terça-feira, 29 de setembro de 2020

ACHO TÃO NATURAL QUE NÃO SE PENSE

 



 Acho tão natural que não se pense 

 Que me ponho a rir às vezes, sozinho, 

 Não sei bem de quê, mas é de qualquer cousa 

 Que tem que ver com haver gente que pensa...


 Que pensará o meu muro da minha sombra? 

 Pergunto-me às vezes isto até dar por mim 

 A perguntar-me cousas...

 E então desagrado-me, e incomodo-me 

 Como se desse por mim com um pé dormente...


 Que pensará isto de aquilo? 

 Nada pensa nada. 

 Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem? 

 Se ela a tiver, que a tenha... 

 Que me importa isso a mim? 

 Se eu pensasse nessas cousas, 

 Deixaria de ver as árvores e as plantas 

 E deixava de ver a Terra, 

 Para ver só os meus pensamentos... 

 Entristecia e ficava às escuras. 

 E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu.


 Alberto Caeiro


Enviado por Antonio Soares Borges

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