segunda-feira, 17 de agosto de 2020

UMA SEPULTURA PARA WALQUÍRIA, EX ALUNA DO COLÉGIO RIO BRANCO QUE VIROU GUERRILHEIRA

Desde sua fundação, em 1920, milhares de alunos estudaram no Colégio Rio Branco, durante seus 90 anos de existência.

Milhares de alunos. Milhares de histórias.

Uma delas refere-se à de Walquíria Afonso da Costa, que estudou as duas primeiras séries do curso ginasial no "Ginásio Rio Branco" nos anos de 1960 e 1961.

Ela nasceu em Uberaba, no Triângulo Mineiro, no dia 2 de agosto de 1947, e mudou-se para Bom Jesus do Itabapoana pelo fato de seu pai, Edwin Costa ser funcionário do Banco Comércio e Indústria de Minas Gerais.

Mudando-se de cidade, novamente por questão profissional de seu pai, Walquíria posteriormente estudou o Curso de Pedagogia na Universidade Federal de Minas Gerais.

Com o estabelecimento da ditadura Walquíria decidiu ir para a região do Araguaia, no ano de 1971, realizar atividade política com os camponeses.

Decidiu em 1971 partir para outra frente de trabalho político: a luta junto aos camponeses pobres da região do Araguaia.

Depoimento de sua irmã:

Walquíria fez o curso primário na Escola Normal de Patos de Minas/MG, e as duas primeiras séries do curso ginasial, no Ginásio Rio Branco, em Bom Jesus de Itapapoama, Rio de Janeiro.(ressalatado).

Com a transferência de sua família para Pirapora, terminou o ginasial no Colégio Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, estabelecimento dirigido por freiras religiosas.

No período de 1963 a 1965, estudou no Colégio São João Batista, em Pirapora, onde terminou o Curso Normal de formação de professoras, e lecionou em alguns grupos escolares da cidade.

Wal – como era chamada – prestou concurso público para o Estado em 1966 e, nomeada na primeira chamada, transferiu-se para Belo Horizonte, onde passou a lecionar.

Aluna exemplar, ocupando sempre os primeiros lugares nas escolas por onde passou, Walquíria prestou o vestibular para o Curso de Pedagogia, na Universidade Federal de Minas Gerais, classificando-se em segundo lugar.

Freqüentou apenas os três primeiros anos do Curso, quando passou a tomar consciência dos problemas políticos e sociais do País e, em particular, da própria Universidade. Nessa época, Walquíria gostava muito de cantar e tocar violão.

Participou junto com outros colegas da fundação do Diretório Acadêmico da Faculdade de Educação, em 1968. Lutavam pela defesa de interesses estudantis e buscavam o caminho para soluções de questões mais concretas como: cortes de verbas, acordo MEC–USAID, fechamento de restaurantes universitários, Decreto- Lei 477 etc.

As perseguições políticas começaram a se intensificar. O cerco do prédio da Faculdade de Educação, demonstrou um claro desrespeito aos alunos e professores que estavam em seu interior. Intimações para depoimentos no DOPS, muitas prisões, já sob tortura, eram os sinais nítidos do agravamento da situação política.

Nesse período, Walquíria era Vice-Presidente do Diretório Acadêmico.

Walquíria, até então, não havia sido indiciada em nenhum inquérito, pelo DOPS ou por qualquer outro órgão de segurança.

Já prevendo dificuldades futuras e maiores riscos de atuação, decidiu em 1971 partir para outra frente de trabalho político: a luta junto aos camponeses pobres da região do Araguaia.

É importante destacar que nessa mesma época foi procurada por agentes da repressão (DOPS/MG) e teve sua casa invadida sob a alegação de envolvimento em reuniões estudantis.

Walquíria, Walk ou Wal, e seu marido, Idalísio Soares Aranha Filho, ambos filiados ao PC do B, foram viver na região do Gameleira, Sul do Pará.

Fez parte do Destacamento B, comandado por Osvaldo Orlando da Costa, na localidade de Gameleira.

Em julho de 1973, Walquíria foi julgada, à revelia, pela Auditoria da 4ª Região Militar, em Juiz de Fora, mas foi absolvida por absoluta falta de provas da sua atuação política.

Walquíria Afonso Costa foi dada como desaparecida na região do Araguaia, em 25 de dezembro de 1973, onde provavelmente foi aprisionada e morta sob torturas.

‘Os mortos inimigos serão sepultados na selva, após identíficação’: esta recomendação está escrita em farto material das Forças Armadas sobre a segunda fase da Guerrilha do Araguaia em 1972, denominada ‘Operação Papagaio’. Mas até hoje seus restos mortais não foram entregues à família.

Walquíria Afonso Costa – de muitas lembranças e tantas saudades, alta, clara, cabelos castanhos e lisos, rosto ovalado, inteligente e leal é nome da antiga rua 10, no bairro Nova Pirapora, em Pirapora, Minas Gerais, num projeto de lei do Vereador José Carlos Costa.”

No Relatório do Ministério da Marinha consta que “foi morta em 25/out/74”.



 

WALQUÍRIA AFONSO COSTA

Militante do PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PC do B).

Nasceu em Uberaba, Triângulo Mineiro, no dia 2 de agosto de 1947, filha de Edwin Costa e de Odete Afonso Costa.

Desaparecida desde 1974 na Guerrilha do Araguaia quando tinha 27 anos.



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