quarta-feira, 20 de abril de 2022

QUANDO EMIGRAR É PRECISO!



Francisco Amaro Borba Gonçalves


Tornou-se-me muito curioso o fato de ter conhecido vários e importantes detalhes sobre a história da cidade fluminense de Bom Jesus do Itabapoana.

Como imigrante português das ilhas do Arquipélagos dos Açores, fiquei surpreso na referida cidade com os minuciosos registros, salientando muitos relevantes "colonos" de origem açoriana que ali desenvolveram suas vidas, assim como o desempenho de seus descendentes que, nos dias de hoje, estão fazendo um trabalho sério de pesquisa, para resgatar a história maravilhosa da cidade e do Vale do Itabapoana. São estes pertencentes às famílias de nome Borges, Seródio, Rezende, Silveira, Dutra, e, provavelmente, algumas mais. 

Algo surpreendente foi conhecer uma grande parte do estupendo legado de um imigrante especial, de nome Antônio Francisco de Mello, nascido nos Açores, na ilha de São Miguel. Sua passagem por Bom Jesus do Itabapoana foi marcada por grandes feitos, durante os 47 anos em que exerceu a notável missão de Pároco na Igreja Matriz de Bom Jesus, sendo reconhecido e merecedor da maior reverência. Além de ter cumprido seus propósitos, ajudando as pessoas espiritualmente, ele ainda teve uma colaboração muito importante, exercendo o trabalho de topógrafo ou agrimensor; de professor; compositor; músico, etc. Há que se destacar sua capacidade de poeta e escritor.

Além de outras particularidades, ele foi um grande entusiasta em ver e ajudar no desenvolvimento daquela região e do país brasileiro, do qual demonstrou grande afeto. Parece que fez tudo com muita "firmeza" e sem esquecer sua terra açoriana, uma das nove ilhas do Arquipélago, a ilha de São Miguel, sua terra natal, da qual emigrou para o Brasil nos anos 90 do século XIX.

Padre Mello pode ser considerado um emigrante especial, porque, ao contrário da maioria dos emigrantes, ele emigrou por uma vocação ou missão diferente. Ele veio para ser e foi um grande Missionário, tendo em vista os relatos de sua boa influência na sociedade bonjesuense.

O emigrante, em geral, sente uma vocação motivada pela expectativa de conhecer uma nova terra que lhe dê oportunidade de vencer na vida, ou seja, conseguir um "pé de meia" e, então, voltar à sua terra com economias necessárias para ser considerado "alguém na vida". Quase todos os emigrantes açorianos levam em sua "bagagem" uma forte devoção à Nossa Senhora e à Santíssima Trindade, em que se realça o Divino Espírito Santo. Há, também, o fato de que muitos emigrantes açorianos procuravam ir para outro país para "fugir" às guerras que existiram no Ultramar, quando em colônias, ora portuguesas, em África.

São esses os dois principais motivos, os quais não estão relacionados ao nobre e ilustre Padre Mello, que, tudo indica, era iluminado por Deus e continha a humildade de um ser de muita bondade, pois, há muito, poderia ter sido reconhecida a sua personalidade a nível nacional, tanto nos Açores/Portugal, como no seu país imigratório, o grande Brasil.

Naturalmente, Padre Mello deve ter consultado grandes escritores, como, por exemplo, o escritor insigne em letras e virtudes, o grande Gaspar Frutuoso (1552-1591), que era também açoriano da ilha de São Miguel. Outro escritor que marcou época foi Antero de Quental (1842-1891), também da ilha de São Miguel. Outro escritor famoso foi Teófilo Braga (1842-1942), igualmente da ilha de São Miguel. Passo a listar alguns escritores e poetas conterrâneos de Padre Mello, e também contemporâneos: João Jacinto Tavares de Medeiros(1844-1903), Vila do Nordeste; Padre João de Souza (1836-1929), Rabo de Peixe; Prudêncio Quintino Garcia, estudou teologia em Coimbra, formou-se em 1870; Gabriel d'Almeida, escreveu sobre a cultura do chá, do ananás, da fabricação do açúcar; sobre a crise das doenças da cana de açúcar, impresso em 1892; escreveu também sobre Cristóvão Colombo; Padre Manuel José Pires - 1843 - Vila Franca, fez enaltecer o Espírito Santo em seus sermões; Francisco de Assis Furtado - São Miguel - publicações nos anos 80 do século XIX; Francisco Afonso Chaves - 1857 - escreveu sobre as festas do Espírito Santo e sobre Meteorologia; Manuel Duarte - 1867 - Vila do Nordeste; Manuel de Medeiros Franco - 1836/1864 - nascido em Achada.

Padre Mello trazia, talvez, em sua bagagem intelectual, alguns desses escritores e outros mais que deixei de mencionar, pois me alongaria muito.

Portanto, pondo a termo a esta explanação, coloco o açoriano, mui nobre e ilustre Padre Mello, ao lado de bons escritores, ao lado dos imigrantes e ao lado dos bons bonjesuenses, firmes e constantes no propósito de fazer, com firmeza, tudo o que podem em prol de sua história, principalmente às suas raízes açorianas ali existentes na cidade e Vale do Itabapoana. A eles, aos seus antepassados imigrantes, dedico esta minha composição, fruto  de um sentimento verdadeiro, por sê-lo imigrante também:

Nem sempre foi a sorrir
Que tivemos de partir
Da nossa saudosa terra
Nem sempre foi a sorrir
Que tivemos de fugir
De uma maldita guerra


Emigrar foi solução
Para um país irmão
Pra poder sobreviver
Emigrar foi solução
Pra onde nos deram mão:
Brasil! País pra valer.

E, com grande sacrifício
Exercemos nosso ofício
Tentando a nossa sorte
Mas, quando a saudade vem,
A vontade vem também
De querer gritar bem forte:

É a cantar, é a sorrir
Que a nossa vida tem beleza;
Pelos Açores, que é nossa terra
Tudo faremos com firmeza.

De um lugar tão pequenino
Com a força do Divino
E fé na Virgem Maria
De um lugar tão pequenino
Seguimos nosso destino
Enfrentando o dia a dia.

Nesta terra tão imensa
Devotamos nossa crença
Na Santíssima Trindade
Nesta terra tão imensa
Pedimos para que vença
A nossa felicidade

Se o Imigrante é feliz
Foi aqui neste País
Que ele encontrou seu norte
Mas, quando a saudade vem
A vontade vem também
De querer gritar bem forte:

É a cantar, é a sorrir
Que a nossa vida tem beleza
Pelos Açores que é nossa terra
Tudo faremos com firmeza!


(Refrão do cancioneiro popular)




 












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