segunda-feira, 8 de setembro de 2014


FORNO INDÍGENA AGITA BOM JESUS



Dra. Simonne Teixeira e seu retorno a Calheiros, 14 anos depois: destruição parcial do forno colonial

Simonne Teixeira, Doutora em História e Doutora em Filosofia e Letras pela Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha, é especialista em arqueologia pela UENF (Universidade Estadual do Norte Fluminense).

Por intermédio do ECLB (Espaço Cultural Luciano Bastos), através da diretora Paula Aparecida Martins Borges Bastos, ela esteve em Calheiros, distrito de Bom Jesus do Itabapoana, no dia 6 de setembro passado, acompanhada do seu marido, o engenheiro civil espanhol Carlos Camargo, para reavaliar as condições em que se encontram o forno colonial, um bem arqueológico de grande valor histórico, que foi localizado por estudos na década de 1960.

Dra. Simonne foi recepcionada pelo dr. Gino Martins Borges Bastos e por André Luiz de Oliveira, João Luís Carreiro e Eraldo Saluto de Rezende,  membros da Associação dos Amigos do Memorial Governadores Roberto e Badger Silveira, assim como pelo jornalista, locutor e cerimonialista Jailton da Penha.

" O professor Ondemar Dias participou do PRONAPA (Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas), em 1968, que objetivava fazer um levantamento do patrimônio arqueológico no Brasil. Ele fez apontamentos sobre este forno existente em Calheiros", assinalou.

O texto "Notícias preliminares sobre o programa arqueológico do Norte Fluminense", de Alfredo A.C. Mendonça de Souza, do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural e do ISCB, e de César Augusto Lotufo, Joel Coelho de Souza e Murilo Osmar Coelho de Souza, do Centro de Estudos e Pesquisas em Arqueologia Analítica/ISCB-RJ emitiu em 1982 um comunicado à "comunidade científica" sobre os "primeiros resultados colhidos".

Texto preservado no Arquivo do Museu da História Natural, vol. VIII/IX, refere-se ao Forno Indígena de Bom Jesus do Itabapoana  (Acervo da dra. Simonne Teixeira)


Ali é destacado o "Forno Indígena (Bom Jesus do Itabapoana)" que "é uma construção do período colonial, provavelmente destinada à queima de cerâmica, ainda com muitos cacos nas suas proximidades, e que foi descoberto acidentalmente, quando da realização de obras na estrada".

O texto assinala, ainda, que existiria outro forno "pré-cerâmico do interior", sem indicar, contudo, a localização do mesmo.

Dra. Simonne Teixeira: destruir bem arqueológico é crime inafiançável

Segundo Simonne, "em 1998, eu tive acesso a este registro e fiz questão de vir a Calheiros, e constatei que se tratava de um forno colonial, do século XIX, de importante valor histórico. Na época, as pessoas diziam que jogavam entulhos e vidros dentro do forno, pois temiam que as crianças se machucassem brincando dentro do buraco", assinalou.

FOTOS DO FORNO INDÍGENA DE CALHEIROS EM 1998

Seguem fotos tiradas por dra. Simonne Teixeira em 1998, constatando a existência de um forno colonial em Calheiros.

  








Segundo dra. Simonne, "ao retornar a Calheiros, verifico, contudo, que uma parte superior foi destruída e assoreada. É possível, contudo, que a parte do subsolo deste forno esteja intacta, especialmente a câmara de combustão, onde ficavam as peças. Teria de ser feito um trabalho para identificar isso. Em novembro, seria possível realizar esta tarefa, através do método chamado de escavação por decapagem", assinalou.


João Luis Carreiro impediu a destruição total do forno colonial

João Luis Carreiro, líder comunitário diz que foi ele que impediu a destruição do resto do forno: "Uma máquina passou na área e destruiu a parte de cima do forno. Eu disse então que isso era ilegal, pois o forno estava protegido por lei federal".

Dra Simonne estudou fornos indígenas e coloniais do Brasil


Segundo dra. Simonne, "nenhuma olaria no estado é parecida como esta. Em Itaocara encontrei 3 fornos coloniais e, lamentavelmente, um proprietário passou com o trator em cima de um deles, destruindo-o totalmente".

Os fornos realizam queima redutora quando o ambiente é fechado. A queima é oxidante, quando é feita em ambiente aberto, que é o caso do forno de Calheiros.

O tipo de forno daqui indica que se trata de uma construção colonial, uma vez que os indígenas não tinham conhecimento para edificá-lo. A cerâmica nasce da necessidade de se construir louças, tijolos e potes de barro para transportar água. A proximidade do rio faz com que o barro seja farto.

Em Itaocara, os frades capuchinhos foram os primeiros a estabeleceram estes fornos e utilizavam os índios puris para cortarem as madeiras e fazerem balsas, uma vez que estes possuíam habilidades nestes ofícios. Isso ocorreu na região do Itabapoana, do Muriaé, do Paraíba e da Zona da Mata", explica. 


Dra Simonne foi entrevistada pelo jornalista e locutor Jailton da Penha e lamentou a falta de política de proteção ao patrimônio histórico

Dra. Simonne lamenta que não haja no Estado e no município política para valorizar este patrimônio. Disse ela que "temos que valorizar os casarões e as Igrejas, mas valorizar também o trabalho que existiu na sociedade escravocrata. Patrimônio cultural é tudo isso. É importante frisar que tudo o que há debaixo da terra é propriedade da União e destruir objeto arqueológico constitui crime inafiançável".

Dra Simonne finaliza: "É relevante, ainda, ir nas escolas e ensinar as crianças a preservarem o patrimônio material e imaterial. Tudo tem que começar desde criança. Se isso não ocorrer, os adultos não valorizarão este patrimônio. É o que eu chamo de alfabetização cultural".

O ECLB e a Associação dos Amigos do Memorial Governadores Roberto e Badger Silveira agendaram com a dra. Simonne Teixeira sua vinda a Calheiros, no mês de novembro, para a realização da escavação por decapagem, ocasião em que Bom Jesus do Itabapoana e a comunidade científica
saberão se terão motivos para comemorar.


Jailton da Penha, dr. Gino Martins Borges Bastos, dr. Carlos Camargo, dra. SImonne Teixeira, André Luiz de Oliveira e João Luís Carreiro

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