Há 83 anos, a imagem de Cristo Rei foi levada por Padre Mello à Capela no Monte Calvário |
A festa de Cristo Rei foi criada pelo Papa Pio XI em 1925 e era celebrada no último domingo de outubro.
Em Bom Jesus do Itabapoana, a festa ocorrerá no próximo dia 26 de novembro, sendo antecedida pelo Tríduo, entre os dias 23 e 25.
Esta festa tem contornos históricos em nosso município. Há 83 anos, mais precisamente no dia 4 de fevereiro de 1934, Padre Mello levou a imagem de Cristo Rei para a Capela que leva seu nome, no Monte Calvário.
A solenidade foi grandiosa, como revelam as matérias publicadas a seguir, no jornal A Voz do Povo.
As bandeiras pontifícia, brasileira, portuguesa, italiana, alemã, espanhola e libanesa tremulavam ao lado de um arco triunfal, sob o som da banda Nova Aurora, ocasião em que ocorreu uma salva de 12 tiros.
Vejam, a seguir, as matérias.
Vejam, a seguir, as matérias.
A VOZ DO POVO - 10 de fevereiro de 1934
A FESTA DO CHRISTO REI
Acompanhada de numerosa
procissão a imagem do Redentor foi conduzida ao Monte Calvário.
O dia 4, domingo, foi um dia cheio para o nosso povo católico.
Se o programa elaborado pelo
nosso Ver. Vigário era uma promessa os fatos se realizaram.
Das 9 para as
10 horas Associações religiosas presididas por seu Diretor com a cruz à frente
e uma cauda enorme de fiéis dirigiram-se para o local onde se achava a linda
imagem do Cristo Rei e aguardando a benção. Era na esquina chanfrada do belo
sobrado do sr. Altivo Casemiro, que fizera a oferta da imagem e concorrera com
as despesas por ela ocasionadas na importância de mais de quinhentos mil réis,
conforme nos informaram. Feita a bênção, com solenidade, o sr. Padre Mello,
anunciou que a imagem desde aquela momento se achava habilitada para o culto
público e justificou bem expressivamente o uso das imagens, insistindo que elas
não são ídolos, que a Igreja Católica, começava por obstruir os ídolos pagãos,
não em seus altares ou peanhas mas nas almas dos convertidos.
Após a instrutiva alocução
foi tirada uma fotografia da imagem, que logo em seguida foi transportada para
a Igreja Matriz em um andor especial em forma de trono, artisticamente
executado pelo sr. Alberto Terreni.
A banda de
música Nova Aurora fazia-se ouvir em meio da procissão.
Em seguida foi
cantada a Missa das 10 horas em homenagem ao Cristo Rei.
***
Às cinco horas e meia estava
organizada a Procissão. Um só andor que era um verdadeiro trono, o de Cristo
Rei.
Estandartes em profusão,
distribuídos pelo centro das duas alas do Apostolado, da Pia União, do Círculo
de S. Luiz e da Liga Católica. No fundo o trono ambulante e a Nova Aurora dando
a cadência ao enorme cortejo.
A enorme cauda do povo que
acompanhava atrás da Procissão ainda se acotovelava entre as colunas do Arco e
já a frente se achava no alto do Monte Calvário. Era um belo e estranho
espetáculo!
Quando a imagem entrou no terraplano
do Santuário estrondou uma salva de 12 tiros. A imagem, apeada do belo trono,
foi transportada para o seu nicho preparado no altar com elegância, em cimento.
Antonio Pinto Figueira o fizera com aquele estilo que lhe é peculiar.
Em seguida foram executados
pela Nova Aurora o hino nacional e o hino pontifício, cujas harmonias
entrelaçadas simbolizavam a união da fé católica com a alma brasileira.
Logo que expiraram os
últimos sons naquela atmosfera fresca meio assombreada pela aproximação da
noite o Rev. Padre Mello, de pé sobre o último degrau do alto cruzeiro,
irrompeu em um improviso que transpirava fé, entusiasmo e contentamento.
“Sinto
não possuir neste momento aquele mesmo poder de Josué para mandar parar o sol
que já se esconde por detrás das montanhas. Gozaríeis assim mais longos minutos
as delícias desta montanha, e eu teria mais tempo para expandir as ideias que
me surgem em torno da primeira Carta do Papa sobre o estado mórbido da
sociedade atual”.
