terça-feira, 5 de agosto de 2025

Faróis da Memória

 



Na praça Governador Portela, onde o tempo parece repousar sob as sombras das árvores e o murmúrio das vozes, misturou-se ao sopro da brisa a III FLICBonjê, que floresceu como quem abre um velho livro e reencontra um lar.

Entre mesas com letras, banners e olhares curiosos, brilhou uma luz antiga — aquela que não se apaga com o tempo. Eram os livros da família Teixeira, reluzindo como faróis de memória, guiando os passos dos que buscam saber de onde vieram para entender para onde vão.

Zico Camargo, que nasceu antes mesmo do século acordar, foi mais do que um historiador: foi jardineiro da nossa história. Com mãos pacientes, colheu datas, nomes, gestos, promessas. Fez do seu trabalho um campo fértil onde germinou a identidade de Bom Jesus do Itabapoana. Seu livro — “Bom Jesus do Itabapoana” — não é só páginas: é chão, é raiz, é altar.

Entre tantas histórias, uma pulsa mais forte. A Festa da Coroa e do Cetro, promessa de fé e esperança, nasceu em 1863 e, por quase um século, percorreu caminhos de poeira e oração. Foi por um filho doente que Dona Jovita e seu Joaquim vestiram de Imperador o pequeno Pedro. Uma promessa ao Divino. E foi o Divino que ficou.

Padre Mello, vindo dos Açores, não chegou por acaso. Trouxe, em 1899, consigo o hino, a Alva Pomba, e com ele a música ganhou asas. Cantava-se pelas ruas, entre procissões e flores, enquanto o Espírito Santo descia — não do céu, mas dos corações.

Essa história não se perdeu. Não se perderá. Porque há sempre uma Teixeira para lembrar. Georgina, a Dona Nina, deixou saudades em forma de prefácio e presença. 

As irmãs Maria Bernadete Teixeira e Maria Aparecida Teixeira - netas de Zico - a respeito da origem da Festa do Divino lançaram também o belo livro infantil "Uma História que Ouvi do Meu Avô", dedicado às novas gerações.

Maria Bernadete Teixeira nos encanta ainda com histórias que cabem em mãos pequenas, com perguntas como “Que papelada é essa?” — que, na verdade, são cartas de amor à memória.

Na III FLICBonjê, mais do que celebrar livros, celebramos laços. Em Bom Jesus, somos todos capítulos da mesma narrativa. E a família Teixeira é aquele parágrafo que a gente sempre volta pra reler, devagar, com carinho. Não para entender melhor, mas para sentir mais fundo.

Eles não contam apenas a história. Eles a transformam em eternidade.










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