segunda-feira, 13 de março de 2023

Zé Caganeira e outras histórias

 






O Norte Fluminense entrevistou Tião Cosme, em 2016, na Barra do Pirapetinga. Ele casou-se com Cenira Florenço Almeida Rosa, de Sacramento, e possui 14 filhos: Florenço, Sebastião, Paulinho, Roberto, Neli, José, Gracinha, Helena, Valdéia, Sirlene, Clarice, Maria das Graças, Claudia e Alessandro.


Tião Cosme é uma das personalidades da Barra do Pirapetinga. 

Seguem apontamentos relevantes para a história de nosso município.

"Duas tropas serviam as Fazendas São Tomé e das Areias, localizadas em Pirapetinga de Bom Jesus.

Elas levavam café, milho,arroz, feijão.

Cada lote tinha 10 burros.

Havia um carro de boi em cada fazenda e dois tropeiros em cada lote. Todos com burro de guia, com seis guizos no pescoço.

Em Rosal, havia o Alvim Tropeiro.

Na Serrinha, havia Sebastião Mulato e Valinho. 

Havia um "arreeiro", em Córrego da Chica, Boa Ventura.

Episódio que marcou a comunidade foi o assassinato de Osório Garrafão.

A Fazenda do Meio fica localizada na saída da Barra, à esquerda de quem vai para Rosal.

Havia um policial conhecido como Zé Caganeira. Sei do seguinte episódio:

"Antônio Adão chegou na entrada de um baile, e se deparou com Zé Caganeira, que era o porteiro, e não queria deixá-lo entrar. Antônio se revoltou e disse: " - minhas filhas estão no baile!". Antonio, então, levantou Zé Caganeira com a mão. O Chico Magalhães, dono do bar, chegou na hora da confusão e falou para o soldado Zé Caganeira: '- deixa o Antônio Adão entrar, se não você vai ter de matá-lo".

Outra história: "apareceu um matador, na região, que vendia seus serviços. Ele foi contratado por um proprietário no Sacramento, para matar uma mulher que estava grávida. Ela correu dele e entrou num pequeno lago, morrendo afogada. Nesse local foi fixada uma cruz. Cavalgando por uma estrada, eu o encontrei e perguntei sobre o local onde ele morava. Ele simplesmente respondeu: " - o céu é o teto de minha casa!" 


Outra história é sobre o Quim Jacó e Severo Coco. "São outros nomes de fama. Eram bravos e matadores.

"Colocavam cruzes onde matavam as pessoas.

"Eles se desentenderam na Serônia, e Jacó acertou um tiro de espingarda 21 em Severo Coco, que foi socorrido e se recuperou meses depois. Este comprou, então, envelope, caneta e carta, e enviou para Quim Jacó, com os seguintes dizeres: "Você não soube atirar, você vai ver como se mata um homem!".

"Severo Coco ficou de tocaia numa pedra alta. Escondido, sem comer, ou comendo mal, por vários dias. Um dia, Quim Jacó veio de cavalo, e Severo Coco atirou de forma certeira! Severo chegou diante do cadáver de Quim Jacó, bateu com a coronha da espingarda na sua cabeça e disse: "você é um patife e não sabe atirar!".

"Severo Coco morreu no Alcantilado, Guaçuí, em uma cama de palha de bananas.

Segundo Tião Cosme,  "quase que eu entrei numa dessas. Uma mulher branca e linda deu em cima de mim e passei a ter um caso com ela. Ocorre que ela era desejada por um proprietário, que contratou Zé Baiano para me matar. Por três vezes eu consegui sair da casa da mulher e desvencilhei-me do pistoleiro que ficava me aguardando do lado de fora da casa. Tive que me transformar de minha forma humana, para conseguir me salvar. 

