terça-feira, 24 de outubro de 2023

ETERNIDADE

 Para Romeu Couto 


Jacy Pacheco

 


Que a morte seja o fim, ninguém me persuade.

Que a vida continua além, eu acredito.

Mas como dói pensar nessa continuidade

do solitário ser, espectral e aflito!


Como sobreviver, se na imortalidade

não ouvirmos, sequer, o som do próprio grito?

Terrível deve ser vagar na imensidade

do deserto sem fim do éter infinito!


Senhor, dai-me um fanal! Se vivo num tumulto

de vozes e emoções, a morte faz-me estulto,

impondo solidão e trevas e ansiedade!


Ó Pai, que andais no céu, apascentando estrelas!

No abismo sideral deixai-me sempre vê-las!

Integrai-me na luz da vossa eternidade! 


                                      ***


Em cada amigo que morre,

morre um pouco do meu ser.

E assim a vida transcorre:

ver morrer... até morrer.



Nota do jornal O Norte Fluminense: Jacy Pacheco ocupou a Cadeira nº 18 da Academia Bonjesuense de Letras, patronímica de Joaquim Padilha Vaz (Pádua Filho)

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