sexta-feira, 27 de junho de 2025

WILMA, CORAÇÃO EM ICARAÍ


                      CRÔNICA POÉTICA POR ALBERTO ARAÚJO



O nosso Icaraí não é apenas um bairro — é um estado de alma. E, para Wilma, é muito mais do que isso: é o ninho onde seus sonhos repousaram, onde a memória canta em cada canto da casa, onde o tempo ficou bordado nas paredes.

Hoje, ela está em Teresópolis. As montanhas a abraçam, mas seu coração ainda pulsa no ritmo suave das ondas que quebram na Praia de Icaraí. Foi aqui que ela construiu um lar pequeno e acolhedor — templo de afetos, refúgio dos anos dourados.

É aqui que repousam seus sonhos de juventude. No pequeno lar, seu ninho, ela viveu o essencial: amor, saudade, recomeços. Não precisa ser grande a casa, quando há calor nos gestos e histórias nas paredes.

Foi aqui, em Icaraí, que ela acolheu o nascimento da filha Rosa Rachel, enfrentou partidas doídas de quem amava, e guardou — em silêncio ou em versos — os dias que marcaram sua história. No tempo bom dos anos dourados, caminhava leve pela praia, sentindo a brisa tocar o rosto, como se fosse um aceno do futuro dizendo: viva tudo, guarde tudo.

Ela fala com ternura da Pedra do Índio, da Itapuca, da passagem pelo Palácio do Ingá. Tudo ainda vive nela, como quadros sem moldura, flutuando na memória. E como sente saudade… Mas é uma saudade doce, que não machuca. Apenas faz companhia.

Aos 98 anos, Wilma distribui poesia — talento que herdou do pai, e a gente acredita. Está nos olhos, nas palavras, no jeito de se lembrar. “Queria editar minhas poesias, mas não está fácil… quem sabe mais tarde”, diz com aquele sorriso de quem ainda tem muito a florir.

Entre nós, a poesia foi o caminho. Foi ela quem costurou essa amizade de alma, que atravessa distâncias e se alimenta de palavras, de escuta, de presença sutil. Conversar com Wilma é como abrir um livro escrito à mão: há sempre delicadeza, verdade e um toque de eternidade.

Querida Wilma,

Conviver com você nessa atmosfera poética é um presente.

Com carinho e gratidão,

Alberto – seu amigo de Icaraí.

© Alberto Araújo

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