segunda-feira, 23 de outubro de 2023

VISÃO NOTURNA

 Antonio Francisco Menezes Wanderley



Maior tortura quem sofreu jamais?

Quem tanta dor, quanta eu sofri, sofreu?

Amigos meus, sonhais?

Em dois minutos, quem a tal chegou?


Foi-se Seringe... entanto eu era crente

De nos meus braços tê-la...

Pus-me a segui-la... Alguém mais velozmente

Já viu passar no céu errante estrela?


E a bela, amigos, mal

Sentiu meus dedos roçar touca,

Em verde canavial,

Louca de medo, transformou-se: louca!


E, por vingança, não sabeis? Feliz

Cortei viçosa cana,

Da qual esta flauta fiz.

Ela ao mundo inteiro diz

O que me resta de Seringe insana.


Lamento, agora, seja

Noite ou dia, esse amor perdido.

Tomemos tanto... cada qual que seja 

Seu coração... que o amor que a rir nos beija

É muitas vezes, um amor fingido.


E reembocando a flauta, o deus caprino

Foi pelos montes sua dor cantando,

Deixando imerso, num cismar ferino

Todo o confuso bando.



Nota do jornal O Norte Fluminense: Antonio Francisco Menezes Wanderley foi patrono da Cadeira nº 9 da Academia Bonjesuense de Letras, e progenitor dos poetas Renato Wanderley e Rubem Wanderley, igualmente patronos das Cadeiras números 35 e 37, respectivamente, da Academia Bonjesuense de Letras.

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