sábado, 8 de novembro de 2025

'Sacrifício não valeu a pena': Veterano da 2ª Guerra lamenta situação atual do Reino Unido


O veterano Alec Penstone, então com 98 anos, presta continência enquanto discursa diante da estátua do Marechal de Campo Montgomery durante a cerimônia do Spirit of Normandy Trust em Coleville-Montgomery, França, às vésperas do 80º aniversário do Dia D, em 5 de junho de 2024.


Alec Penstone afirmou em entrevista à mídia britânica que o país "está muito pior" do que quando defendeu sua liberdade.


O mundo gira, mas nem sempre avança. Há épocas em que o relógio da História parece fazer tic-tac ao contrário, como se a promessa de um futuro mais luminoso tivesse sido escrita a lápis, fácil de apagar, fácil de esquecer. A teoria do progresso contínuo, tão confortável quanto ilusória, imaginou que a humanidade seguiria uma linha reta, semelhante à evolução descrita por Darwin. Mas a biologia nunca garantiu virtude, e a sociedade nunca garantiu sabedoria.

O progresso tecnológico cumpriu sua parte: elevou máquinas, conectou continentes, ampliou vozes. Contudo, enquanto circuitos se sofisticam, consciências parecem embrutecer. A contradição dói: cresce o alcance das mãos, encolhe a grandeza dos gestos.

É nesse cenário que o depoimento de Alec Penstone, veterano centenário da Segunda Guerra, ecoa como um lamento antigo que de repente soa atual. Ele viu a barbárie de perto, atravessou o frio cortante da Normandia e carregou consigo a fé de que valia a pena lutar por liberdade. E agora, diante do país que ajudou a salvar, confessa que o sacrifício “não valeu a pena”. Suas palavras são duras porque vêm de quem já viu o fundo do abismo e reconhece, com tristeza, que a borda se aproxima novamente.

A reflexão se estende para além do Canal da Mancha. Também aqui, onde a cordialidade é mito e a polarização se fez hábito, dois lados se devoram como se a nação fosse campo de batalha permanente. A crítica virou crime simbólico; a discordância, ameaça. Cancelam-se pessoas como quem apaga arquivos: rápido, sem remorso. A liberdade de expressão, que deveria ser espaço arejado, tornou-se sala estreita vigiada por sentinelas de todos os espectros.

O retrocesso civilizatório não acontece de uma vez. Ele se insinua no tom de voz, nos rótulos fáceis, no medo de falar, no silêncio escolhido para evitar feridas que já não cicatrizam. É assim que sociedades se encolhem. É assim que democracias perdem cor.

Alec Penstone, aos 100 anos, olha para trás e para frente ao mesmo tempo. Viu jovens morrerem por um ideal e agora vê o ideal perder sentido para muitos. Sua tristeza não é apenas memória: é advertência.

Talvez a crônica do nosso tempo seja esta: a tecnologia corre, a civilização manca, e cabe a nós decidir se continuaremos tropeçando, ou se ainda haverá alguém disposto a reconstruir, com paciência e lucidez, o país e o mundo pelos quais tantos lutaram.

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O veterano britânico Alec Penstone, de 100 anos, declarou que vencer a Segunda Guerra Mundial "não valeu a pena", diante do que considera o atual estado de deterioração do Reino Unido. A afirmação aconteceu durante o programa Good Morning Britain, nesta sexta-feira (7).

"Meu recado é que consigo ver claramente aquelas fileiras e fileiras de pedras brancas e as centenas de amigos que deram a vida. Para quê? Para o país de hoje? Não, sinto muito, mas o sacrifício não valeu a pena pelo resultado atual", afirmou Penstone.

Questionado sobre o que quis dizer, o veterano acrescentou: "Lutamos por nossa liberdade, mas agora está muito pior do que quando lutei por ela".

Os apresentadores agradeceram a Penstone por seu serviço e prometeram "continuar construindo o país pelo qual ele lutou". Emocionado, o ex-combatente respondeu: "Fico muito feliz em saber que existem pessoas como vocês que podem difundir a informação".

Durante a transmissão, uma integrante da banda D-Day Darlings, conhecida por interpretar músicas da época da guerra, presenteou o veterano com um novo álbum, "como um presente especial".

"Para agradecer a você e a outros como você por seus muitos e corajosos anos de serviço", afirmou a apresentadora.

Penstone tinha apenas 15 anos quando a Segunda Guerra Mundial começou, em 1939. Ele se voluntariou como mensageiro entre 1940 e 1941 e, posteriormente, ingressou na Marinha Real britânica, participando do desembarque da Normandia em junho de 1944.

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