Retorno do jornal O Norte Fluminense após 13 anos
"Nasci no café" (Francisco Ridolphi Degli Esposti)
Degli Esposti significa ‘abandonado" (Professor Paulo Ridolphi Degli Esposti)
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Francisco Ridolphi Degli Esposti, seu filho Mathias José Souza Degli Esposti, Paulo Fernando Degli Esposti Ridolphi, Júlio Cesar Degli Esposti Ridolphi com André Luiz de Oliveira e Paulino José Rocha de Souza
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O jornal O Norte Fluminense retornou à Fazenda Santa Rita, na parte alta de Calheiros, terra dos ex-governadores açordescendentes Roberto e Badger Silveira, após treze anos. O reencontro com a paisagem e com as histórias locais reacende a memória das reportagens de 2012, quando foram publicadas as matérias “Café brasileiro com pão italiano de Calheiros” (25 de junho) e “Uma saga italiana em Bom Jesus do Itabapoana” (22 de julho).
Naquele tempo, a objetiva do jornal registrou Francisco Ridolphi Degli Esposti e seu filho Mathias José Souza Degli Esposti, ainda criança (ver foto abaixo). Desta vez, ambos estavam acompanhados de Paulo Fernando Degli Esposti Ridolphi, Júlio Cesar Degli Esposti Ridolphi e do professor Paulo Ridolphi Degli Esposti. Os descendentes das famílias italianas Ridolphi e Degli Esposti têm como patriarca o italiano Cesário Degli Esposti, cujo nome permanece vivo tanto nas narrativas familiares quanto nos sulcos dos cafezais que atravessam gerações.
A Fazenda Santa Rita mantém, como batimento constante, a cultura do café, que segue sendo a grande vocação da região. Ao redor, o gado pasta com a calma que o relevo permite, e outras culturas surgem como notas secundárias de um mesmo compasso rural. A agropecuária continua sendo o eixo econômico local, e o café, seu brilho mais intenso. As boas práticas de cultivo, como o adensamento do cafeeiro arábica, ampliam a produção sustentável e elevam a renda dos produtores, consolidando a região como ponto turístico reconhecido por suas plantações. A bovinocultura de corte e leite, forte em toda a área, complementa essa paisagem produtiva.
Nos últimos anos, desponta também o cultivo de cacau, enquanto culturas de menor escala, cana-de-açúcar, aipim, hortaliças e frutas como banana e abacaxi, alimentam a agricultura familiar e diversificam o horizonte agrícola da comunidade.
Quem vive aqui afirma, quase em uníssono, a satisfação de permanecer neste território onde o tempo corre sem pressa, e a vida se desenrola com dignidade e tranquilidade. "Aqui ninguém pensa em morar na cidade", afirma Francisco, com um modo de se expressar orgulhoso.
Os sinais de prosperidade surgem discretos, mas firmes. A pequena Capela de Nossa Senhora de Lourdes, elevada em 2023 à condição de Paróquia Pessoal de Nossa Senhora de Lourdes, arrecadou cerca de três toneladas de produtos agrícolas em setembro passado, destinadas ao Abrigo dos Velhos José Lima, gesto coletivo que revela a força social da região.
Após as fotos, o jornal O Norte Fluminense retorna às palavras e imagens publicadas há treze anos, resgatando fragmentos da memória local.
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| André Luiz de Oliveira e o Professor Paulo Ridolphi Degli Esposti |
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Igreja Matriz da Paróquia Pessoal de Nossa Senhora de Lourdes, erguida entre o café e o sopro verde da mata
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Café brasileiro com pão italiano de Calheiros
25 de junho de 2012
Os italianos que aportaram no Brasil no final do século XIX vieram, em grande parte, para trabalhar nas lavouras de café. Na Fazenda Santa Rita, em Calheiros, essa história permanece viva na figura de Francisco Ridolphi Degli Esposti, descendente das famílias Ridolphi e Degli Esposti. Neto de Cesário Degli Esposti e filho de Geraldo e Antônia Degli Esposti, Francisco vive do café ao lado da esposa Terezinha de Fátima Degli Esposti e dos quatro filhos: Maria Mabiani, Matias, Jeanna Bernadete e Gabriela de Lourdes.
