sexta-feira, 13 de dezembro de 2013






A droga da mídia

      Luciano Rezende



         Tanto o senador Zezé Perrela, como seu filho e deputado estadual Gustavo Perrela, merecem respeito no tratamento do caso em que o helicóptero da família foi apreendido com quase meia tonelada de cocaína. Pode ser que eles não tenham envolvimento direto no caso, mesmo sendo proprietários do helicóptero e patrões do piloto que transportava a droga - usando combustível pago pela Assembleia do Estado de Minas Gerais. Nunca é demais ressaltar a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 que diz que “toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada (...)”.



            Além do mais, não é saudável para a democracia brasileira pautar o debate político em cima do velho e surrado discurso moralista - embora tráfico de drogas extrapole a questão moral -, fundamentado na abominável tática lacerdista de execração de personalidades públicas, baseando-se apenas em suspeitas. Todo cuidado é pouco para não entrar no mesmo jogo despolitizado da direita brasileira que prefere discutir pessoas que debater ideias e projetos. Entretanto, não se pode jamais deixar de denunciar o comportamento da grande mídia no tratamento desse caso.



            Essa mesma mídia que levou José Genoíno a se afastar da presidência do PT em razão de um assessor de seu irmão carregar dólares da cueca, se silencia diante do carregamento de meia tonelada de cocaína transportada no helicóptero do proprietário que, diga-se de passagem, é aliado de primeira grandeza de Aécio Neves.



            Essa mesma mídia que tempos atrás ecoou a versão do caseiro Francenildo, acusando o ex-ministro Antônio Palocci de reunir em sua residência lobistas e promover festas com garotas, sequer deu voz ao piloto do Perrela que transportava a cocaína e tampouco divulgou sua versão dos fatos. A palavra do caseiro - sem qualquer prova apresentada - foi mais valorizada pela grande mídia do que a alegação de inocência do ministro da Fazenda do governo Lula. Mas desta vez, o piloto do senador parece já ter sido condenado pela mídia como o único responsável pelo crime, mesmo com várias provas que envolvem direta ou indiretamente os Perrelas.

           

            Essa mesma mídia que deu espaço para deputados e senadores da oposição reivindicarem criações de um sem-número de CPIs para investigar casos envolvendo os governos Lula e Dilma, agora dá espaço apenas para Zezé Perrela acusar seus detratores de estarem perseguindo a ele e seu filho.



            Tantos outros exemplos poderiam ser citados para demonstrar a parcialidade da grande mídia privada no país. Não fossem as redes sociais, esse caso envolvendo uma das maiores apreensões de droga no país, teria passado despercebido.



            Demorou três dias para que o portal de notícias da Globo (Globo.com) colocasse uma matéria secundária relatando a apreensão da droga no helicóptero do senador. Na maior rádio de Minas, o Jornal da Itatiaia divulgou e comentou a apreensão de uma pequena quantidade de droga com uma jovem pega na rodoviária de Belo Horizonte trazida do Paraguai, execrando a adolescente que, na opinião do comentarista se beneficiava da condição de menor de idade, e se silenciou até o dia de hoje sobre esse caso de tráfico de cocaína de fazer inveja a Pablo Escobar. Condenam o tráfico no varejo e se calam quando é apreendido no atacado.

           

            Por isso, é mais fácil Zezé e Gustavo Perrela serem inocentes do que eximir de culpa essa mídia drogada, extasiada com o poder que tem de manipular as notícias em benefício de seus interesses mais sórdidos e viciados.

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