segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Discurso do acadêmico Esio Martins Bastos na Academia Bonjesuense de Letras, sobre a vida de Osório Carneiro

 

Ésio Martins Bastos 



Excelentíssimo Senhor Presidente


Excelentíssimas autoridades presentes


Prezados colegas


Meus senhores e senhoras



Dificuldade, das maiores, se me antolha, neste momento. É que se torna tarefa ingente conseguir, ante tão seleto e culto auditório, empolgá-lo, quando apouca em quem fala, os atributos indispensáveis a esse fim. Procurarei, entretanto, como sempre fiz em minha vida de autoridade, suprir as deficiências com o calor e veracidade dos conhecimentos hauridos na árdua luta do dia a dia e, neste caso particular, auxiliado pela convivência que tive a ventura de manter com o patrono da cadeira que hoje assumo nesta academia - o imortal jornalista OSÓRIO CARNEIRO. 

Traçar o perfil de Osório Carneiro, desse modo, não é cometimento dos mais difíceis apesar de sua personalidade polimorfa, o seu espírito inquieto, insatisfeito, à procura da perfeição e a repercussão e reações oriundas de sua ativa ação jornalística em prol das coisas desta cidade que tanto amou e que adotou como sua, pelo pendor de seu coração. 

Nascido ainda no século passado, precisamente no dia 12 de julho do ano de 1898, na antiga e tradicional Vila de Laje do Muriaé, no Município de Itaperuna, ao qual, à época, também pertencíamos, Osório passou a sua juventude na Zona da Mata, em Minas Gerais, onde, na cidade de Juiz de Fora, ao terminar brilhante curso, recebeu o diploma de Guarda-Livros, como eram designados os Contadores de hoje. Engajou-se, após, na briosa Policia Militar do grande estado montanhês, da qual desligou-se, na patente de segundo sargento, vindo para nossa Bom Jesus, então Vila e sede do 10º Distrito do Município de Itaperuna, isto em 20 de novembro do ano de 1927.

Aqui chegando, Osório Carneiro foi exercer a sua profissão de guarda livros, na tradicional firma Teixeira de Oliveira & Cia. Com a extinção dessa firma, Osório dedicou-se ao magistério, instalando em sua residência uma escola de contabilidade que contou com elevado número de alunos.  

Advindo a Revolução de Outubro de 1930, Osório Carneiro, em virtude de sua condição de segundo sargento da reserva da Policia Militar Mineira, foi designado pelos chefes revolucionários que aqui chegaram, Delegado Revolucionário com jurisdição nesta região limítrofe com amplos poderes.

Terminada a Revolução, foi nomeado Subdelegado de Policia do então 10º Distrito do Município de Itaperuna, cargo que exerceu com eficiência e dedicação até o ano de 1933, quando foi nomeado Fiscal do recém-criado Ministério do Trabalho. Mais tarde foi nomeado Avaliador Judiciário do Estado, cargo em que se aposentou.  

A ação, todavia, que imortalizou Osório Carneiro, a exerceu na imprensa bonjesuense. Depois de fundar e dirigir Bom Jesus-Jornal, "A Voz do Povo" (lª.fase) e "O Momento", que não chegaram a circular, cada qual, mais de um ano, o que bem demonstra a dificuldade de se manter um jornal naqueles tempos - Osório fundou, em definitivo, em agosto de 1933, "A Voz do Povo", que circula até hoje, prestando inestimáveis serviços à comunidade bonjesuense. 

Foi como já disse, no jornalismo, que Osório Carneiro se realizou. Identificou-se de tal maneira ao seu jornal que a "A Voz do Povo era citada e conhecida como "A Voz do Osório". Na verdade, vivia e vibrava com o seu jornal, encetando campanhas que ficaram para sempre gravadas nos anais da história bonjesuense, como as que resultaram na fundação do Centro Popular Pró-Melhoramentos de Bom Jesus e em nossa emancipação política e comarca, só para citar as de maior relevância. 

Conheci de perto o jornalista emérito, conhecedor, como ninguém da profissão, com o qual cheguei a manter polêmicas que ficaram célebres na cidade.

Divergi, e muito, de algumas de suas ideias e iniciativas, mas jamais deixei de reconhecer o valor inconteste e sobremaneira o traço predominante de sua personalidade: que era não guardar rancor, sempre pronto a reconciliação e a estender a sua mão ao seu opositor. Soube pelejar o bom combate.

Além do jornalismo, Osório excursionava, com maestria na poesia, já que era dotado de rara sensibilidade, deixando-nos valiosa produção, inclusive na área satírica. Foi assim, de valor inestimável, o acervo cultural que nos legou Osório Carneiro, que soube como ninguém retratar, nas páginas de seu jornal, durante anos e anos, a história da terra e os costumes de nossa gente, merecendo, por isso mesmo, os aplausos dos seus contemporâneos e o reconhecimento das gerações futuras. 

Foi guarda-livros, mestre, revolucionário, funcionário público, jornalista, homem de pensamento, cidadão prestante e de coração aberto às emoções do cotidiano. Um simples que pela grandeza de sua alma se tornou imortal. Esta a memória que hoje, saudosos, reverenciamos.

Esio Martins Bastos

Bom Jesus, 18-12-77

Nota do jornal O Norte Fluminense: Esio Martins Bastos ocupou a Cadeira nº 27 da Academia Bonjesuense de Letras, patronímica de de Osório Carneiro

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