sábado, 19 de fevereiro de 2022

Duas poesias de Paulo Xavier

 

Paulo Xavier


METRÓPOLE


Meu coração

é uma cidade sombria

com muitas esquinas

e vias vazias

túneis escuros

escadas e muros

vielas e becos

que nem eu conheço

velhos umbrais

e antigas janelas

catedrais de lembranças

colunas partidas

e o vento

do tempo

a soprar entre elas

murmúrio de vozes

em praças esquecidas

sons de batalhas

hálito da morte

e de outras vidas



Meu coração

é uma velha cidade

perdida

daquelas das lendas

antigas

ruínas apenas

que ao pó voltarão

mais cedo ou tarde

e um dia então

haverá uma floresta

em meu coração


             PAULO XAVIER


 


VERMELHA


Há sangue

em minhas veias

e nas tuas


Há sangue

nos becos

e nas ruas


Há sangue

nos cantos

das praças


Há sangue

nos bancos

do bonde que passa


Há sangue

no couro

das botas


Há sangue

do músico

nas notas


Há sangue

no ouro

dos cofres


Há sangue

respingado

nos postes


Há sangue

entre os destroços


Há sangue

dos corpos

nos rostos


Há sangue

dos vivos

nos mortos


Há sangue

do sangue

no sangue


           PAULO XAVIER

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