“Nasci no café”, afirma, enquanto prepara os grãos recém-colhidos no terreiro em frente à casa. Ele relata sua participação, desde o ano anterior, no projeto Bule Cheio, do Ministério da Agricultura, que impulsionou a produção e elevou a qualidade do café: “Antigamente não fazíamos análise do café; agora mudamos até a técnica de plantio, e os resultados aparecem.”
Culinária italiana
A reportagem adentrou a casa da matriarca Maria Ridolphi, filha de Prudência Capacci e do italiano Fernando Ridolphi, para provar o café da fazenda e o autêntico pão italiano.
Conta-se que os deuses, ao oferecerem o ambrósio a um mortal, despertavam nele uma felicidade profunda. A degustação do café e do pão preparados por Terezinha e Penha Degli Esposti, sob a orientação de Maria, permite imaginar que um fragmento desse manjar divino foi preservado ali: o pão italiano da Fazenda Santa Rita, herança saborosa que atravessa o tempo.
Uma saga italiana em Bom Jesus do Itabapoana
22 de julho de 2012
Subindo a serra, chega-se à Fazenda Santa Rita, onde se encontram descendentes das famílias Degli Esposti, Ridolphi, Bompani e Capacci. Segundo relata o professor Paulo Ridolphi Degli Esposti, seus bisavós italianos, Carlos Degli Esposti e Maria Bompani, vieram de Crespelano, província de Bolonha. O avô, Cesário Degli Esposti, também italiano, casou-se com Ernestina Bondrini e chegou ao Brasil ainda criança, em 1897, no navio Agordat, acompanhado dos irmãos Terezinha e Augusto.
Instalaram-se inicialmente na Fazenda Pavão, perto da Braúna, e depois em Independência e São Benedito, localidades de Água Limpa, distrito de Calheiros.
Na casa da Fazenda Santa Rita, onde café, milho, leite e ovos sustentam a rotina, vivem Paulo, sua mãe Maria Ridolphi Degli Esposti, e os irmãos Penha Ridolphi Degli Esposti, Filomena Catarina Degli Esposti, Lúcia Ridolphi Degli Esposti e José Francisco Ridolphi.
Maria, nascida em 29 de agosto de 1929, é descendente dos Capacci. Lembra-se dos avós italianos, embora admita que “ninguém entendia o que eles falavam”. Seu relato preserva o fio da memória imigrante que ainda pulsa na região.
Paulo estudou a origem da família e registrou sua história. O jornal O Norte Fluminense transcreve trechos autorizados desse documento:
“Carlos Degli Esposti nasceu na Itália. Foi criado em orfanato e não conheceu pai nem mãe. Aos que eram criados no orfanato, dava-se um sobrenome: Degli Esposti significa ‘abandonado".
Carlos era casado com Maria Bompani. Ambos eram de Crespellano, província de Bolonha. Migraram para o Brasil desembarcando no Rio de Janeiro em 2 de julho de 1897, no navio Agordat, com os filhos Augusto, de sete anos; Teresa, de quatro; e Cesário, de dois. Todos nasceram e foram batizados na Paróquia de Crespellano.”
Fotos das matérias publicadas no jornal O Norte Fluminense, "Café brasileiro com pão italiano de Calheiros" e "Uma saga italiana em Bom Jesus do Itabapoana", há 13 anos
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| Francisco Rodolphi Degli Esposti e seu filho Mathias José Souza Degli Esposti |
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| Maria Rodolphi |
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| Penha e Terezinha Degli Esposti: habilidade italiana na cozinha |
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| Os deliciosos pães italianos |
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| Paulo Ridolphi Degli Esposti e uma antiga máquina usada para formação de mudas de café, na Fazenda Santa Rita |
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No dia 07/07/1897 o navio Agordat partiu de Genova, Itália, com destino ao Rio de Janeiro |
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| O patriarca Cesário Degli Esposti e netas, na Fazenda Santa Rita, em 1975 |