A exposição "Símbolos Sagrados do Espírito Santo", em cartaz no Salão Paroquial da Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus, não é apenas uma mostra. É história viva. É presença. É fé que respira em formas, cores e memórias, trazida pelos açorianos. É arte de primeiro mundo, com qualidade comparável às exposições dos maiores centros culturais do país.
E, no entanto, não ocupa manchetes, não ganha espaço nos grandes veículos de comunicação. Não importa. Ela não nasceu de interesses comerciais. Ela brotou do coração para o coração, da alma para a alma. É feita de Bom Jesus para Bom Jesus. Uma história narrada para brilhar nos olhos e florescer nos corações dos munícipes: raízes do passado, flores do presente, sonhos do futuro.
Tolstói nos ensinou: “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia.”E esta exposição é, de fato, uma pintura universal.
Sua história é contada a partir de uma feliz união , certamente iluminada pelo Divino Espírito Santo. A família Teixeira, representada pelas irmãs Maura e Maria Bernadete, guardiãs da memória, dos afetos e dos símbolos sagrados da Festa do Divino, oferece seu precioso acervo.
A esse tesouro soma-se o gênio de Raul Travassos, restaurador, músico, artista plástico e um dos maiores cenógrafos do país, criador de cenários para dezenas de novelas da TV Globo, que trouxe também acervo e genialidade.
E tudo se completa com o entusiasmo do pároco Rogério Cabral Caetano, filho da terra, nascido na Usina Santa Maria, que abriu o espaço e estendeu as mãos para o êxito do empreendimento.
A genialidade de Raul se confirma na leitura sensível do açoriano bonjesuista Francisco Amaro Borba Gonçalves ao contemplar, na exposição, a Coroa entre querubins: "A Coroa do Divino elevada ao Senhor pelos Querubins. É uma alusão ao Hino da Alva Pomba:
‘Vinde, oh vinde, entre nuvens de glória,
Entre os anjos e bênçãos de amor!
Entre cantos de eterna vitória,
Que os querubins vos elevam ao Senhor.’”
A exposição possui, entre várias relíquias, a Coroa usada na época de Padre Mello. Maura chamou a atenção também para uma foto: "para quem gosta de história, há uma em que o prefeito Paulo Sérgio Cyrillo foi pajem em uma Festa do Divino".
A Festa da Coroa e do Cetro nasceu em 1863. Foi promessa de fé e esperança. Pelos caminhos de poeira e oração, Dona Jovita e seu Joaquim vestiram de Imperador o pequeno Pedro, em súplica pela saúde do filho. A promessa foi cumprida. E o Divino ficou.
Em 1899, vindo dos Açores, Padre Mello trouxe consigo o hino Alva Pomba. Desde então, a música ganhou asas. Soava nas procissões, entre flores e cânticos, quando o Espírito Santo descia, não apenas dos céus, mas dos corações.
E o Espírito continua a agir. Hoje, pela primeira vez, uma exposição narra com riqueza de detalhes a trajetória da Festa do Divino até os dias atuais, em Bom Jesus do Itabapoana.
Em 2025, o Imperador é Matheus Ferreira Degli Esposti, 14 anos, e o pajem é seu irmão Moisés, de 9.
Seus pais, Wellington Degli Esposti Pereira e Luciana Maria Ferreira da Silva Degli Esposti, são da zona rural de Água Limpa, região que está na direção de quem passa por onde a Festa nasceu em 1863.
A história segue, coroada de fé.
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"A Coroa do Divino elevada ao Senhor pelos Querubins", observação do açoriano Francisco Amaro Borba Gonçalves |
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Relíquia: primeira coroa do Imperador usada na época de Padre Mello |
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Maura Teixeira |
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O prefeito Paulo Sérgio Cyrillo, o 1º da direita para a esquerda, foi pajem em uma Festa do Divino |
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