Alunos da 5ª Série, do Centro Educacional Santa Rita de Cássia estiveram hoje, pela manhã, no ECLB (Espaço Cultural Luciano Bastos), comemorando o aniversário de um dos gênios da literatura bonjesuense, o escritor Norberto Seródio Boechat, que ocorrerá amanhã, dia 12.
Na oportunidade, os estudantes se revezaram na leitura da crônica "A Eterna Ausente", constante no livro "LEMBRANÇAS DE ESCRITA", de autoria do mestre, pela Editora Parthenon, que transcrevemos ao final.
Na ocasião, a Editora O Norte Fluminense distribuiu aos alunos exemplares do livro O VÉU DA MANHÃ, de Elcio Xavier, o maior poeta bonjesuense de todos os tempos, e um dos maiores do país, que aniversariou no dia 3 de maio.
Profª Lisângela Nunes da Fonseca Rabelo |
Chamou a atenção, na oportunidade, o vívido interesse dos alunos pela leitura, o que aponta para a construção de uma nova geração culta, à altura das melhores tradições bonjesuenses.
NORBERTO SERÓDIO BOECHAT
A respeito do livro "Lembranças de Escritas", Dalma Nascimento, doutora em Teoria Literária e Literatura Comparada (UFRJ), salienta que " o médico-escritor Norberto Serôdio Boechat foi recolhendo rios de memórias ficcionalizadas nas páginas descritas destas Lembranças de escritas, onde pulsa a vida, mas também lateja o coração."
Olívia Barradas, doutora e professora de Literatura Comparada, Semiótica e Teoria Literária, ex-professora de Literatura Brasileira da Universidade de Paris III, salientou, por sua vez: " Parafraseando o médico baiano Clementino Fraga ao afirmar que 'Medicina é Ciência e também Arte', Norberto Seródio Boechat alia a ciência médica à linguagem artística, despertando com estas Lembranças de escritas a emoção no leitor".
Eliana Bueno Ribeiro, doutora em Ciência da Literatura, pela UFRJ, com pós-doutorado em Literatura Comparada pela Universidade de Paris III, e editora da revista Passages de Paris, salientou, sobre a obra: "Mais feliz, este menino-interiorano-médico-da-cidade chega ao dia da narração. Mais que histórias estruturadas temos aqui cenários e personagens como ínidices de momentos, índices de um tempo e da passagem do tempo. Farpas de madeira que seguem a correnteza e servem como roteiros para que cada leitor viaje até sua própria infância e reencontre os coadjuvanets de sua história particular".
O editor Muro Carreiro Nolasco ressaltou, por sua vez: " As situações aqui registradas nos emocionam, e trocamos de lugar com o pensador ao tentar entender o correr do tempo e as mutações. O autor e os personagens a desfilar histórias... O livro leva a pensar, comove e encanta".
Além de ser considerado uma obra-prima, a capa da obra reproduz aquarela criada pela premiada artista plástica paulistaVeronica Debellian Accetta.
A ETERNA AUSENTE
Década
de 50.
Oito anos.
Estrada Bom Jesus - Vargem Alegre.
Ao voltarmos da cidade, lá estava a
menina na cerca de sua casa, à espera. Diminuíamos a velocidade para vê-la,
infalível, pendurada no cercado do quintal. Segurava-se com a mão direita e
acenava a esquerda.
Loura e branquinha. Muito bonita.
Impossível saber de onde vieram as marcas arianas na garota pobre do barraco
beirando a estrada. Não entendo, também, por que em nenhum momento paramos, por
que não correspondemos num gesto o amor transmitido ao acenar. Creio que em seu
reduzido universo, a busca do momento a impregnava, tornando-a parte de outras
vidas, outras pessoas, do mundo que, então, se desfilava na via solitária.
Ansiava, talvez, por um afeto, um toque junto ao coração.
É provável fosse filha única. Nunca
vimos outra criança ao redor. O que teria sido sua vida entre adultos? Que
mundo encerraria o interior da cabana? Como os pais estariam contribuindo para
o crescimento do ser que fazia daquele instante breve de nossa passagem a
eleição de um acontecimento? Ao respondermos com as mãos, ela sorria feliz.
Passávamos e, ao olharmos para trás, ainda a víamos acenando no meio da poeira
deixada pelo jipe.
Hoje, passada tanta vida — e tão
rapidamente —, pergunto--me, onde estará? Casou-se? Teve filhos? Foi feliz? Tem
um quintal cheio de netos? Morreu? Indagações que no vácuo desse tempo
consumido apertam a garganta, deixam aberta a inútil expectativa de um vir a
saber que não acontecerá... É a resposta que se espera, mas que jamais virá...
Há muito a casa não existe mais. A
estrada, asfaltada e, por isso mesmo, inexpressiva de lembranças, é uma reta
que matou velhas curvas do caminho. A menina foi-se tal qual o pó, tal qual
aquela nuvem de poeira que termina por sobrepor-se às cercas, cobrindo-as de
amarelão pálido, triste, aguardando que a chuva venha e lave tudo.
Não tenho dúvida: a garotinha foi a primeira
mulher de minha vida. Tão absoluta que decididamente inesquecível. Definitiva.
Jamais a tive. Nunca paramos para que eu me permitisse o contato de gente.
Assim, porque não a tive, sempre será indelével imagem, a eterna ausente: mão
movendo-se avidamente como a dizer, por que não parou? Passou e não ficou para
pacificar-me a vida.
(páginas 17/18)
O Norte Fluminense deseja a Norberto Seródio Boechat muitos anos de vida!
Muito lindo!! Grande escritor! Amo ler e me encantei com estas poucas linhas de uma obra que gostaria de ler inteira. Abraços
ResponderExcluirNorberto Seródio Boechat é um grande escritor, desses que enquanto estamos lendo, a emoção aflora, o peito aperta, a curiosidade quer rapidamente a linha seguinte e mais... e mais. Com a mesma intensidade que nos comove em alguns textos, nos faz rir desbragadamente em outros. Isto é para poucos. Nobreza bonjesuense...
ResponderExcluirParabéns, Norberto, e um grande abraço!
Ana Maria