte que esta vida tem?!

A vida é sempre uma fugaz mentira,

a morte aspira a realidade além.


Morre este corpo de servil matéria,

baixa à miséria de funéreo pó,

porém minha alma sempre viva sonha

vida risonha não mereço dó.


Beijo-te a mão que me assassina e creio

que ela veio me libertar ao fim.

Morrer sonhando é despertar na glória;

eis a vitória! Morrerei assim.

Um comentário:


  1. Viva Padre Mello!👏👏
    Isso ressalta a enorme importância do seu legado para a história e cultura de Bom Jesus.

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