domingo, 9 de novembro de 2025

A Tragédia Cultural de um País que Virou Pipoca

A Sofrida Derrota da Cultura Brasileira

Hoje só temos músicas que não enfrentam nada, não contestam nada, não protegem nada

Hoje, lamentavelmente, caminhamos por um Brasil onde as músicas parecem ter esquecido o próprio país.

Atravessam nossos ouvidos leves como espuma, sem carregar nada além de um brilho raso, feito pipoca que estoura rápido e some, um gosto que não alimenta, só distrai.

Enquanto isso, longe do nosso litoral e das nossas distrações tropicais, no Festival Internacional Intervision, a música brasileira canta a pipoca que estoura a dor enquanto a vietnamita diz que tem que escrever a história hoje, e vence a competição (as letras das canções brasileira e vietnamita estão ao final deste texto). 

O Vietnam canta sua história, sua dor, sua resistência.

Canta o amor pela nação como quem segura um bambu no meio da tempestade: firme, flexível, invencível.

E nós?

Nós, que desde o nascimento fomos banhados por um rio interminável de canções, flutuamos sem perceber que esse rio nunca correu livre.

Ele sempre foi canalizado, represado, desviado por mãos invisíveis, e outras muito visíveis, que decidiram o que merecíamos ouvir.

Essas músicas que tocaram nas rádios, nos programas de auditório, nas novelas, nos jingles de propaganda…

Todas elas formaram um grande guarda-chuva sobre nossas cabeças: um abrigo colorido, confortável, mas que nos impediu de olhar o céu.

Impediu que víssemos a chuva verdadeira, a chuva das questões urgentes, dos gritos abafados, das lutas não cantadas.

Durante décadas, gravar uma música no Brasil não foi um gesto íntimo entre o artista e sua arte.

Foi um pacto com o poder: o poder das gravadoras, dos produtores, dos programadores de rádio que decidiam quem merecia voz, e quem permaneceria silencioso.

Nada nunca foi espontâneo.

Nada nunca foi tão inocente quanto as melodias azuis que embalavam nossas noites de novela.

O sucesso, como sempre, foi arquitetado.

Moldado.

Minerado.

Pago.

Sim, pago, como se o gosto popular fosse uma conta bancária que pudesse ser abastecida com publicidade, repetição e persuasão.

Afinal, o que é uma música repetida cem vezes no rádio senão uma verdade inventada que a gente acaba acreditando?

E assim crescemos: ouvindo sem escutar, cantando sem compreender, aceitando sem escolher.

Hoje, quando procuramos canções de crítica social, consciência, indignação, encontramos repetições longínquas, quase fantasmas de um Brasil que um dia cantou sua fome, sua luta, sua utopia.

Agora, predominam canções neutras, leves, anestesiantes.

Músicas que não enfrentam nada, não contestam nada, não protegem nada.

Músicas que, no máximo, fazem companhia, mas nunca fazem pensar.

Quem sabe por isso o poema do bambu vietnamita soa mais alto: porque lembra que a música pode ser arma, memória, história, escudo.

Pode ser coragem.

Pode ser nação.

E talvez, só talvez, esteja nos faltando isso: músicas que não estouram e desaparecem, mas que finquem raiz.

Músicas que nos devolvam o céu que o guarda-chuva da indústria cultural escondeu.

Músicas que não tenham medo de dizer aquilo que, há tanto tempo, fingimos não ouvir.



Duc Phuc venceu o Intervision 




Seguem as letras das músicas brasileira e vietnamita
.


PIPOCA COM AMOR 

Taís Nader e Luciano Calazans


Todo dia María 

Se veste de alegria

Canta pra animar

Dança pra desestressar

Põe comida na mesa

se veste da certeza

que vai prosperar

pois vai trabalhar

Atô Nã 

Faz, ela faz

E faz mais, muito mais

Faz, ela faz

O que é que Maria faz?

Pipoca com Amor

Pipoca pra sonhar

Pipoca estoura a dor

Leva

Um Sopro de prazer

Pra a dor de um país

Um sonho de ser mais feliz



PHU DONG THIEN VUONG (herói vietnamita)

Duc Phuc


(Introdução)

Desde quando o bambu é verde?

A velha história há muito tempo homenageia o bambu verde

Seu tronco esguio e folhas frágeis,

Mas como ele se torna uma fortaleza, ó bambu.


(Refrão)

O cavalo relincha, investindo ferozmente.

Como uma tempestade furiosa e um vento selvagem 

Com a coragem de um jovem no campo de batalha 

Balançando o chicote de bambu em todas as direções.


(Ponte)

O cavalo relincha atacando ferozmente de 

Como uma tempestade furiosa e vento selvagem 

Com a coragem de um jovem no campo de batalha 

Balançando o chicote de bambu em todas as direções 


A história registra por milhares de anos que 

Um jovem salvando a aldeia 

Ele cavalga o vento em volta aos céus

 Sua fama se espalhando por toda parte 

E assim que nos levantamos 

Marchando com orgulho sem fim 

Hoje à noite temos uma história a escrever 

Estamos escrevendo a história hoje.







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