quarta-feira, 2 de novembro de 2016

O Jardim São Benedito tem estórias pra contar


Heloisa Crespo 


Faz parte de tantas vidas que moram ou moraram lá.
Viveram a sua infância brincando neste jardim,
rodeado de enormes árvores, ouvindo os bem-te-vis.
Os meninos que moravam na rua atrás da igreja,
na rua do Ouvidor, Saldanha Marinho e Príncipe
e outras perto dali, como a rua do Rosário,
jogavam bola, balebas e batiam figurinhas.
Liam e trocavam gibis. Jogavam ‘conversa fora’.
As meninas nas calçadas, em frente das suas casas,
eram cantoras famosas no faz de conta infantil.
Brincavam de ‘passar o anel’, de roda e ‘amarelinha’.
Muitas dessas crianças estudavam numa escola
em frente da caixa d’água, bem pertinho da igreja,
o Instituto Calomeni, com Dona Cecília, Eni,
Vilma, Francisca e Mariquinha, as professoras dali.
A escola já não existe. Só o prédio está por lá,
assim como a serraria que era do ‘seu’ Amilar.
mas existe e funciona a igreja, a caixa d’água,
o coreto e um prédio grande, bem no meio do jardim
que outrora fora uma escola, a Escola Wenceslau Braz.
As crianças acreditavam na presença de fantasmas,
porque vivia fechado. ‘Conversa fiada’ de adultos,
intimidando os pequenos que acreditavam em bobagens.
E passavam ali por perto com os olhos arregalados.
Anos e anos depois o prédio foi reaberto,
acolhendo a ACL que funciona até hoje.
E esta Academia lidera uma homenagem
aos cem anos do Jardim. Na verdade, o centenário
é da Praça cujo nome é Dr. Nilo Peçanha,
a partir do dia cinco de novembro, há cem anos.
O Jardim São Benedito é, sim, sesquicentenário
e já teve vários nomes ao longo da sua história.
E durante a sua vida teve e, ainda tem,
muitos momentos de glória com festas religiosas,
shows e eventos culturais, esportivos e lazer.
É um ponto de encontro para as famílias campistas,
pra casais apaixonados que namoram no coreto,
na pontezinha entre os lagos, trocando juras de amor.
Os laguinhos não tem água e o porquê eu desconheço.
Os pequenos moradores aumentaram de tamanho
e viraram gente grande. Hoje eles são sessentões
a caminho dos setenta, dos oitenta e, quem sabe,
os noventões, aguardando o centenário...
Já pensou que coisa linda alguém com a idade da praça?
Alguém que vive ou viveu bem ali, no seu entorno?
Ah, tem tanto pra contar como era, o que mudou
e se mudou pra melhor, em tantos anos vividos!
Muitos mudaram da praça, indo para outra praça,
outra rua, outro bairro, outra cidade ou país.
Outro planeta, talvez, vivendo na luz, na graça,
como a tia Floriana, Dona Lili que era espírita, 
Naná e Chico Venâncio, Conceição Quintanilha,
Cacida e Lenício Cruz, Roberto Moll, João Neto,
Leda e Dulce Freitas, Zaira e Peri Moreira, Laura
e Sinhô Cordeiro, Lurdes e Manoel Ribeiro...
Diversos filhos e netos frequentam a mesma igreja
dos seus pais, dos seus avós, a Igreja São Benedito,
indo à missa aos domingos, como Anair e Alberto.
O órgão da igreja toca, mas não é Dona Faride.
As procissões acontecem, arrumadas diferentes,
um pouco mais barulhentas, sem o hino “Queremos Deus”.
Há uma pergunta no ar: Essa praça não é nossa?
Não é minha e de todos que por ali transitaram,
morando ou frequentando a escola, a igreja,
o coreto, o laguinho, o campo de futebol
e de vôlei no jardim, a Academia de Letras?
Ela é de tanta gente, como Tereza Venâncio,
Ulisséia Cordeiro, Anair Cruz Fioravanti,
Cristina Moreira, José Geraldo e Renata Crespo,
Carol, Giselda, Geraldo e Chico de Aguiar,
Maria José Mancini e Adahirzinha Moll.

E outros e tantos e tanto outros... 

02/11/2016


Um comentário:

  1. Agradeço muitíssimo a publicação do meu poema. O Norte Fluminense sempre é muito generoso com os meus textos. Heloisa Crespo

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