sábado, 15 de agosto de 2020

ELCIO XAVIER "PRECISA SER LIDO", DIZ MEMBRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS

 ELCIO XAVIER "PRECISA SER LIDO", DIZ MEMBRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS


Adonias Filho


A respeito de Elcio Xavier, o membro da Academia Brasileira de Letras, Adonias Filho, que recebeu o título de imortal pelas mãos de Jorge Amado, escreveu o artigo "Poetas em Primavera": 

Simples o ritmo e a linguagem , marinhista e com o olhar submerso em todas as cores, a poesia desse estreante - sem afetação, sem saltos imprevistos, sem paredes turvas - é, antes de tudo, uma afirmação pessoal. Nâo dcompõe em alicerces de cimento, não quer ser um entendido, mas, de imagem a imagem, robustece a arquitetura da poesia de tal modo que impossível se torna duvidar da sua legitimidade. No conjunto, é uma conifssão. Repercutem, em verdade, numa ternura humana cada vez mais ausente, as palavras que traduzem aspectos claros e refletem as manhãs sem violentá-las nas suas dimensões. Fiel ao panorama, incapaz de mutilar os sentidos para 'pensar a poesia', sua emoção criadora por isso mesmo se irradia, como diria Charles De Bos, e exprime o 'qui est proche de notre âme'.

Nos poemas de 'Velas na Bruma', abertos sobre o mar, o poeta Elcio Xavier, que não se impacienta e não se precipita, consegue quase sempre uma intensidade que, inutilmente, procuro nos seus companheiros de geração. A acuidade vibra acima da contemplação, erguendo os quadros numa gradação admirável. Mas o que verdadeiramente constitui na sua grande poesia o território constante, é a integração de si mesmo em um universo que a todos pertence. Esclarece muito, neste particular, o poema 'Auto-retrato'. E essa integração não se desfaz nem quando se realiza o 'Aparecimento de Ege' - o instante em que o tema eterno, a mulher, se incorpora à poesia.

 Este poeta que, insisto,  precisa ser lido no livro marcante que é 'O Véu da Manhã', não se projeta apenas no lirismo simples, na espontaneidade que denuncia em seus poemas como atos inevitáveis. É também um poeta que penetra na análise, sempre simples e humano, mas investiga aquele subsolo que caracteriza a poesia como uma descoberta. Extraordinário sem a menor dúvida, como se revela e se advinha, e se perdoa. No fundo de sua própria natureza, irmanado ao mundo, em seus poemas que do modernismo só utilizam o instrumental formal. Elcio Xavier é um poeta à margem das escolas e dos grupos. Isolado, porém sua personalidade flagrantemente poderosa nesse livro de estreia, é um poeta que exige atenção".

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