Assim
começou o longo e interessante discurso cuja conclusão foi a necessidade de ser
conhecida e acatada a realeza de Cristo.
As últimas palavras do sr.
Padre Mello foram um pedido. (continua)
A VOZ DO POVO - 24
de fevereiro de 1934
AINDA A FESTA DO CRISTO REI
A bela imagem conduzida ao Monte Calvário, naquele
dia, foi oferecida pelo sr. Altivo Casemiro de Campos, que sempre se revelou um
grande amigo de Bom Jesus.
Perdura na memória de todos
os bonjesuenses a brilhante festa do Cristo Rei, quando a sua imagem foi
transladada da residência do sr. Altivo Casemiro de Campos para a Igreja
Matriz, e desta ao Monte Calvário em cujo cimo está sendo erguido o seu templo.
Ainda a
alma católica de Bom Jesus sente os eflúvios daquela tarde magnífica de 11 deste mês, em que,
debaixo de hinos e cânticos, ungido pela fé, conduzido entre preces, ascendeu o
Cristo Rei ao seu trono no Santuário que o gênio e o carinho do Padre Mello
arquitetaram com a solidariedade do nosso povo.
Ao
descrevermos a festividade, tivemos ocasião de enaltecer a valiosa dádiva do
honrado negociante desta praça, sr. Altivo Casemiro.
Hoje,
estampa esta folha alguns aspectos colhidos durante as solenidades e nos quais
se pode aquilatar da pompa de que se revestiram. Ao faze-lo, mostramos
a priori,a religiosidade do nosso
povo e ao mesmo tempo encarecemos o espírito de benemerência do cidadão que, em
boa hora, veio ao encontro dos desejos do nosso reverendíssimo vigário,
ofertando a imagem para o novo culto.
O gesto nobilitante do Sr. Altivo
Casemiro não causou, porém, surpresa a Bom Jesus, que já se acostumou a ver o
nome desse seu digno filho ligado a todas as iniciativas altruisticas, a
concorrer com o seu incentivo para que medrem e cresçam todas as boas idéias
lançadas nesse abençoado rincão da terra fluminense, em que habitamos.
De
fato, raras vezes se encontram cidadãos
tão afeitos à prática de ações meritórias como aquele a quem estamos aludindo
nesta nota. A pobreza da nossa cidade deve-lhe inúmeros benefícios: o nosso
hospital quase diariamente recebe provas das qualidades caritativas do seu
espírito.
E esse benemérito cavalheiro, excessivamente
modesto, não gosta de fazer alarde das boas ações que pratica, seguindo, deste
modo, à regra, o preceito divino que diz dever-se fazer o bem sem olhar a quem.
Costuma-se
dizer que os cometimentos humanos são transitórios; mas o belo gesto do Sr.
Altivo Casemiro ficará eternamente a lembrar-lhe o nome através a posteridade.
E,
lá do cimo do Monte Calvário, dominando as água, as terras e os horizontes, o
Cristo Rei velará pelo povo que, cá em baixo na luta anônima de cada dia, se
eleva pelo Trabalho, pela Perseverança e pela Fé, para um destino melhor.
Dia 11 de fevereiro de 1934 - bênção da imagem na casa do sr. Altivo Casemiro de Campos e transportada para a Igreja em um andor especial em
forma de trono, artisticamente executado pelo sr. Alberto Terreni. A banda de
música Nova Aurora fazia-se ouvir em meio da procissão. Em seguida foi cantada
a Missa das 10 horas em homenagem ao Cristo Rei. (...) Às cinco horas e meia
estava organizada a Procissão.
(...) Ainda a
alma católica de Bom Jesus sente os eflúvios daquela tarde magnífica de 11
deste mês, em que, debaixo de hinos e cânticos, ungido pela fé, conduzido entre
preces, ascendeu o Cristo Rei ao seu trono no Santuário que o gênio e o carinho
do Padre Mello arquitetaram com a solidariedade do nosso povo.
Imagem de Nossa Senhora de Fátima foi levada para a Capela em 1942 |
O historiador Antonio Soares Borges e Marlene Santana, uma das coordenadoras da Capela Cristo Rei |
Foto antiga da Capela Cristo Rei |
A emblemática Capela Cristo Rei, no Monte do Calvário |
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