A
droga da mídia
Luciano Rezende
Tanto o senador
Zezé Perrela, como seu filho e deputado estadual Gustavo Perrela, merecem
respeito no tratamento do caso em que o helicóptero da família foi apreendido
com quase meia tonelada de cocaína. Pode ser que eles não tenham envolvimento
direto no caso, mesmo sendo proprietários do helicóptero e patrões do piloto
que transportava a droga - usando combustível pago pela Assembleia do Estado de
Minas Gerais. Nunca é demais ressaltar a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 que diz que “toda
pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente até
que a sua culpabilidade tenha sido provada (...)”.
Além
do mais, não é saudável para a democracia brasileira pautar o debate político
em cima do velho e surrado discurso moralista - embora tráfico de drogas extrapole
a questão moral -, fundamentado na abominável tática lacerdista de execração de
personalidades públicas, baseando-se apenas em suspeitas. Todo cuidado é pouco
para não entrar no mesmo jogo despolitizado da direita brasileira que prefere
discutir pessoas que debater ideias e projetos. Entretanto, não se pode jamais
deixar de denunciar o comportamento da grande mídia no tratamento desse caso.
Essa
mesma mídia que levou José Genoíno a se afastar da presidência do PT em razão de
um assessor de seu irmão carregar dólares da cueca, se silencia diante do carregamento
de meia tonelada de cocaína transportada no helicóptero do proprietário que,
diga-se de passagem, é aliado de primeira grandeza de Aécio Neves.
Essa
mesma mídia que tempos atrás ecoou a versão do caseiro Francenildo, acusando o
ex-ministro Antônio Palocci de reunir em sua residência lobistas e promover
festas com garotas, sequer deu voz ao piloto do Perrela que transportava a cocaína
e tampouco divulgou sua versão dos fatos. A palavra do caseiro - sem qualquer
prova apresentada - foi mais valorizada pela grande mídia do que a alegação de
inocência do ministro da Fazenda do governo Lula. Mas desta vez, o piloto do
senador parece já ter sido condenado pela mídia como o único responsável pelo
crime, mesmo com várias provas que envolvem direta ou indiretamente os
Perrelas.
Essa
mesma mídia que deu espaço para deputados e senadores da oposição reivindicarem
criações de um sem-número de CPIs para investigar casos envolvendo os governos
Lula e Dilma, agora dá espaço apenas para Zezé Perrela acusar seus detratores
de estarem perseguindo a ele e seu filho.
Tantos
outros exemplos poderiam ser citados para demonstrar a parcialidade da grande
mídia privada no país. Não fossem as redes sociais, esse caso envolvendo uma
das maiores apreensões de droga no país, teria passado despercebido.
Demorou
três dias para que o portal de notícias da Globo (Globo.com) colocasse uma
matéria secundária relatando a apreensão da droga no helicóptero do senador. Na
maior rádio de Minas, o Jornal da Itatiaia divulgou e comentou a apreensão de
uma pequena quantidade de droga com uma jovem pega na rodoviária de Belo
Horizonte trazida do Paraguai, execrando a adolescente que, na opinião do
comentarista se beneficiava da condição de menor de idade, e se silenciou até o
dia de hoje sobre esse caso de tráfico de cocaína de fazer inveja a Pablo
Escobar. Condenam o tráfico no varejo e se calam quando é apreendido no
atacado.
Por
isso, é mais fácil Zezé e Gustavo Perrela serem inocentes do que eximir de
culpa essa mídia drogada, extasiada com o poder que tem de manipular as
notícias em benefício de seus interesses mais sórdidos e viciados.
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