domingo, 10 de agosto de 2025

Uma Mulher Chamada Lucinha no Museu de Pirapetinga com raízes açorianas

 


Desde 1976, Maria Lúcia Seródio Boechat, a Lucinha, cuida do Museu da Imagem de Pirapetinga de Bom Jesus como quem zela por um relicário de família. Filha de Iracema, poetisa açordescendente, e de Agostinho, líder político de origem suíça, herdou deles o amor pela memória e a força para mantê-la viva.

O museu ocupa um prédio erguido por escravos. Ali repousam peças que falam do passado: instrumentos de ferro que prendiam cativos, uma máquina de fazer briquetes de café, a primeira máquina de freios para pneus pesados criada por Nola Boechat, fotos antigas e árvores genealógicas. Do lado de fora, uma roda d’água restaurada gira como no tempo dos engenhos, a mesma que sua mãe eternizou no livro Paisagens e Perfis e no soneto que Lucinha lê entre lágrimas:

Cessa a jornada. O fim do dia é mudo.

E assim ficamos quietos de repente:

Só as lágrimas caem do olhar da gente...”

Cada visita ao museu é um mergulho em recordações. “O passado é muito importante porque nos faz valorizar a vida”, diz Lucinha, que encontra ali retratos dos pais, da infância e de tudo o que moldou sua história.

A veia literária é herança da família. Norberto, seu saudoso irmão e idealizador do museu, foi médico e escritor com livros que ecoaram até fora do Brasil. O brasão dos Seródio, da ilha de São Miguel, nos Açores, lembra a terra distante que trouxe poesia e cultura para Pirapetinga.

O distrito respira literatura, como evidencia a IV Feira Literária e Cultural de Pirapetinga (FLiCPir) recentemente ocorrida, e que contou com a presença do açoriano Francisco Amaro Borba Gonçalves, encantado com os frutos açorianos no distrito e em toda Bom Jesus. Novos escritores e poetas se despontam no horizonte pirapetinguense, e Lucinha continua no centro desse fluxo de memória, como ponte entre o ontem e o amanhã.

Se em 1983 um texto eternizou a memória de sua mãe, intitulado "Uma Mulher Chamada Iracema", agora é tempo de dizer:

Uma Mulher Chamada Lucinha, guardiã da roda d’água que nunca deixa de girar.














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