"Socorri-me com o caxambu, assim: "pedi licença à lua, etc.. e tal... Ninguém conseguiu decifrar:

"Tira o couro dessa nega
Quero ver ela na pele
Quero ver se ela ainda tem a marca
Do tempo do cativeiro

O tatu tá cavucando
A terra tá
Eu pergunto ao João Gueira
Onde a terra tá vindo

Plantei uma angola
Na raiz saiu guiné
O cemitério novo
A catacumba é de quem é

Lá na lagoa preta
Não tinha você e nem tal bar
Lá apareceu um bezerro macho
Me conta como foi..."










JACOZINHO E SEVERO COCO


O livro ROBERTO SILVEIRA, A PEDRA E O FOGO, de José Sérgio Rocha, editora Casa Jorge, menciona uma história envolvendo Jacozinho e Severo Coco, mencionado por Tião Cosme.

Um homem procurou Boanerges Silveira, pai dos ex-governadores Roberto e Badger Silveira, pois ele  que costumava orientar as pessoas em conflito.  Disse, então, a Boanerges, que estava preocupado com Jacozinho, esposo de sua filha, pois ele estava pensando em se separar, sob a alegação de que o casamento, após meses, não teria se consumado.

João Luís Carreiro, de Calheiros, também conta a respeito do episódio envolvendo Jacozinho e Severo Coco. João Luis é filho de João Jacinto Carreiro Jr e Aída Bartolazzi. Os avós maternos são Luís Bartolazzi e Claudina de Souza Bartolazzi. O avô paterno é o português João Jacinto Carreiro, mas não tem informação sobre o nome de sua avó materna.

Possui três irmãos do primeiro casamento de seu pai com Olívia: Maria, Alcendina (falecida) e Ivanir, e três do casamento com Aída, após ficar viúvo: Maria Aparecida, Rita e Olívia. Após seu segundo casamento, Luís Bartolazzi mudou-se da Serra da Boa Vista para Pirapetinga de Bom Jesus.

Segundo João Luís Carreiro, "Jacozinho era, no início, uma pessoa muito simples, caipira. Não sabia nada. Ocorre que, depois, virou matador.

Na região, havia outro matador, o 'toqueiro'  (de tocaia) Severino Coco, capanga do fazendeiro Olímpio Cunha, que fez um forte confronto com a família Bárbara. Houve muita morte. Sei que Olímpio Cunha teve que fugir da região escondido por debaixo de um carro-de-boi que levava milho, dentro de um caixote grande.

Jacozinho fez tocaia para Severino Coco e conseguiu feri-lo. Em seguida, fugiu, para não ser morto pelos capangas de Olímpio Cunha.

Tempos depois, quando tudo se acalmou, Jacozinho retornou à região. Meu avô Luís Bartolazzi, que era subdelegado, chegou a apreender uma espingarda de Jacozinho, depois que Getúlio Vargas promulgou uma lei de desarmamento. Jacozinho ficou bravo com meu avô.

A prima de Jacozinho, Luzia de Souza Oliveira, residente em Calheiros,  confirma a história. "Jacozinho ficou escondido por 3 dias dentro de um armário de cozinha, na Serra da Boa Vista, conhecida como Serra do Bartolazzi, próximo da Serônia. A polícia chegava procurando por ele e sua esposa, conhecida como Maria Peitinho, que ficava na frente do armário e dizia que não sabia onde ele estava. Depois, Jacozinho empreendeu uma fuga espetacular através de cavalos que ia pegando ao longo do caminho, até chegar no Paraná. Antes de fugir, Jacozinho ficou escondido em um alto galho de árvore. Escreveu, então, um bilhete, que colocou no pescoço da vaca leiteira que era da família, certo de que Maria Peitinho iria lê-lo. No bilhete, Jacozinho escreveu que estava fugindo e que era para cuidar dos filhos. Maria Peitinho tinha dois filhos  e estava grávida do terceiro.

Por causa do grande número de matadores na região, na época, foi nomeado como Delegado Militar da região o Tenente Coracy de Souza Ferreira.



Tenente Coracy de Souza Ferreira foi nomeado delegado para combater a criminalidade em nossa região (extraído do jornal "A Voz do Povo")







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